tag:blogger.com,1999:blog-385832702024-03-19T03:54:30.584-07:00O Oráculo da MúsicaO MUNDO DA MÚSICA ANTIGA, NO IMAGINÁRIO DO CONDE LOPPEUX DE LA VILLANUEVA. REPERTÓRIO DE MÚSICA MEDIEVAL, RENASCENTISTA E BARROCA PARA OS AMANTES DO PASSADO MUSICAL.Conde Loppeux de la Villanuevahttp://www.blogger.com/profile/03123027651841021079noreply@blogger.comBlogger18125tag:blogger.com,1999:blog-38583270.post-32413495758050479662007-05-29T01:29:00.001-07:002007-05-29T01:31:27.143-07:00Caríssimos leitores!Não tive muito tempo para renovar meu blog. Mas não saiam daí. Continuem acompanhando que, breve, postarei mais histórias e músicas!<br /><br />Abraços a todos!Conde Loppeux de la Villanuevahttp://www.blogger.com/profile/03123027651841021079noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-38583270.post-39041385076130222142007-04-19T09:31:00.000-07:002007-04-28T18:34:33.139-07:00História Trágico-Marítima III: Terra à vista!<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSpksLQyMBosXA-101eBAnkFwLLK9Ymr6SXBXqhJIZSWPwDOzVx0Y72Pq8QbYrZHrdcZFwBAOgVhH6nWihOB-mlFS9w6wKM9h9MVPfjKtOr9RJP02xraWsxtjZbxGRCbugkzrP/s1600-h/naufragio.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5055182359037281858" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSpksLQyMBosXA-101eBAnkFwLLK9Ymr6SXBXqhJIZSWPwDOzVx0Y72Pq8QbYrZHrdcZFwBAOgVhH6nWihOB-mlFS9w6wKM9h9MVPfjKtOr9RJP02xraWsxtjZbxGRCbugkzrP/s320/naufragio.jpg" border="0" /></a><br />Quando Vasco da Gama chegou, em 1499, Dom Manuel, encantado com as notícias da viagem, idealizou uma nova viagem para as Índias. Ordenou uma nova frota, a maior armada até então organizada pelo reino português e escolheu o homem que lideraria a empreitada: <strong>Pedro Álvares Gouveia, conhecido posteriormente como Cabral.</strong> Em carta régia, assinada no dia 15 de fevereiro de 1500, o Rei de Portugal manda as seguintes investiduras ao nobre, para liderar a nau-capitânia:<br /><br /><strong><em>“(...)Fazendo vós a saber, capitães, fidalgos, cavaleiros, escudeiros, mestres e pilotos marinheiros e companhia e oficiais e todas as outras pessoas que aqui enviamos na frota e armada que vai para a Índia, que nós, pela muita confiança que temos em Pedrálvares de Gouveia, fidalgo de nossa Casa, e por conhecermos dele que nisto e em toda outra coisa que lhe encarregamos nos saberá muito bem servir e nos dará de si muito boa conta e recado lhe damos e encarregamos a Capitania Mor de toda a dita frota e armada. (...)Cumprais e façais inteiramente seus requerimentos e mandados assim e tão inteiramente e com aquela diligência e bom cuidado que de vós confiamos e o faríeis se por nós em pessoa vos fosse dito e mandado, porque assim o havemos por bem e nosso serviço e aqueles que assim o fizerem e cumprirem, nos farão nisso muito serviço. (...) Dada em nossa cidade de Lisboa aos 15 dias do mês de fevereiro. Antonio Carneiro a escreveu no Ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil e quinhentos”.<br /></em></strong><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-QhJjg757McwTmYBtsxm-ZJYQ8iJuR0wmIxDRy0nYzCnVEP4mfSGlwqSMwBxWRzJNpyxz0ayOKDGuTStgI-xdLBIQyeJv0hnoGXn4CVWK2aaDU7argT3HAhtOwylwEWHF2ZDI/s1600-h/cabral.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5055180585215788562" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-QhJjg757McwTmYBtsxm-ZJYQ8iJuR0wmIxDRy0nYzCnVEP4mfSGlwqSMwBxWRzJNpyxz0ayOKDGuTStgI-xdLBIQyeJv0hnoGXn4CVWK2aaDU7argT3HAhtOwylwEWHF2ZDI/s200/cabral.jpg" border="0" /></a>Pedro Álvares Cabral nasceu provavelmente, em 1467 ou 1468, em Belmonte, filho de uma nobre fidalguia, que remonta a Álvaro Gil Cabral, cavaleiro que lutou bravamente contra os castelhanos, ao lado do Mestre de Avis, como alcaide-mor do Castelo da Guarda. Na verdade, os Cabrais nasceram neste castelo e era uma linhagem de guerreiros servidores da Coroa. Tais serviços deram direitos hereditários para que a família possuísse os títulos de senhores de Azurara e do Castelo de Guarda e Belmonte. Um ancestral do navegador, o bispo de Guarda Gil Cabral, casou secretamente os amantes Dom Pedro I, rei de Portugal e Inês de Castro. E em nome disso, a sobrinha do bispo, Maria Gil Cabral, herdou todos os bens que o rei deixou ao eclesiástico. O pai de Pedro Álvares Cabral, Fernão Álvares Cabral, o <strong><em>“gigante da Beira”,</em></strong> era Cavaleiro da Ordem de Cristo e serviu o infante Henrique nas batalhas ao norte da África. A fama de <strong><em>“gigante”</em></strong> era devido a uma peculiaridade da família dos Cabrais: <strong>eram homens altíssimos, de dois metros de altura. </strong>Isso era assustador para a época, já que a grande maioria dos portugueses do século XV mal chegava a um metro e meio de altura. Era o segundo membro da família, e como tal, não herdara o nome dos Cabrais, sendo batizado, primeiramente, como Pedro Álvares Gouveia, sobrenome materno. O morgadio pertencia a seu irmão, João Fernandes Cabral, herdeiro do nome da família.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNk4qpVXcsoPcGb8Yeh5rUgRIhnDHLrP6C-kI838iw4etl8_wjO2ln3xJSNEkvrQp7Zid2aHQBSCRBHas2-ZAGp1rrxIfKNbvels77vcRmWsesLkHJnOFdT9LTyAg4qg-MJfv7/s1600-h/belmonte.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5055180035459974642" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNk4qpVXcsoPcGb8Yeh5rUgRIhnDHLrP6C-kI838iw4etl8_wjO2ln3xJSNEkvrQp7Zid2aHQBSCRBHas2-ZAGp1rrxIfKNbvels77vcRmWsesLkHJnOFdT9LTyAg4qg-MJfv7/s320/belmonte.jpg" border="0" /></a>Belmonte não passava de uma cidade sonolenta, com apenas cem habitantes, quando adolescente, Pedro Álvares Gouveia foi mandado para a Corte, em Lisboa, estudar literatura, história, ciência, marinharia e artes militares. Na prática, os fidalgos da terra eram apresentados ao rei, em busca de fama, glória, sucesso e mesmo formar quadros militares e políticos para a monarquia. Em 1484, foi apresentado, junto com mais cinqüenta jovens, como <strong><em>“moço-fidalgo”</em></strong> da Corte, recebendo uma tença real pelos estudos e pelo rígido treinamento militar.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoX6o-M1TdgywsHPf3e9mDvhQ15o5bN8ejkaHIPqdvI_RNrxYvvTf3QGpVUl4EqCAvwlpiCfZllIPGHG_04EEs5QRhR8fT8NI9AEybnqYycSfgvSeem_FB9rtRtpPK286Xu1-l/s1600-h/imagomundi.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5055181010417550882" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoX6o-M1TdgywsHPf3e9mDvhQ15o5bN8ejkaHIPqdvI_RNrxYvvTf3QGpVUl4EqCAvwlpiCfZllIPGHG_04EEs5QRhR8fT8NI9AEybnqYycSfgvSeem_FB9rtRtpPK286Xu1-l/s200/imagomundi.jpg" border="0" /></a>Foi nesta época que Pedro teve contato com a literatura náutica de seu tempo: era amigo do sábio e polido astrônomo judeu Abraham Zacuto, como de outros estudiosos hebreus de renome do reino. O <strong><em>“Almanaque Perpétuo”</em></strong> era livro de cabeceira dos interessados em ciências náuticas, já que descrevia as tabelas de posição do sol durante todo o ano e era um conhecimento perfeito para quem se interessasse por navegação. Ademais, os Cabrais tinham sólidas ligações com os judeus, já que em na sua cidade natal, existia uma pequena comunidade de <strong><em>“judiaria”,</em></strong> que praticava livremente sua religião e tinha grande amizade com o pai do fidalgo, Dom Fernão, o senhor alcaide das de Belmonte e Azurara. Pedro lia as grandes obras sobre navegação marítima: <strong>Imago Mundi, compilação de estudos gregos, latinos e árabes organizada pelo Cardeal Pierre D´Ailly no inicio do século XV, uma obra de geografia muito cultivada entre os portugueses.</strong> Aliás, o Imago Mundi possuía teorias de fundo astronômico, que precipitariam os estudos posteriores de Nicolau Copérnico, já que teorizava os movimentos de rotação do planeta Terra sobre si mesmo. Isso porque, ao contrário do mito comum sobre a Idade Média, a obra já descrevia a esfericidade da Terra. Comenta-se que em Portugal, a obra era disputada pelos estudantes fidalgos, já que havia uma rara edição veneziana na biblioteca de Alcóçava. Os relatos de Marco Pólo sobre a China eram outra literatura que encantava os portugueses e era comentado entre os estudiosos professores e sábios das escolas fidalgas e universidades. Em 1487, Pedro Álvares foi elevado a Escudeiro Real e, para receber o batismo de fogo, foi enviado em combate ao Marrocos, contra os mouros na praça de Ceuta ao norte da África. Depois de uma sangrenta peleja contra os infiéis islâmicos, em uma missa especial, fora agraciado cavaleiro pelo Bispo Dom Diogo, na mesma cidade, e preparou-se para os rituais de iniciação na Ordem de Cristo. Vestido com a manta branca, Pedro, como de costume, recebe um leve golpe de espada no pescoço e é outorgado com o título de cavalaria. Em 1492, morre-lhe o pai, Dom Fernão, e seu irmão mais velho, João Fernandes, adquire o nome dos Cabrais, os títulos de senhor de Azurara e Belmonte, enquanto Pedro herda terras em Santarém. Embora isso não fosse comum, já que o primogênito poderia reivindicar direito a todas as propriedades, a família Cabral era bastante unida, e os numerosos irmãos dividiram a partilha. Em 1494, é elevado, finalmente a Cavaleiro da Ordem de Cristo.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtNBhOKTAz1ui0sw4O6lXZIPzfIIItLIPkafirBGFg4lf4sdsSE6cPCzvarvkvxu-r_OGoAISbIBX5NXucs0y-7rkzd4tdoTyzO1cl0iw73U8s5fNiz8WL_wjMdXlI1zV3E8kw/s1600-h/ordemdecristo.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5055182762764207698" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtNBhOKTAz1ui0sw4O6lXZIPzfIIItLIPkafirBGFg4lf4sdsSE6cPCzvarvkvxu-r_OGoAISbIBX5NXucs0y-7rkzd4tdoTyzO1cl0iw73U8s5fNiz8WL_wjMdXlI1zV3E8kw/s320/ordemdecristo.jpg" border="0" /></a>Há de se fazer um adendo a essa questão:<strong> a Ordem de Cristo foi fundada em 15 de março de 1319, a pedido do rei português Dom Dinis, pela bula papal de João XXII, Ad ae Exquibus.</strong> Na prática, a Ordo Militae Jesu Christo era uma refundação da antiga Ordem dos Templários, ordem militar medieval fundada em Jerusalém, por nove cavaleiros francos, entre os quais, Hugo de Payens, em 1118, com o intento de proteger os peregrinos nas viagens da Terra Santa. Seu nome <strong><em>“templário”,</em></strong> diz respeito à sua localidade, nas ruínas do templo do Rei Salomão, nas cercanias da cidade sagrada. Eram verdadeiros monges armados, que faziam votos de pobreza e celibato e se tornaram o braço armado da Igreja. Embora se declarassem os <strong><em>“pobres soldados de Cristo”,</em></strong> durante dois séculos, os templários se tornaram uma das ordens mais poderosas, senão a mais poderosa da Europa. Ainda no século XII, a Ordem dos Templários tinha isenção de obediência de qualquer episcopado e era um órgão totalmente independente de reis e bispados, sendo ligado diretamente ao papa.<br /><br /><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5055183114951525986" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgf6fW_bg0vCXlcqM1P70Qp3pwYPMOggRc-Tc3a_UVlX6uPpd-7x_IvPO9qKI2ctPRKDkTRh3ZtT4hw-OcqJk2ITcXBF8GHHPYxNZSfc7p7bef9FMn905Vb2bZ-Eu6QvSbftEqJ/s320/Templarsign.jpg" border="0" />Eles, provavelmente, foram os precursores, junto com os prestamistas judeus, do sistema bancário europeu. Só que a diferença estava na eficiência e versatilidade dos nobres templários, já que não sofriam as mesmas restrições civis dos usurários hebreus e tinham um complexo econômico de terras e dinheiro, que compreendiam Portugal, Espanha, França e uma boa parte da Europa. Emprestavam dinheiro a reis e senhores feudais e cobravam juros. Afirma-se, também, que foram empreendedores da conta-corrente e remessa de dinheiro no continente. Uma casa templária, ao transferir dinheiro de uma cidade para outra, evitava, assim, o roubo nas estradas, relativamente comum naquelas épocas. Um burguês ou nobre poderia colocar uma quantidade de ducados de ouro na Espanha e transferir na França, sem precisar levar o dinheiro. Bastava que depositasse em conta-corrente na Espanha, enquanto um cavaleiro da ordem ia direto na França, avisar à outra sede da ordem para liberar o dinheiro.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9NLJQUMS6BjhN_j8FnnEiXZcC2i7dwxdNLWfBzojwMQzrRCKsRxsDVNHScqd_2GH1AulNMSP_3JNPFbh_nGhlAZlLbZtX4op3ZrKCuJZ0rokZMlFyYg8vw66ZIdqMQ3jfsHqD/s1600-h/felipe+o+belo.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5055183591692895858" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9NLJQUMS6BjhN_j8FnnEiXZcC2i7dwxdNLWfBzojwMQzrRCKsRxsDVNHScqd_2GH1AulNMSP_3JNPFbh_nGhlAZlLbZtX4op3ZrKCuJZ0rokZMlFyYg8vw66ZIdqMQ3jfsHqD/s200/felipe+o+belo.jpg" border="0" /></a>No final do século XIII, um rei começou a temer e invejar o poder dos templários: <strong>Felipe IV, o Belo, rei da França. </strong>Homem belo, ambicioso, tirânico, ardiloso e cínico, ao desejar tributar os eclesiásticos e mesmo endividado com Roma e os templários, por causa das guerras do reino, começou a hostilizar o papa Bonifácio VIII. O rei se recusa a pagar impostos a Roma e ameaça o clero francês, confiscando terras, tributando os eclesiásticos e mesmoencarcerando-os. O papa publica uma bula papal, Unam Sancta, em que reivindica a supremacia do poder espiritual da Igreja sobre o poder temporal dos príncipes. No entanto, emissários do rei da França vão a Roma e prendem Bonifácio VIII, que é torturado a mando do rei. Vitima de maus tratos, quando é libertado, em 1304, o papa acaba por falecer. Então Felipe prepara um golpe que abalaria o mundo medieval: <strong>mediante chantagem, ameaças de violência e corrupção, elege um cardeal de sua confiança, Bertrand de Gouth, um clérigo inescrupuloso, como papa Clemente V. </strong>Os tumultos na Itália, com uma população indignada com a intervenção do exército do rei francês no papado, convenceu a Felipe a transferir o papado. Não somente elegeu um papa sob sua outorga, como instituiu a sede papal para Avignon, em 1309, afrontando a tradição papal romana. Avignon não pertencia ao reino francês, e sim território do rei da Sicília. Porém, o rei da Sicília sofria as influências do reino francês e estava nas mãos de Felipe IV.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiL0d7NaqQguskQAjVAo8FaXKlP0OJVfJruhUWqzMkhfCZotX2_1i99GDB4t2EYAi1MXx7cAMfJNxpWJYevGAawMWJ6En5sMMrlRomtL8fLffQcp0j0LqX3FkfTDiK4Ty9Cv0D3/s1600-h/execuçãotemplário.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5055183900930541186" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiL0d7NaqQguskQAjVAo8FaXKlP0OJVfJruhUWqzMkhfCZotX2_1i99GDB4t2EYAi1MXx7cAMfJNxpWJYevGAawMWJ6En5sMMrlRomtL8fLffQcp0j0LqX3FkfTDiK4Ty9Cv0D3/s200/execu%C3%A7%C3%A3otempl%C3%A1rio.jpg" border="0" /></a>Isso deu poderes ao monarca de conspirar e destruir a Ordem dos Templários na França. Em 1307, os cavaleiros templários foram presos, e mediante horríveis torturas, acabaram forçados a assumirem culpas que não tinham: <strong>sodomia, idolatria, apostasia.</strong> No concilio de Viena, entre 1311 e 1312, a ordem templária foi extinta e posteriormente a maioria dos cavaleiros foi executada na fogueira. Jacques De Moley, o último grão-mestre templário, também foi barbaramente torturado e morto na fogueira, em 1314. Contudo, a Ordem dos Templários fincou suas raízes e sua riqueza vultosa nas terras lusitanas. Muito se discute sobre os tesouros da ordem, já que várias lendas foram criadas a respeito de seu destino. Mas é certo afirmar que a Ordem de Cristo, tal como a sua antiga similar francesa, era muito rica e, posteriormente, bancou uma boa parte dos empreendimentos marítimos do século XV. </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-TJszc4bxYGTYLKD_NH9P17prfxZBeurRwJJnjPgzX05mFcLmmnijcsMmX0hZPqon5xGVHDaGpgQ1QnUYptOWtJ-cg6KUUrXB1Hv1yGf6HUIcIFCAdVQJ37xGnjHkRsrs5dou/s1600-h/rotunda.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5055184420621584018" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-TJszc4bxYGTYLKD_NH9P17prfxZBeurRwJJnjPgzX05mFcLmmnijcsMmX0hZPqon5xGVHDaGpgQ1QnUYptOWtJ-cg6KUUrXB1Hv1yGf6HUIcIFCAdVQJ37xGnjHkRsrs5dou/s200/rotunda.jpg" border="0" /></a>De fato, uma boa parte dos bens dos templários, em Portugal, viraram propriedades da nova Ordem fundada pelo rei Dom Dinis. O antigo convento de Tomar, sede da ordem templária, e sua cúpula, assim chamada a <strong><em>“Rotunda”,</em></strong> tornou-se sede da recém-fundada portuguesa. O rei Dom Manuel e demais reis portugueses, em suas audiências, costumava reunir os fidalgos em Tomar, organizando, junto com o mestre da ordem, complexos rituais de iniciação dos novos moços-fidalgos. Mesmo as regras internas da ordem, inspirada nos monges cistercienses e beneditinas, eram as mesmas da Ordem templária. No século XIV, as regras severas de votos de castidade foram abandonadas e os fidalgos poderiam se casar. Pedro Álvares Cabral era filho dessa ordem. Como as velas encorpadas das naus e caravelas portuguesas, com suas cruzes, não negavam às origens de seu empreendimento e patrocínio.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibh4o7_7MF0qsNRgPAmmq8yyX6So3KmCHSSCVnjdmOmopAX297NNzSN0Vi5P89wE8nc4Kfg07u1IAgRo024CCgz_0GWKZSf0gc5-MxIuwkiieHnyxJv5VbtyiMMBXGIbzy93K-/s1600-h/naviosdeguerra.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5055184927427724962" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibh4o7_7MF0qsNRgPAmmq8yyX6So3KmCHSSCVnjdmOmopAX297NNzSN0Vi5P89wE8nc4Kfg07u1IAgRo024CCgz_0GWKZSf0gc5-MxIuwkiieHnyxJv5VbtyiMMBXGIbzy93K-/s320/naviosdeguerra.jpg" border="0" /></a>No domingo do dia 8 de março de 1500, depois da missa na Ermida de São Jerônimo e da procissão dos cavaleiros, junto com o séqüito do rei, treze navios, dez naus e três caravelas, a maior frota portuguesa formada para atravessar as Índias, esperavam o capitão-mor Pedro Álvares e mais seus pilotos. Cerca de mil e quinhentos homens acompanhariam a armada. Pedro acabara de receber o estandarte da Ordem de Cristo em mãos e bênçãos do próprio rei. A população esperava na praia do Restelo, na beira do Tejo, na expectativa de saída das naves. Músicas eram tocadas e um povo saudoso jorrava lágrimas de despedida. Os próprios pilotos estavam apreensivos, pois deviam aproveitar as direções das ventanias de março, para que a frota zarpasse, sob pena de perder sua temporada e iniciar toda a trajetória, só no ano seguinte. No entanto, os ventos não ajudaram no dia e a tripulação passou a madrugada inteira esperando, até que só no amanhecer do dia 9 de março, é que conseguiram navegar Tejo abaixo, até chegar ao Atlântico. As doze naves passaram mais de um mês em alto-mar, até chegar às terras do Brasil. Embora tivesse sido uma viagem relativamente pacífica, as calmarias do mar assustavam tanto quanto as tempestades. Os navios ficavam paralisados, boiando de um lado para outro, numa imensidão terrível de águas, sem movimentação e isso entediava toda a tripulação. Por vezes, como faltava, às vezes, comida e água, tripulações inteiras morriam de fome nos navios. No dia 9 de abril de 1500, os portugueses passaram pelo Equador e realizaram seu domingo de Páscoa, quando se encontravam a 250 quilômetros da costa brasileira. Dias depois, encontram algas marítimas, os <strong><em>“botelhos”,</em></strong> e pássaros vindo da região onde se direcionavam, sinais de terras à vista. Na tarde do 22 de abril, aportam em Monte Pascoal, no Brasil.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNHGIB2nbquZSUHYW-gwQX0NQ1MTkIwE3pxcu2BffPfVfq0wLpH-5QPA5W87cQLZc_yj7O0hHuUl-anRNqXt1linWj7puPz9y6TgYyNPyjC6S39i-Ab33tumaRMQOKeNyKJopA/s1600-h/chegada.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5055185279615043250" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNHGIB2nbquZSUHYW-gwQX0NQ1MTkIwE3pxcu2BffPfVfq0wLpH-5QPA5W87cQLZc_yj7O0hHuUl-anRNqXt1linWj7puPz9y6TgYyNPyjC6S39i-Ab33tumaRMQOKeNyKJopA/s200/chegada.jpg" border="0" /></a>O impacto da natureza brasileira e dos homens que os lusitanos encontraram nas praias é um dos mais impressionantes choques culturais que se há notícia. Depois de uma reunião entre os capitães da tripulação, os portugueses desceram dos seus batéis para a terra firme e encontraram indivíduos morenos, nus, armados de setas e flechas, que falavam línguas estranhas e eram irreconhecíveis para os europeus sob todos os aspectos. Nicolau Coelho, um dos capitães da armada, pediu para que baixassem as armas e jogou chapéus e gorros para os nativos. Os mesmos retribuíram jogando cocares e colares de penas aos portugueses. Gaspar da Gama, o velho judeu protegido de Vasco da Gama, e o <strong><em>“língua”</em></strong>, o tradutor da frota, tentava falar árabe, hindu e outros demais dialetos sem sucesso. Dois dias depois, os portugueses detiveram dois nativos da terra e os levaram até ao capitão Pedro Álvares. Eles ficaram contemplativos, observando os portugueses, suas roupas, seus objetos de ouro. Assustaram-se quando viram uma galinha no convés; quando beberam vinho, cuspiram. E no final, acabaram por adormecer no assoalho. Os portugueses pegaram um cobertor e abrigaram os índios.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2RRtQJg5_YL418qSVXpvT4XlI9ZhtGZwvOAn_7MSCPAZLzds4lc-UBEYH4fqIUYyK4aPvuiUKCiP3e4fkn3XmpilqyMkVPawhZBgwUUNDKhBCB5WKIKoyQLOhVkFJciqwGC6b/s1600-h/indios.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5055185769241315010" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2RRtQJg5_YL418qSVXpvT4XlI9ZhtGZwvOAn_7MSCPAZLzds4lc-UBEYH4fqIUYyK4aPvuiUKCiP3e4fkn3XmpilqyMkVPawhZBgwUUNDKhBCB5WKIKoyQLOhVkFJciqwGC6b/s320/indios.jpg" border="0" /></a>Um brilhante narrador desta história, o escrivão Pero Vaz de Caminha, mostra essa impressão mútua entre os portugueses e nativos, posteriormente chamados <strong><em>“índios”.</em></strong> Caminha era filho de uma burguesia enriquecida e nobilitada, descendente de uma cepa de cartorários e homem de grande educação humanística. Descreve-os da seguinte maneira: <strong><em>“ E tomou uma almadia dous daqueles homens da terra, mancebos e de bons corpos(...) A feição deles e serem pardos, maneira d’avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos..." </em></strong>Se os portugueses tiveram impacto no contato com os primeiros <strong><em>“selvagens”,</em></strong> a Europa inteira, anos depois, deliciou-se com este retrato idílico da humanidade primitiva, fora das vilezas da civilização. Thomas Morus, na literatura, recriou a Utopia, através de relatos portugueses. Na verdade, até o personagem principal da história, Rafael Hitlodeu<strong><em> (ou, no grego, “aquele que conta disparates”)</em></strong> é um navegante português. A mesma impressão teve Montaigne a respeito dos índios brasileiros capturados pelos franceses, e levados ao porto de Havre, na Normandia, por volta de 1550. Enfim, a idéia mítica do bom selvagem contagiou o mundo europeu, durante vários séculos!<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidUeX5fMtCsBViSxUv5XzEjQ1Z0i7r0b3oGjZPrWVQBUG7Ig8H6g7pGXLDhETXTux7MEBZ811Vqpi0niQZyyDSGn1rqrQxayYyRGWEq82KpIPXLW66V7sVhQhJmSFsnJIC183P/s1600-h/primeiramissa.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5055186147198437074" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidUeX5fMtCsBViSxUv5XzEjQ1Z0i7r0b3oGjZPrWVQBUG7Ig8H6g7pGXLDhETXTux7MEBZ811Vqpi0niQZyyDSGn1rqrQxayYyRGWEq82KpIPXLW66V7sVhQhJmSFsnJIC183P/s200/primeiramissa.jpg" border="0" /></a>No domingo do dia 26 de abril de 1500, Pedro Álvares mandou criar um altar para a missa em terra firme. Era a primeira missa no Brasil, ministrada pelo Frei Henrique de Coimbra. Os nativos ficaram espantados com aqueles complexos rituais em latim. À tarde, os portugueses começaram a tocar música, junto com os índios. No dia seguinte, 27 de abril, os portugueses foram fazer aguada na praia e trocaram seus tradicionais gorros vermelhos de marujos, por cocares, arcos e flechas e papagaios e araras graciosas. Cabral, em sua carta a Dom Manuel, batizou a terra de <strong><em>“Vera Cruz”.</em></strong> No entanto, Dom Manuel ficou insatisfeito com a denominação, porque lembrava a cruz de Marmelar, em que se dizia, o pedaço da cruz de Cristo foi posto na relíquia. Batizou a nova terra de <strong><em>“Santa Cruz”.</em></strong> Porém, muitos portugueses se referiram à terra <strong><em>“achada”</em></strong> como <strong><em>“dos papagaios”</em></strong>, em alusão aos animais. Muito posteriormente, em alusão ao pau-brasil abundante naquela terra e, mesmo à lenda medieval da Ilha do Brasil, a terra foi assim nomeada.</div><div align="justify"><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhM5LLeQZ9md430Be-Q4Rl1GrFeTRXpCIt8ky9j1Ghl1yV3cGWZyhxfvWiUK4dfRlDClUg4JWQPDa4Dh2M0y4ft5R2NGV6ov_7a_D_kAftkdQc2yn4tDzzjzZWyliHkZI2Ht2EA/s1600-h/cruzeiro_sul_.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5055186808623400674" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhM5LLeQZ9md430Be-Q4Rl1GrFeTRXpCIt8ky9j1Ghl1yV3cGWZyhxfvWiUK4dfRlDClUg4JWQPDa4Dh2M0y4ft5R2NGV6ov_7a_D_kAftkdQc2yn4tDzzjzZWyliHkZI2Ht2EA/s200/cruzeiro_sul_.jpg" border="0" /></a>Na noite do dia 27 de abril, o sábio mestre João Faras, astrônomo e matemático, um judeu cristão-novo, tal como Gaspar da Gama, observava os céus escuros do Brasil, quando descobriu o <strong><em>“cruzeiro do sul”</em></strong>, uma constelação vista nos céus do sul do Equador. Na realidade, a descoberta do cruzeiro do sul deu incremento revolucionário a tecnologia náutica portuguesa, já que a estrela do norte, que era o guia fixo para os navegadores identificarem sua posição através das estrelas, não era visto ao sul do Equador. E uma carta a Dom Manuel, João Faras chega a rascunhar cinco pontos, formando uma cruz, e descrevendo a sua descoberta. No dia primeiro de maio de 1500, Cabral mandou erguer uma enorme cruz para fazer sua última missa naquela terra. Os lusitanos fizeram uma verdadeira procissão, com estandartes do reino e da Ordem de Cristo e, acompanhado dos índios, os cerca de mil e quinhentos tripulantes das naves se despediam do lugar. Até hoje se discute as reais intenções dos portugueses, ao explorarem o território do Brasil. Uma boa parte dos historiadores concorda que o <strong><em>“achamento”</em></strong> do Brasil não foi ocasional, foi planejado para fincar o domínio português, dentro do Tratado de Tordesilhas. A ausência de fincar um padrão de pedra, conforme era tradição entre os navegantes portugueses, no sentido de afirmar que aquela terra já tinha dono, presume-se que os lusitanos já tinham consciência da existência dessa terra. A gigantesca cruz, se servia para algo, era para dizer que os portugueses apenas confirmavam aquilo que consideravam seus.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZ0mJBnKBxDmaeO7jidtbqyHUkKQaX0IDTZAVwZXJE3Vp00SbkHw6bB7ec0jasUW9dr3qVQHuibhqmjx1Tau8q_6Tt8UZ2MX9RnrWsYZ17leY5QFlH7KehQoE5SwoiFhFDc_P_/s1600-h/cabotormentoso.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5055187435688625906" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZ0mJBnKBxDmaeO7jidtbqyHUkKQaX0IDTZAVwZXJE3Vp00SbkHw6bB7ec0jasUW9dr3qVQHuibhqmjx1Tau8q_6Tt8UZ2MX9RnrWsYZ17leY5QFlH7KehQoE5SwoiFhFDc_P_/s200/cabotormentoso.jpg" border="0" /></a>Dois dias depois, partiram, em direção às Índias, para enfrentar as provações do Cabo da Boa Esperança, na atual África do sul. Uma nau, a de mantimentos, guiada por Gaspar de Lemos, foi mandada pra Portugal, com arcos, flechas e estoques de pau-brasil, encontrados no litoral, e mesmo um índio tupiniquim, que foi apresentado às cortes de Lisboa. As cartas dos pilotos, de Pero Vaz de Caminha ao rei, como outras, de marujos que escreviam para suas famílias, seguiram viagem para a terra natal. E o resto seguiu viagem. Descendo mais ao sul, chegaram no cabo tormentoso no dia 23 de maio e foram vítimas de uma tempestade. As crônicas da época comentam que as ondas eram tão altas, que os navios quase voavam pelos mares e os céus negros e fechados apavoravam os tripulantes portugueses, que oravam a Deus e aos santos, para escapar daquela situação. Dizia-se que o ranger da madeira dos cascos dos navios, como se ameaçasse arrebentar, deixaram os marujos consternados. E ocorreu a tragédia: <strong>as naus de Aires Gomes, Simão de Pina e Luis Pires, capitães de Cabral, foram engolidos pelo mar, levando mais de trezentos homens.</strong> O destino não poderia ser mais paradoxal: <strong>a caravela de Bartolomeu Dias, o primeiro homem que atravessou o Cabo Maldito, em 1488, naufragou, junto com mais de oitenta homens.</strong> Depois da morte de quase metade da tripulação, dos treze navios, só restaram sete e em 16 de julho, e eles chegaram a ilha de Quiloa, no Quênia, com as naves avariadas e a população esgotada psicologicamente. Prosseguindo viagem, a nau de Diogo Dias, irmão de Bartolomeu, se desgarrou da frota e foi parar no Oriente Médio, pelo Mar Vermelho. Em final de julho, passou por Sofala e não foi bem recebido pelo xeque local, e no dia 2 de agosto, chegou a Melinde. Lá foi bem recebido pelo chefe local e um piloto hindu o guiou até as Índias. Na noite do dia 13 de setembro de 1500, Cabral e sua alquebrada frota chegam a Calicute, na Índia.<br /><br /><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5055188762833520402" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZJJBsEaIqrDf812niyaWo9awz0NKoJFZQDS0iX21jbhaGQXP9v4iCOGgHqgdXXrXYSB5Un6alXBVV38I3lqq0MmINMp6N9J5ZW9FQfGXqYvLADk7v054IUU2U4hlc7uBg953f/s320/nausnoporto.jpg" border="0" />Os hindus e islâmicos da cidade opulenta e rica ficaram assustados com as naus portuguesas, fortemente armadas, no porto. Cabral enviou alguns indianos, outrora capturados por Vasco da Gama, e solicitou ao Samorim-rajá <strong><em>(ou o “senhor do mar”),</em></strong> príncipe de Calicute, que desse salvo-conduto aos portugueses, para que descessem em terra firme. Glafer, <strong><em>(assim era o nome do Samorim)</em></strong>, era sobrinho do Samorim que havia recebido Vasco de Gama e a despeito dos ressentimentos deixados em 1498, recebeu bem os lusitanos. Para garantir a segurança do capitão-mor, foi exigido que alguns indianos ficassem no navio, como reféns. Passaram-se dias de negociação, até que o problema foi resolvido. Feito o acordo, Cabral desceu da nau-capitania e apresentou uma carta do Rei de Portugal, escrita em árabe, considerando uma aliança entre os dois reinos. O rei também enviou presentes ao príncipe, como moedas de ouro, pratarias, roupas de luxo, sedas e brocados, bem diferente da gafe de Vasco da Gama, que enviou potes de açúcar, melado e bacias de cobre. Todavia, a corte do Samorim era tão rica, que os pobres portugueses eram humilhados pelos brincos, jóias, diamantes e sedas vistosas da corte do príncipe. Para agradar mais ainda o Samorim, a pedidos, Cabral enviou uma caravela com Pero de Ataíde e mais de setenta homens e atacou com canhões uma grande nau islâmica. Capturou uma tripulação de trezentos mouros e mais cinco elefantes e levou a nave para o Samorim.<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHqI-oUj7R8hhGb6Wc3O-4JH9BgjpYU49aPtBLqJTaqkXJomXh8loF8BIbqY5J32No6CpJIiVJbos9L-Rx8FR5ODjFRjVwSolwCi3jPN3Sm-XCyQIxHHFQmdm-SGYnr-E04NJkgw/s1600-h/Baterias.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5055192830167549778" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHqI-oUj7R8hhGb6Wc3O-4JH9BgjpYU49aPtBLqJTaqkXJomXh8loF8BIbqY5J32No6CpJIiVJbos9L-Rx8FR5ODjFRjVwSolwCi3jPN3Sm-XCyQIxHHFQmdm-SGYnr-E04NJkgw/s200/Baterias.jpg" border="0" /></a>Foi permitido aos portugueses fazer feitorias no local. Entretanto, os hindus e os árabes ficaram indignados com a interferência dos portugueses. Começaram a boicotar as relações entre os portugueses e o Samorim e as naus lusitanas esperavam, impacientes, a permissão do príncipe para fazer negócios e levar as tão preciosas especiarias da Índia. Os portugueses experimentavam sérias dificuldades para carregar suas naus, já que a situação instável e mesmo a hostilidade árabe impediam de arranjar negociantes. E o príncipe, que poderia autorizar o comércio no local, pressionado pelos mercadores mouros, não fazia nada em favor dos portugueses. No inicio de dezembro, uma nau muçulmana saia de Calicute, abarrotada de especiarias, quando os portugueses, ofendidos com a negligencia do Samorim, aprisionaram o navio, passaram a espada na tripulação e confiscaram as mercadorias. O piloto árabe da nau aprisionada foi ter com o Samorim, exigindo providências para que destronassem os portugueses do local. Os mercadores árabes, junto com os hindus, envenenaram a situação. O Samorim acabou por acatar a decisão e no dia 16 de dezembro de 1500, uma turba de árabes e hindus armados atacou a feitoria portuguesa, matando cinqüenta e quatro lusitanos desprevenidos, entre os quais, o fidalgo Aires Correa e o próprio Pero Vaz de Caminha. O filho de 11 anos de Aires Correa e o frei Henrique de Coimbra fugiram do local, nadando até a nau do capitão Cabral. Informado dos ataques, na manhã do dia 17 de dezembro, Pedro Álvares mandou alinhar os navios e bombardeou a cidade inteira. Suas tropas furiosas saquearam e incendiaram onze navios islâmicos no porto, matando cerca de 600 pessoas. Uma boa parte de Calicute foi devastada pelos canhões no porto e ficou em ruínas. Nas palavras de um piloto da armada: <strong><em>“Nós matamos infinita gente e causamos muito dano”.<br /></em></strong><br />Cabral zarpara no dia 20 de dezembro e foi para Cochim, cidade inimiga de Calicute e fez aliança com o Rajá da cidade. Abarrotou suas naus de pimenta do reino, gengibre e canela, além de outras especiarias. Instalou uma feitoria portuguesa na cidade e, no dia 16 de janeiro de 1501, partiu de volta pra Portugal. De volta a Melinde, a nau de Sancho de Tovar encalhou num banco de areia e depois de descarregar as mercadorias em outras naus, Cabral mandou queimar o navio. Sobraram cinco navios a partir. Dobraram o Cabo da Boa Esperança mais ameno, em 22 de maio de 1501 e chegaram a Berzeguiche, atual Dakar, em 2 de julho. Encontraram o navio perdido de Diogo Dias, com sua tripulação de apenas sete homens, esfarrapados, indigentes e esfomeados. No mesmo porto, Cabral encontrou três navios, a mando do Rei Dom Manuel, com a missão de explorar a nova terra descoberta por ele: <strong>Brasil.<br /></strong><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7dCoyrN0Rh1S4lJ2j6ryGdfqvemLR3yKcn1aSh6YNNFygnOsiUc72qxeW6uYfQn7tLLGkPSOBIuZmFnTWRbmPIBrEZBqWjznY-7C-FaihLQQu7tIbi5euuIzQ5G84_gsStsbV/s1600-h/pedroalvarescabral.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5055189858050180914" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7dCoyrN0Rh1S4lJ2j6ryGdfqvemLR3yKcn1aSh6YNNFygnOsiUc72qxeW6uYfQn7tLLGkPSOBIuZmFnTWRbmPIBrEZBqWjznY-7C-FaihLQQu7tIbi5euuIzQ5G84_gsStsbV/s200/pedroalvarescabral.jpg" border="0" /></a>O primeiro navio da frota de Cabral chegou a Lisboa, em 23 de junho de 1501. Era a nau <strong><em>“Anunciada",</em></strong> bancada pelo banqueiro florentino Bartolomeu Marchioni, que deu satisfações a seus sócios, escrevendo cartas a Florença, sobre a viagem. Cabral chegou quase um mês depois, no dia 21 de julho de 1501 e foi recebido pelo rei e sua corte, em Santarém, a mesma cidade onde o fidalgo de Belmonte morou durante toda a sua vida. Os navios abarrotados de especiarias foram tão lucrativos aos negociantes, investidores e mesmo a Coroa Portuguesa, que as cotações do mercado de Veneza foram alterados abruptamente. Cabral foi premiado com uma pensão de 30 mil reais e se tornou um favorito do rei. Todavia, Cabral caiu em desgraça: <strong>Dom Manuel planejava uma nova armada para a conquista das Índias e desforrar contra Calicute, quando o capitão-mor, até então amado e elevado a herói pelo rei e pelas cortes, recusou-se a ir.</strong> Isso magoou o rei e Cabral foi condenado ao ostracismo.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2Je5djT4QUNPqv6oA-0YXIgnuVLFbdvseHZLJsZib-4vKfFLKkLBtTFxP8GAjq1XHBNMgZldC4mkEwfEURFjWszey4Dg_Q1s3-BgDFM9RWypuhbTMvmdEjD4It07_7QpTAEGC/s1600-h/iggraca.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5055190253187172162" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2Je5djT4QUNPqv6oA-0YXIgnuVLFbdvseHZLJsZib-4vKfFLKkLBtTFxP8GAjq1XHBNMgZldC4mkEwfEURFjWszey4Dg_Q1s3-BgDFM9RWypuhbTMvmdEjD4It07_7QpTAEGC/s200/iggraca.jpg" border="0" /></a>Em 1503, Cabral se casa com a donzela Isabel de Castro, sobrinha de Dom Afonso de Albuquerque, posteriormente Duque de Goa e vice-rei da Índia, e a terceira mulher mais rica de Portugal. Passou seus últimos dias em Santarém, a terceira maior cidade portuguesa, com uma população até então de 9 mil habitantes, administrando suas propriedades, enquanto, amargurado, foi relegado ao esquecimento. Posteriormente herdou o nome da família Cabral e ainda se via sua presença, nas liturgias da Ordem de Cristo. Ele provavelmente faleceu em 1519 ou 1520, embora nas contas de pagamento de pensões reais à sua esposa e filhos, datadas de agosto de 1520, há uma citação póstuma: <strong>que Deus o perdoe!</strong> Seu filho, Fernão Cabral,foi também navegador e capitão da nau São Bento, a mesma que naufragou, junto com o poeta Luis de Camões. Isabel de Castro transladou o corpo do marido, em 1529, para a Igreja da Graça, em Santarém. Em 1534, Isabel foi alçada camareira-mor da infanta Maria, futura esposa do rei Felipe II da Espanha e provavelmente faleceu em 1538, juntando-se a seu marido, no jazigo perpétuo da igreja.<br /><br />A viagem de Cabral abriu portas para a conquista portuguesa nas Índias. O tio de sua esposa, Afonso de Albuquerque, anos depois, expandirá o domínio lusitano nas Índias e se tornará senhor absoluto de uma parte da Índia, aterrorizando os mouros e hindus da região. Para alguns críticos historiadores orientais, ele iniciou um período colonialismo mais sanguinário e a conquista do mundo pelos europeus. Por intermédio de Cabral que se inicia a história do Brasil e da colonização portuguesa na região, acabando por surgir, séculos depois, uma nova nação. Cabral representa a complexidade do homem europeu: <strong>misto de cavaleiro medieval, guerreiro templário da Reconquista Ibérica, e um educado fidalgo da Renascença, investigativo, impetuoso, destemido, inquieto e desafiador. </strong>Cabral é como muitos homens de sua época: <strong>uma transição entre dois tempos, entre duas realidades que aparentemente se chocam, mas que na prática, representam uma unidade; o agonizante mundo medieval e o nascimento da Idade Moderna.</strong> Em suma, um homem fronteiriço dos tempos modernos.<br /><br /><br /><strong>(Cancioneiro de Belém- Século XVI).<br /></strong></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10073">01. Dame cogita en tu hato (Anônimo).</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10074">02. Oy elos graçiosos (Anônimo).</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10075">03.Mira que negro amor y que nonada (Anônimo).</a></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10076">04.Con que Lavaré (Anônimo).</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10077">05.Aquella Voluntad que se ha rendido (Anônimo).</a> </div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10078">06. Canção a quatro de glosada (Antônio Carreira - 1525 - + 1597).</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div>Conde Loppeux de la Villanuevahttp://www.blogger.com/profile/03123027651841021079noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-38583270.post-74054775074936300242007-04-02T20:48:00.000-07:002007-04-16T15:24:34.290-07:00História Trágico-marítima II: elevando um reino a império!<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEQB-g97DlwlWX613VDKfoOpfOXTj097WsKP2VA3dCP7EgVQJZq96ClObx0veTaV2jHF8OpqKGrYQZgGJzDI_ur_nz2P3aCsoPHWiuaoKkOKU81eLgbtYkn7snzOD5EtiMGTsz/s1600-h/Ordem_Avis.png"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5049044382632636466" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEQB-g97DlwlWX613VDKfoOpfOXTj097WsKP2VA3dCP7EgVQJZq96ClObx0veTaV2jHF8OpqKGrYQZgGJzDI_ur_nz2P3aCsoPHWiuaoKkOKU81eLgbtYkn7snzOD5EtiMGTsz/s200/Ordem_Avis.png" border="0" /></a><strong>(Intrigas políticas, palacianas e guerreiras do reino português: 1385 – 1495).</strong><br /><div align="justify"></div><div align="justify">Portugal do século XV, na política, foi uma das mais controversas. O Mestre de Avis preservou a monarquia, ao expulsar os partidários portugueses e castelhanos da rainha Leonor Teles, derrotando-os no campo de batalha. De fato, a derrota da nobreza feudal portuguesa e castelhana e a união da monarquia com os burgueses, plebeus e pequenos nobres nacionalistas de Lisboa, incrementaram o processo de centralização monárquica de Portugal. A estabilidade do reino português foi consagrada, na medida que uma boa parte do séqüito da nobreza era ligada na pessoa do rei. O Mestre de Avis, ao casar-se com Filipa de Lancaster, em 1387, incrementou uma aliança com a Inglaterra, tirando Portugal do isolamento político. No entanto, alguma ameaça pairava sobre o trono lusitano, quando o infante Dom Dinis, filho do rei Pedro e Inês de Castro, declara-se rei e, com o apoio de Castela invade Portugal, no ano de 1398. No entanto, em Beira, o Condestável Nuno Álvares derrota as tropas de Dom Dinis e a dinastia de Avis, mais uma vez, é salva. Em 1402, Portugal e Espanha assumem a trégua e os partidários portugueses de Castela são perdoados, e, no ano de 1411, assinam a paz, com a devolução dos bens confiscados dos portugueses recalcitrantes.</div><div align="justify"></div><blockquote></blockquote><div align="justify"><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgMEIy4H8O29Cv_lWH75c1Vabuw-WQTtxghhAkXnx0B8UjKAMPUoKCt0nSG-zeADUKEmab9a1LJofhRU9izZlm41VmgukjBuGFACTE8HsZv-8HCsuoFeFAdCQJSCCA6TcIHLqG/s1600-h/nunoalvares.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5049046044784980034" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgMEIy4H8O29Cv_lWH75c1Vabuw-WQTtxghhAkXnx0B8UjKAMPUoKCt0nSG-zeADUKEmab9a1LJofhRU9izZlm41VmgukjBuGFACTE8HsZv-8HCsuoFeFAdCQJSCCA6TcIHLqG/s200/nunoalvares.jpg" border="0" /></a>Um evento particular depois influenciará a história de Portugal: <strong>o todo-poderoso homem de Portugal, militar, político, guerreiro e depois, frade carmelita, Nuno Álvares, casa sua filha Beatriz com o filho ilegítimo do Mestre de Avis, o infante Dom Afonso.</strong> Anos depois, Afonso é elevado como primeiro duque de Bragança, em 1444. Sua dinastia seria elevada à primazia do reino de Portugal, em 1640. Em 1415, Ceuta foi tomada dos mouros e os portugueses iniciam suas investidas imperialistas ao norte da África. Foi a partir do reinado de João que se iniciaram as navegações marítimas, financiadas por seu filho, o infante Dom Henrique, nomeado Mestre da Ordem de Cristo, em 1416. Dom Henrique era um homem que misturava impetuosidade militar, proselitismo religioso e cobiça pura e simples de riquezas. Não somente financiou uma boa parte das navegações marítimas com as vultosas somas da Ordem de Cristo, como também com os escravos e o ouro descobertos na costa ocidental da África. Em contrapartida, seu empreendimento era caríssimo e embora fosse muito rico, tinha sérios problemas em caixa, por causa das vultosas dívidas de seus empreendimentos náuticos e militares. Criou a Escola de Sagres e bancou uma boa parte dos sábios de sua época, ao aprimorar a tecnologia marítima portuguesa. Quando morreu, em 1460, os portugueses já tinham superado uma boa parte da costa da África.<br /><br /><br /><br />O Rei João I faleceu em 1433 e foi substituído pelo seu filho Dom Duarte. Dizem que o batismo de seu nome foi em homenagem a seu bisavô, o rei Eduardo III da Inglaterra, já que era filho da rainha inglesa Filipa de Lancaster, neta do rei inglês. Em seu curto reinado, os portugueses conseguiram ultrapassar o Cabo Bojador, abrindo espaço para o domínio da costa oeste da África. Um evento que manchou a reputação do infante Dom Henrique foi quando idealizou o ataque a Tanger, em 1437. No malogro da batalha, os portugueses tiveram muitas baixas e a cidade não foi tomada. Para piorar, o príncipe caçula Dom Fernando, irmão do rei e de Henrique, foi capturado pelos mouros. O rei do Marrocos exigiu a devolução de Ceuta, em troca do resgate do príncipe, mas o próprio Dom Fernando se recusou e morreu no cativeiro. Pela sua abnegação, foi então chamado de <em><strong>“infante santo”.</strong></em> Um ano depois, Dom Duarte morreu, vitimado pela peste.<br /><br />A morte do rei causou uma situação delicada em Portugal. O príncipe herdeiro, Afonso, ainda não tinha idade para governar e Dom Duarte deixou em testamento, os poderes de regência à rainha, dona Leonor de Aragão. As cortes, receosas do governo de uma estrangeira e espanhola, e sempre temerosas da ameaça de Castela, recusam o testamento real, exilam a rainha para a Espanha e declaram o tio do monarca, Dom Pedro, Duque de Coimbra, como regente. O duque mede esforços para centralizar o poder na figura do rei e se depara com seu rival e meio-irmão, Dom Afonso, que disputa as atenções do Rei-menino. Na prática, o Duque de Bragança representava a reação feudal contra o centralismo monárquico encabeçado pelo Duque de Coimbra. Astuciosamente, aos poucos, os Braganças conquistam a apreciação do rei. A velha aristocracia portuguesa, ressentida com o fortalecimento da monarquia de Avis, e potencial aliada da monarquia castelhana, acabava por encontrar brechas para enfraquecê-la.<br /><br />Em 1444, os portugueses iniciam um dos empreendimentos dos mais odiosos desde então: na cidade de Lagos, em Algarve, abrem o comércio de escravos negros na África. Em vistas a concorrer com o mercado árabe de escravos, em vigor ao norte da África desde o século VIII, compram escravos das tribos africanas e as revendem ao comércio europeu <strong><em>(particular, nas Ilhas de Açores e na Itália) </em></strong>e do Mediterrâneo. Posteriormente, com a descoberta e colonização da América, o mercado de escravos negros se expande para o Novo Mundo, tornando-se uma das atividades mais lucrativas da Idade Moderna. Por todo o litoral africano, são construídas feitorias portuguesas alinhadas com os reinos negros do Congo, Guiné, Moçambique e outras nações européias, como Inglaterra e Holanda, entram na disputa da mão de obra negra.<br /><br />Inicialmente os portugueses capturavam escravos no litoral, através do puro despojo de guerra. Entretanto, viam que era mais lucrativo fazer alianças com as populações nativas, que já praticavam o escravismo com os árabes. Até então a moeda usada era o ouro da Guiné, com que os portugueses trocavam os cravos com os aliados africanos. Posteriormente, o tabaco também foi usado como moeda de troca até o século XIX.<br /><br /><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5049052573135270034" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidAPu0pQmeUlb153FqweJq_G3a-LOtPBvaiDVoSlawbRhTKCteof-iZh_FDL_WrdML1AFT5CeQLLzdOW3Q_1yL67-VeviAJWoXmICrxkGLK3aIYJe1TLlkoJp7dK6Do_g8b5dB/s200/armasdosduquesdebragan%C3%A7a.png" border="0" />Dom Afonso, agora Duque de Bragança, busca as atenções do seu sobrinho-rei e alimenta hostilidades contra o regente do reino, Dom Pedro, Duque de Coimbra. O casamento do príncipe herdeiro com a filha de Dom Pedro desagrada ao Duque de Bragança, que começa a causar intrigas e corroer as relações do futuro rei com seu tutor. Quando o príncipe Afonso é elevado rei, em 1448, é induzido pelo Duque de Bragança a anular todas as leis criadas na regência de Dom Pedro, a fim de demonstrar total independência política e autoridade sobre o reino. No entanto, o Duque de Bragança conspirava para derrubar o status de seu meio-irmão Pedro e enfraquecer a monarquia, ao manipular o próprio rei a conceder plenos poderes aos nobres. Calunia indecorosamente o regente Dom Pedro e conspira para jogá-lo contra o monarca.<br /><br /><br />Ao espalhar notícias falsas de uma suposta revolta contra o rei, este declarou o Duque de Coimbra um rebelde traidor. Pressionado pelas cortes, o rei obriga ao infante regente para que deponha às armas e suas tropas leais. O regente duque se recusa e o rei, furioso, manda a própria esposa falar com o pai, para que ele escolhesse sua pena de traição: <strong>a morte, a prisão perpétua ou o desterro. </strong>A rainha Isabel de Coimbra, aos prantos, aconselhara ao pai para que ele fosse exilado para a Inglaterra ou Hungria, onde tinha parentes e amigos. O Duque de Coimbra se recusara e armou suas tropas, marchando para Lisboa.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhA5uvrkvD8fQrcd-a6jg8ue65-b6vAbmIykBTh1nuOxA5a7S99L-8wbW1bT-REywYkkqoS4nCadpm7QPfoaN2Qp-K6UE2tA8nWoIlTVJVvMYh0PtupQ1D4m-kA8M0kjUounjWi/s1600-h/D_AfonsoV.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5049363584602075554" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhA5uvrkvD8fQrcd-a6jg8ue65-b6vAbmIykBTh1nuOxA5a7S99L-8wbW1bT-REywYkkqoS4nCadpm7QPfoaN2Qp-K6UE2tA8nWoIlTVJVvMYh0PtupQ1D4m-kA8M0kjUounjWi/s200/D_AfonsoV.jpg" border="0" /></a>Isso acabou de levar o reino a uma guerra civil, e na sangrenta e feroz batalha de Alfarrobeira, no ano de 1449, o sogro do monarca, Dom Pedro, morre no campo de batalha. Algum tempo depois, arrependido, e por amor à esposa rainha, o rei reabilita a memória do sogro rebelde, dando um sepultamento digno de alta nobreza. No ano de 1455, a esposa do monarca, Isabel de Coimbra, falece, aos vinte e três anos de idade. Dom Afonso V passou uma boa parte do reino preocupado com as investidas bélicas ao norte da África, <em><strong>(daí a ser chamado, o “africano”).</strong></em> O rei encarnava o pensamento cruzadista, cogitando um exército contra os turcos, poucos anos depois da queda de Constantinopla, em 1453. O monarca, ao ouvir o clamor do papa Calixto III, chegou a organizar uma tropa de 12 mil homens, para lutar contra os turcos no cerco a Belgrado, em 1457. Todavia, o papa morreu um ano depois, e o plano malogrou, fazendo com que Afonso usasse suas forças na expansão da África. Em 1458, conquistou Alcácer Ceguer; em 1464, tomou Anafé e em 1471, conquistou Arzila, completando o domínio quase total dos Marrocos, ao capturar Tanger e Larache.<br /><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqq7rdOZcNrAt1DEJ6hva_i5MhG-Q-I9QKDmh7BlEBNdsqcIrNsHj7DbH6_6nDolkYdYlcx-jpg5ygptiK0HNkb_8LsyJI12mAX-N0c9MoKEkeBlxs_K9uziKQFyX6HyK-SeQx/s1600-h/aljubarrota.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5049046474281709650" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqq7rdOZcNrAt1DEJ6hva_i5MhG-Q-I9QKDmh7BlEBNdsqcIrNsHj7DbH6_6nDolkYdYlcx-jpg5ygptiK0HNkb_8LsyJI12mAX-N0c9MoKEkeBlxs_K9uziKQFyX6HyK-SeQx/s200/aljubarrota.jpg" border="0" /></a>Depois das guerras na África, o rei Afonso interfere nos assuntos de Castela. Sua irmã, Joana, casada com o rei Henrique IV, de Castela, acaba gerando uma filha, também chamada Joana, só que rejeitada pela nobreza castelhana, por ser uma bastarda de um amante da rainha, Beltrán de la Cueva. Surgiram rumores da impotência sexual do rei espanhol, e a irmã de Henrique, Isabel, ajudava a espalhá-los, quando a filha da rainha assim foi chamada <strong><em>“Beltraneja”.</em></strong> Tal cognome era escandaloso, pois insultava a honra da princesa herdeira de Castela, já que fazia alusão o adultério da rainha, que posteriormente foi banida do reino espanhol. Quando o rei Henrique morreu, em 1474, uma parte da nobreza espanhola adere à tia de Joana, que é elevada rainha de Castela, sob o nome de Isabel I. No entanto, Afonso V não aceita a coroação e, em apoio à sua sobrinha Joana <em><strong>“Beltraneja”,</strong></em> casa-se com ela, em 1475 e declara-se rei de Castela, invadindo o reino espanhol. Uma guerra civil explode entre a nobreza de Castela, junto com uma guerra entre o reino português e castelhano. O Reino de Aragão intervém com suas tropas, na figura de Fernando II, esposo de Isabel e na feroz batalha de Toro, em 2 de março de 1476, as tropas portuguesas são desbaratadas no campo de batalha. Dom Afonso V fez um acordo com Luis XI, rei da França, para angariar apoio na logística militar contra Castela, mas o rei francês se recusa, preocupado com as investidas contra o ducado da Borgonha. Posteriormente, a França realiza um pacto de amizade com Castela e o rei português é forçado a aceitar a ascensão e legitimidade dos reis espanhóis, ao assinar o Tratado de Alcáçovas, em 1479, renunciando ao trono castelhano. Neste ínterim, em 1477, Dom Afonso V já havia abdicado do seu trono em favor do filho Dom João e depois volta atrás. O rei cai em depressão, e anos depois, falece no mosteiro de Sintra, em 1481, aos 49 anos de idade.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEito_CwSRu8YDkRv4TFrWg27ip3Lth95zovdR6f0TIKSZ_PSnrALEeNTV8tqbkfSlkqOxIbQltlhb0BNnGitDOVNxjVgSbF2O46RvLQaLr3VuKnL11qLL_oXeHJyZCuy45kR5f6/s1600-h/joaoII.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5049049596722933858" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEito_CwSRu8YDkRv4TFrWg27ip3Lth95zovdR6f0TIKSZ_PSnrALEeNTV8tqbkfSlkqOxIbQltlhb0BNnGitDOVNxjVgSbF2O46RvLQaLr3VuKnL11qLL_oXeHJyZCuy45kR5f6/s400/joaoII.jpg" border="0" /></a>O príncipe João, filho de Afonso, foi elevado a Rei João II, e assim chamado <em><strong>“Príncipe Perfeito”,</strong></em> pela fama de homem astucioso, centralizador e por vezes, violento. O rei Afonso V havia negligenciado a administração do reino, já que vivia em guerras e mais guerras fora dele e deixava os poderes da monarquia aos nobres. Os seus parentes, os Duques de Bragança, tinham ganho bastante poder e influência, junto com uma aristocracia que era hostil à centralização real. Na prática, a Casa de Bragança era a família mais rica de Portugal e uma das mais ricas da Europa. Era a maior proprietária de terras de reino português e ainda possuía grandes propriedades em Castela, Navarra e Aragão. Se os Duques de Bragança, notórios conspiradores, poderiam manipular o rei Afonso V, já não poderiam esperar o mesmo no seco e temperamental João II, homem implacável e impetuoso. Na proposta de centralização monárquica, o rei acaba criando uma burocracia particular de procuradores reais, juristas e homens leais à sua autoridade, reduzindo o poder e os privilégios dos nobres, em particular de seus parentes. Isso desagrada uma boa parte da velha aristocracia, que se vê privada de sua força política, em face à onipotência da Coroa. E ressurge a velha aliança da nobreza portuguesa com os interesses monárquicos de Castela.<br /><br />Há de se entender que o conceito de <em><strong>“nacionalidade”</strong></em> e de <strong><em>“Estado”</em> </strong>ainda eram embrionários. A nobreza européia não nutria vínculos nacionais para com seus povos, mas tão somente vínculos familiares e dinásticos para com seus pares. Isso porque cada território de um senhor feudal possuía uma lei própria em que poderia reger sua cidade ou vila, e a relação de suserania e vassalagem, que consignava deveres mútuos entre a coroa e a aristocracia, implicava limitações ao poder do reino. A dúbia lealdade dos nobres portugueses com a Coroa tinha a ver com a idéia de que a influência castelhana enfraqueceria a monarquia portuguesa, e isso daria plenas forças para que a aristocracia controlasse o rei. Daí a entender que a <strong><em>“alta traição”</em></strong> da nobreza portuguesa não estava ligado a um conceito nacional e sim na quebra de lealdade na figura do rei. Se havia uma chamada <em><strong>“razão de Estado”,</strong></em> um termo impróprio na Idade Média, era na pessoa exclusiva do rei. Sabia-o bem Dom João II que não poderia confiar nos seus pares aristocráticos. E a tendência para enfraquecê-los, visava simplesmente limitar a ação política deles.<br /><br />O rei, através de seus espiões, descobre uma correspondência secreta entre Dom Fernando, Duque de Bragança e os Reis Católicos Isabel e Fernando, visando conspirar contra seu reino. Nas cartas, o duque declarava-se hostil à política real e chamava-a de <strong><em>“tirana”,</em></strong> e suas opiniões, conhecidas pelos inimigos castelhanos, foram intoleráveis a Dom João II. Isso porque se falava de rumores de uma suposta invasão contra o reino de Portugal. Em 1483, Dom Fernando foi preso por traição, julgado e decapitado em praça pública na cidade de Évora. A família de Bragança foi banida de seus títulos, suas terras foram confiscadas e anexadas à propriedade da Coroa e o herdeiro do ducado, Dom Jaime, ainda criança, foi exilado pra Castela.<br /><br />Porém, não foi a única conspiração. O homem mais poderoso de Portugal, depois do Duque de Bragança, era Dom Diogo, Duque de Viseu, primo e cunhado do rei, beneficiário do título ducal de Viseu, pelo infante Dom Henrique, seu tio. Desgostoso com a política real, o duque idealizou uma conspiração para assassinar Dom João. Numa audiência no palácio, o Dom Diogo é chamado à presença do monarca e quando aparece, é morto a punhaladas pelo próprio rei. Muitos outros conspiradores são impiedosamente executados, como o bispo de Évora, que é encontrado morto na prisão, envenenado.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5tbcNJQkeQVnSYevjHPRfbOdaeMKY2htFWMJcFQ3qziWT_HOvJX5OOzHB1NPkFt0TjXeWhVdXWAWn6ZyU9kAZa4PQtc_f3y_meqYLHfPkOOlFxgmbmWJ-b8CZBBOMfMF8LuOY/s1600-h/sãojorgedemina02.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5049050133593845874" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5tbcNJQkeQVnSYevjHPRfbOdaeMKY2htFWMJcFQ3qziWT_HOvJX5OOzHB1NPkFt0TjXeWhVdXWAWn6ZyU9kAZa4PQtc_f3y_meqYLHfPkOOlFxgmbmWJ-b8CZBBOMfMF8LuOY/s400/s%C3%A3ojorgedemina02.jpg" border="0" /></a></div><div align="justify"></div><div align="justify">No âmbito externo, os portugueses conseguem explorar toda a costa ocidental da África e constroem uma formidável fortaleza militar na Guiné, São Jorge de Mina, em 1482, garantindo as fontes primárias de ouro na região e drenando o comércio português. Comenta-se que para impressionar os nativos, o rei mandou uma pequena tropa de portugueses bem vestidos e armados até os dentes, reluzindo em armaduras, para impor temor e respeito a quem os visse. Na verdade, as minas africanas de ouro abasteceram a Europa de moedas de ouro, já que Portugal comprava roupas, cavalos, tecidos, latões e chumbo da Inglaterra, Irlanda, Flandes e Alemanha com moedas da Guiné. Os portugueses consumiam trigo do Marrocos e o reexportavam para toda o continente europeu, junto com especiarias, marfim, pimenta malagueta <strong><em>(vinda da África)</em></strong>, metais preciosos e escravos. A afluência de ouro por intermédio de Portugal foi tão marcante, que séculos depois, alguns tipos de moedas que circulavam na Europa Setentrional eram chamados de <em><strong>“portugaleses”,</strong></em> em alusão às moedas vindas da Casa de Mina, centro comercial onde eram fiscalizadas as mercadorias vindas da África.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBTtRbdO_yXttzQgoxV1uo92w8HJoENJKiVjq7PJbsQxpb8Y9FrWJsiQJVa6bhdgsnz2V560EZ1d4MqclGp0G1RjnSAg4t5a1vRe6HFZjzbhlp9a1L76vneSY5QhBTDOxwfP4O/s1600-h/prestejoao02.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5049069602680598706" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBTtRbdO_yXttzQgoxV1uo92w8HJoENJKiVjq7PJbsQxpb8Y9FrWJsiQJVa6bhdgsnz2V560EZ1d4MqclGp0G1RjnSAg4t5a1vRe6HFZjzbhlp9a1L76vneSY5QhBTDOxwfP4O/s320/prestejoao02.jpg" border="0" /></a>O rei, obcecado pelos mitos em torno do continente africano, em particular, da lenda de Preste João, monitorava de perto, as ações e atividades econômicas e militares de perto na África. Preste João era um mitológico príncipe cristão, que provavelmente vivia na Etiópia e era narrada sua existência por mercadores árabes, judeus e mesmo europeus. Uma lenda antiqüíssima, já que a história era ouvida na Europa, desde o século XII. A sua primeira menção foi em 1145, quando um bispo do Líbano relatava a descrição de um reino cristão para lá da <strong><em>"Pérsia e da Armênia",</em></strong> cujo governante era um rei-sacerdote, descendente dos reis magos. Ele se chamava <strong><em>"João, o presbítero",</em></strong> e na linguagem franca da época, foi batizado, <em><strong>"père",</strong></em> ou pai. Daí a corruptela portuguesa do nome <em><strong>"preste",</strong></em> que deu fama ao estranho monarca. A lenda contagiou o imaginário europeu, porque era relativamente comum, antes da expansão árabe, comunidades cristãs coptas isoladas ao norte da África. O reino da Abíssinia era cristão, e, embora sofresse as investidas dos islâmicos, a sua fé original foi preservada. Em 1490, Dom João II mandou enviar dois emissários, Pero de Covilhã e Afonso de Paiva, para descobrir o suposto reino. Os leais espiões do rei cavalgam por terras cristãs européias, até partirem ao norte da África. Passam por Alexandria, no Egito e, disfarçados de mouros, chegam ao Cairo. Encantados com a rico comércio da cidade islâmica, compram camelos, cruzam toda a Península Arábica e chegam até a Meca. Os dois cristãos romanos, numa cena cômica, fingem prestar reverência à cidade sagrada muçulmana, para preservar a farsa. Eles se separam, e Covilhã pega o primeiro navio para as Índias, enquanto Afonso de Paiva vai para Abissínia. Planejam o reencontro no Cairo, para depois voltar pra casa. Quando Covilhã, depois de ter viajado para as Indias, volta para o Egito, em busca do amigo, descobre, por intermédio de um judeu português, o rabino José de Lamego, que Afonso de Paiva estava morto, vítima de uma peste. Covilhã faz um relatório apurado sobre as Índias para o rei e o envia, por intermédio do judeu Lamego, que volta a Portugal. Anos depois, Vasco da Gama utilizaria as descrições de Covilhã para a procura de Preste João.</div><div align="justify"><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh72EVimeqb5gNBZLMTF3uy7tDsbKkTOiwhtbynR9uH0h-ZHoJwNkFaacqD-vX0-FwhC3UYe8iDiVMNpMupZ1iOVSi0EKc3h7ArO0Lh5XEPHl2Pj37MhVDq4TZwgh9T2OhTq4i5/s1600-h/prestejoão.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5049070354299875522" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh72EVimeqb5gNBZLMTF3uy7tDsbKkTOiwhtbynR9uH0h-ZHoJwNkFaacqD-vX0-FwhC3UYe8iDiVMNpMupZ1iOVSi0EKc3h7ArO0Lh5XEPHl2Pj37MhVDq4TZwgh9T2OhTq4i5/s320/prestejo%C3%A3o.jpg" border="0" /></a>Então desce para a África, até encontrar a Abissínia, e para seu espanto, encontra um pequena comunidade cristã oprimida pelos islâmicos. Um rei, de nome Alexandre, se declara descendente de Preste João, e recebe muito bem o aventureiro português. Covilhã se prepara para voltar a Portugal, em 1494, quando o rei abissínio morre e os cortesãos o obrigam a ficar no país. O costume da terra impedia que um forasteiro saísse do país e Covilhã, casado e pai de uma criança, acaba se casando com uma etíope. Recebe terras e escravos, tornando-se um dos homens mais poderosos da região. Em 1508, é elevado a conselheiro da nova rainha Helena e, em nome dela, manda um embaixador da Abissínia para Portugal. Em 1515, o frade Francisco Alves acompanha um séquito diplomático português à Abissínia, com o objetivo de criar vínculos políticos. Anos depois, este eclesiástico relatou a fantástica historia de Prestes João e de Covilhã, na obra <em><strong>"Verdadeira informação das Terras de Preste João das índias",</strong></em> publicado postumamente em Portugal,em 1540, <strong><em>"Segundo Vio e Escreveo ho Padre Alvarez Capellã del Rey Nosso Senhor". </em></strong></div><div align="justify"><strong><em></em></strong></div><div align="justify"><strong><em></em></strong></div><div align="justify"><strong><em></em></strong></div><div align="justify"><strong><em></em></strong></div><div align="justify"><strong><em></em></strong></div><div align="justify"><strong><em></em></strong></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivyImeTVnMfrXIEqHordo6CXo7f6ucX75jas-iXJV6DnhNvc2YDL5fMNxu9pdVH4z_NByPrsBqFQBtPzG7XSO0Hg70yHWrNPw8MTLvp404L8bJk1tjubI4qxruCQyNPmqjelXs/s1600-h/caravela.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5049072299920060626" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivyImeTVnMfrXIEqHordo6CXo7f6ucX75jas-iXJV6DnhNvc2YDL5fMNxu9pdVH4z_NByPrsBqFQBtPzG7XSO0Hg70yHWrNPw8MTLvp404L8bJk1tjubI4qxruCQyNPmqjelXs/s320/caravela.jpg" border="0" /></a>Com Bartolomeu Dias, os navios chegam ao Cabo das Tormentas, <strong><em>(depois batizado pelo rei Dom Manuel, como Cabo da Boa Esperança),</em></strong> aproximando o velho sonho lusitano de encontrar uma rota marítima para as Índias. No âmbito diplomático, Dom João II arranja um casamento dinástico entre seu filho, o príncipe Afonso, com a filha dos reis de Castela. Contudo, em 1491, o filho do rei acaba morrendo num acidente de montaria, aos 16 anos de idade, e isso frustra o sonho do Príncipe Perfeito, de querer unir os dois reinos mais poderosos da Península Ibérica. Portugal inteira ficou de luto e durante seis meses, os barbeiros-cirurgiões do reino se recusaram a cortar a barba e o cabelo dos súditos e fidalgos. Daí a moda das barbas grandes dos portugueses do final do século XV, em sinal de tristeza pelo príncipe morto. Em 1494, o rei consegue preservar seus domínios ultramarinos, com o Tratado de Tordesilhas, evitando, assim, uma guerra contra a Espanha. E, adoentado e sem herdeiros legítimos, recusa-se a elevar seu filho bastardo, Dom Jorge, e nomeia o seu primo, Dom Manuel, como herdeiro do trono português. Em 1495 falece e é enterrado em grandes pompas em Algarve. </div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXfNCTT-gBhgtfnS8JU8B8TLVMsOv7EJmUKxh_9Acqo6-Y_8F3EysNlSFt7IxNasgQpKaSVL49PjzccV1t61UFA3Ma56FJ-l6iNP1gpu0xARf13k-x1bs1ioP2rztPFJP3EewV/s1600-h/foraldomanuel.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5049074073741553906" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXfNCTT-gBhgtfnS8JU8B8TLVMsOv7EJmUKxh_9Acqo6-Y_8F3EysNlSFt7IxNasgQpKaSVL49PjzccV1t61UFA3Ma56FJ-l6iNP1gpu0xARf13k-x1bs1ioP2rztPFJP3EewV/s320/foraldomanuel.jpg" border="0" /></a>Dom Manuel teve uma ascensão meteórica. Era irmão de Dom Diogo, Duque de Viseu, e dias depois de sua morte, aos 16 anos, foi chamado pelo monarca assassino. Temeroso pela sua vida, acabou por ganhar o título de Duque de Beja. Dom João II entrou para a história como o rei que promoveu a centralização monárquica, enfraquecendo e exterminando o poder dos nobres e impondo um séquito de pessoas sob sua autoridade. Aliás, sua fama e sua personalidade são paradoxais; seus contemporâneos nutriam um estranho sentimento de dubiedade e mesmo temor dele. Poderia ser gentil, amoroso, educado para com os seus pares, e ao mesmo tempo cruel, terrível para com seus inimigos. Daí a fama de <em><strong>“Príncipe Perfeito”,</strong></em> ou, simplesmente, nas palavras da Rainha Isabel de Castela, a Católica: <strong><em>“El Hombre!”.</em></strong> Há quem diga que tenha sido envenenado pelos seus adversários, <em><strong>(essa informação nunca foi comprovada),</strong></em> embora tenha promovido a rei, justamente o irmão do homem a quem assassinou publicamente na corte. Comenta-se que, três anos depois de sua morte, quando o rei Manuel fez uma imensa procissão para levar seu corpo ao Convento da Batalha, mandou que abrissem o caixão do rei: <strong>estava intacto, coberto de cal.</strong> Então o monarca mandou que soprassem o pó sobre o corpo e, num gesto de reverência, o rei beijou as mãos e os pés do cadáver. </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><strong></strong></div><div align="justify"><strong></strong></div><div align="justify"><strong></strong></div><div align="justify"><strong></strong></div><div align="justify"><strong>(Dom Manuel e o caminho das Índias - 1495 - 1498). </strong><br /><br /><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5049358873022951762" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihYiSUtRy6moE4cQ9PTd1HFdW1jlijQ-YhmvKpVWbPmJD8QgnfMrBFp3BycCO67b23L4OehT9qLcZCGaEQ_sa9ZLVpg6I9iUpbNUd6qEtRtAzoMKHe3iXhcgBWQv4Fv7D_NHel/s200/colombo.jpg" border="0" />Quando o navegador Cristóvão Colombo chegou às Américas, em 1492, este evento estarreceu os portugueses. Pela primeira vez, o reino de Portugal se viu ameaçado por uma potência intrusa em seus interesses marítimos. Se Castela era uma ameaça por terras, agora virou por mar. Os Reis Católicos espanhóis poderiam colocar tudo a perder quase um século de descobrimentos marítimos portugueses, já que eles competiam nas rotas para as Índias e, na prática, acabaram descobrindo um novo continente. Na verdade, os portugueses viram de perto a história, quando o próprio Colombo já havia se abrigado em Açores e acabou aportando seu navio em Lisboa, em 4 de março de 1493. Sua caravela “Niña” ameaçava afundar, avariada por uma tempestade violenta no oceano. Cristovão Colombo já era conhecido da Corte lusitana, quando ofereceu seus serviços ao rei Dom João II, propondo encontrar um caminho para as Índias, pelo lado do poente, a oeste do Atlântico. Colombo seguia o pensamento de um astrônomo italiano chamado Toscanelli, que em 1474, escreveu uma carta ao rei Dom João, afirmando que a rota das Índias poderia ser encontrada a oeste, diminuindo o decurso longo da costa africana. Porém, os judeus sábios da corte, tal como Abraham Zacuto, tinham rechaçado a idéia por soar quimérica e errada. Como o rei português não fez acordo com o navegador, ele acabou caindo nas graças da rainha espanhola Isabel a Católica, que financiou o projeto de conquistar a rota das Índias pelo oeste.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjogwFUuAX-DO8oq1pwUJEAH515G47iMbQa9AlrU67Zb8K5mVFIZL8EBXq1qevXG7Xf3ZK7u4v-OUrfzEfwLbu7LeXN9n8bBkTMsLdbKjChkg1ubtXorMTaZSnmO3rckB7vMDMG/s1600-h/tordesilhas.gif"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5049104074088116498" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjogwFUuAX-DO8oq1pwUJEAH515G47iMbQa9AlrU67Zb8K5mVFIZL8EBXq1qevXG7Xf3ZK7u4v-OUrfzEfwLbu7LeXN9n8bBkTMsLdbKjChkg1ubtXorMTaZSnmO3rckB7vMDMG/s320/tordesilhas.gif" border="0" /></a>Na praia do Restelo, Colombo foi abordado por uma nau portuguesa, na pessoa do capitão Bartolomeu Dias, o mesmo que tinha chegado ao Cabo da Boa Esperança, e foi obrigado a descer de seu navio. Foi detido pelos portugueses e mandado direto ao rei. Colombo temeu por sua vida, pois sabia que o <strong><em>“Príncipe Perfeito”</em></strong> Dom João II não costumava ser piedoso com aqueles que divergiam de seus interesses. De fato, muitos cortesãos portugueses aconselharam o próprio rei para que o executasse sumariamente. No entanto, Colombo mostrou o seu salvo-conduto dos reis católicos, e, apresentado ao rei, disse que tinha descoberto o caminho das Índias para o poente. O rei e os cortesãos não acreditaram muito na história e creram que os espanhóis estavam quebrando o Tratado de Toledo, em que Espanha renunciara o direito sobre as terras descobertas pelos lusitanos na África Ocidental. Aliás, o rei disse a Colombo que os Açores eram portugueses e que qualquer investida de uma nau espanhola que passasse por aquela região, ameaçava a soberania do reino. Os portugueses se sentiram ultrajados, porque acreditavam que as terras descobertas por Colombo, poderiam ser de direito, posses do reino de Portugal. Dom João II mandou uma carta de protesto público contra as investidas dos Reis Católicos e os embaixadores dos dois países sentaram para negociar a divisão do mundo. Colombo foi liberado pelo rei e, aliviado, voltou para Sevilha, dando as boas novas aos reis da Espanha. Havia descoberto a América! Porém, Colombo acreditava ter chegado às Índias e deu essa notícia aos seus monarcas benfeitores. A Bula Inter Coetera não agradava aos portugueses, uma vez que dava como suspeita, as influências dos reis católicos sobre o papa espanhol Rodrigo Bórgia, ou Alexandre VI. De fato, a diplomacia portuguesa protestou contra a bula papal, ao afirmar a idéia de que os portugueses só herdariam águas na parte oeste. Muito se discute o grau de conhecimento dos portugueses sobre a existência da América. Alguns historiadores se convencem de que as exigências de Portugal contra a Espanha se deviam ao fato, bastante provável, de que os lusitanos sabiam da existência das terras a oeste do Atlântico, que pudessem ser exploradas em favor dos portugueses. Assinaram o Tratado de Tordesilhas e, no final, pacificaram as relações diplomáticas.<br /><br /><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJcGO1SqE7Fkm4CzKwSMPHLsy_-6hkm8CcWaRFgAWrfvDBResZxt5k6EYTqSci1Awlljx8e-uqbPkesaQGn_FGTBxsby8MY8UjbdzB6qHJ5kcDtAeTiDrxLc_1K15LQluP-ycp/s1600-h/lisboa.gif"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5049360479340720482" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJcGO1SqE7Fkm4CzKwSMPHLsy_-6hkm8CcWaRFgAWrfvDBResZxt5k6EYTqSci1Awlljx8e-uqbPkesaQGn_FGTBxsby8MY8UjbdzB6qHJ5kcDtAeTiDrxLc_1K15LQluP-ycp/s200/lisboa.gif" border="0" /></a>Todavia, Portugal estava numa situação embaraçosa. Precisava chegar o quanto antes às Índias, para resguardar o monopólio comercial sobre o oriente. A nação portuguesa já possuía tecnologia suficiente para criar uma nova rota comercial, já que tinha angariado influência geopolítica sobre toda costa da África Ocidental e chegara ao Cabo da Boa Esperança. Lisboa já era uma das cidades mais ricas da Europa e um dos maiores centros comerciais do mundo. Praticamente uma boa parte do capital europeu, vindo de Flandes, Inglaterra, França, Itália e mesmo Espanha, estava inserido na cidade portuguesa, financiando viagens à África e revendendo suas mercadorias para o resto do continente. Em particular, os banqueiros italianos de Florença, de Pisa e mesmo de Gênova, excluídos do mercado mediterrâneo, monopolizado por Veneza, viam no financiamento das rotas para as Índias, um grande negócio, capaz de derrotar suas rivais.<br /><br />Porém, a coroa estava endividada e quando Dom Manuel declarou que reinvestiria no intento de buscar as rotas das Índias, irritou uma boa parte da nobreza portuguesa e das cortes, que não acreditavam no projeto. Todavia, Dom Manuel amenizou os ânimos dos nobres, ao escolher um fidalgo de alta linhagem para liderar a frota das Índias. Esse homem era Vasco da Gama. </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><strong></strong></div><div align="justify"><strong></strong></div><div align="justify"><strong></strong></div><div align="justify"><strong></strong></div><div align="justify"><strong>01.Vasco da Gama – Enfim, Portugal chega nas Índias. . . </strong></div><div align="justify"><strong></strong><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvImPWb59Eiw04IWd8nTUuDfh3yhlMasQLlXlRL7RqWmQMwMFWhIvXLsJ6EjvBIF0LINYJDRQad5UTO7v47OGO4VVvWFgkH4nqifD895ltY9uoWi1oXCJvYkWY_W58e9dZ_Qs2/s1600-h/caravela01.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5049374575423386098" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvImPWb59Eiw04IWd8nTUuDfh3yhlMasQLlXlRL7RqWmQMwMFWhIvXLsJ6EjvBIF0LINYJDRQad5UTO7v47OGO4VVvWFgkH4nqifD895ltY9uoWi1oXCJvYkWY_W58e9dZ_Qs2/s200/caravela01.jpg" border="0" /></a>Os preparativos de uma viagem marítima de tamanha envergadura exigiam tempo, paciência e coragem. Os navios portugueses do século XV e XVI dispunham da mais avançada tecnologia da época. Além dos cascos serem mais resistentes e versáteis, os portugueses inovaram a caravela, ou seja, uma pequena nave de velas triangulares ou latinas, cujo mecanismo fazia com que os barcos velejassem contra a direção dos ventos. Relata-se o seu uso entre os portugueses, por volta de 1430, embora as caravelas já fossem conhecidas entre os navegadores gregos, que a chamavam de <em><strong>“caravo”,</strong></em> ou seja,<strong><em> “lagosta”.</em></strong> <em><strong>“Caravela”</strong></em> era diminutivo de <em><strong>“caravo”</strong></em> e assim ficou conhecido em Portugal. Por outro lado, os portugueses inovaram a tecnologia dos navios, ao inventarem a nau, um barco com velas triangulares e retangulares, que compensava tanto usar a força dos ventos, como ir contra a direção dele. Alguns historiadores afirmam que foi o próprio Bartolomeu Dias quem inventou o novo modelo de navio.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_Qzex-jNVkWEZbiHoErEqOj3ii-BWZ6lIVIhxaAExlCuyn7F6Xq2P1HqA_ijkhRAdo7shg_ZQgviV5s9PmWt4UcQro1T2-pwvsd94UE5RPAuUdkE-YbL8FmErTXclu_CgByxa/s1600-h/bombarda.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5049368175922114994" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_Qzex-jNVkWEZbiHoErEqOj3ii-BWZ6lIVIhxaAExlCuyn7F6Xq2P1HqA_ijkhRAdo7shg_ZQgviV5s9PmWt4UcQro1T2-pwvsd94UE5RPAuUdkE-YbL8FmErTXclu_CgByxa/s200/bombarda.jpg" border="0" /></a>Por volta de 1480, os navios portugueses, antes usados como marinha mercante, foram armados com canhões e bombardas, por ordem do rei João II, para intimidar tanto as naves européias inimigas, como os próprios nativos da África. Na verdade, os formatos dos navios portugueses lembravam verdadeiros quartéis flutuantes, já que a construção da proa da popa se assemalhavam a um castelo sobre as águas. A comida era rigorosamente racionada entre os marujos, soldados e oficiais, e um despenseiro ficava responsável pela distribuição dos alimentos. Os tripulantes comiam cerca de 15 kg de carne por mês, cebola, vinagre e azeite, embora fosse permitido aos capitães trazer galinhas, ovelhas e outros mantimentos a bordo. Nos dias santos e de jejum, em particular, na Páscoa, era distribuído peixe, arroz ou queijo, para substituir a carne. As comidas eram temperadas com sal, azeite ou mesmo vinagre, que também era usado para limpeza dos alimentos e do porão. Porém, o alimento mais comum era um biscoito produzido para consumo interno dos navegantes, cuja fama era das mais terríveis: <strong>era bolorento, fedorento e cheio de baratas. </strong>Comenta-se que os marujos comiam tais biscoitos, junto com os vermes. Isto era associado a uma carrada de vinho e água por dia <strong><em>(cerca de um litro e meio),</em></strong> apesar de que, com as mudanças climáticas, a bebida alcoólica e mesmo a água, tinham um cheiro, por vezes, insuportável. A sujeira era comum, já que os ratos também faziam parte dos navios, e os marujos faziam suas necessidades fisiológicas dentro das embarcações.<br /><br /><br /><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5049362841572733314" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEif8RJYGhj4Lq-IBZe0TtVxuUDGF19YCRxA0lmShLsPYZTVDcRKDq6oTqh-2NlGpXmciRyetMpx_gUIep_KZlqi_bLv0YJrNVbzCsCFn7yptX8ctlurnGuKHCudAuL3gpti6xoL/s320/armadura_foto.jpg" border="0" />A disciplina interna de um navio não somente refletia uma ordem militar, como uma rígida hierarquização medieval. No início, muitos navios foram guiados por capitães e pilotos de origem plebéia, embora alguns representassem a autoridade real. Todavia, a infiltração da nobreza no comando das armadas, modificou essa divisão. O capitão principal da armada comandava a armada pela nau-capitânia, enquanto o resto dos navios, e mesmo da nave de mantimentos, seguiam suas diretrizes. Abaixo do capitão, havia os pilotos e os estudiosos de navegação, que mediam a posição dos astros, e mesmo, dos ventos. Abaixo deles, vinham os contramestres e os guardas, que comandavam diretamente a tripulação, pela proa, popa e centro do navio e junto, a guarnição militar. Acompanhavam-nos, os artesãos, os calafetes, carpinteiros e tanoeiros, necessários para a manutenção dos navios, caso estes fossem avariados. Juntos, vinham os marinheiros, homens de sólido conhecimento técnico, que manipulavam as velas, observavam os mares e vestígios de terra pelas gáveas e remexiam as cordas e as diretrizes internas do navio. E a classe mais baixa desse grupo era a dos grumetes, garotos pobres e de baixíssimo nível social, que pegavam o trabalho mais severo e pesado, ao seguir ordens dos marinheiros. Muitos deles sofriam abusos de toda ordem e tinham o risco de serem até molestados sexualmente pelos marujos. Entretanto, a disciplina interna da armada era draconiana. A sodomia era punida com a pena de morte. Insubordinação e motim também não eram tolerados. A mera indolência de um marujo ou grumete poderia ser punida com o açoite ou espancamento da tropa. Os padres que iam nessas viagens proibiam carteados, jogos e impunham um feroz rigor sobre a conduta dos marinheiros. Mulheres eram inexistentes. Somente muitos anos depois é que as mulheres eram vistas nos navios, e mesmo assim, eram prostitutas ou órfãs do reino, dispostas a casamentos nas colônias portuguesas.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirXiuDh11HrPP6pQNchB7U9n2t6AHqFjrpEotxJlaFC8m5vfpVmrWCfwzgegdAxL_13dMaFMWcwO784IxZbEqAaR4nDnYBnmy0wL5eR7nBqycupbywY74e5wKC35-5Hmo2QpuI/s1600-h/vascodagama.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5049369593261322690" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirXiuDh11HrPP6pQNchB7U9n2t6AHqFjrpEotxJlaFC8m5vfpVmrWCfwzgegdAxL_13dMaFMWcwO784IxZbEqAaR4nDnYBnmy0wL5eR7nBqycupbywY74e5wKC35-5Hmo2QpuI/s200/vascodagama.jpg" border="0" /></a>Foi com este espírito e o acúmulo de conhecimentos centenários, que o rei de Portugal, Dom Manuel, o Venturoso, escolheu um aristocrata para liderar a conquista das rotas marítimas das Índias. Vasco da Gama era o segundo filho do fidalgo Estevão da Gama e descendente de uma família, cuja genealogia se encontra, inclusive, na aristocracia inglesa. Não se sabe ao certo, a data de seu nascimento. Provavelmente nasceu por volta de 1469. Seguindo a tradição das famílias nobres, como segundo filho, Vasco da Gama quase chegou a seguir a carreira eclesiástica. Porém, nutria um espírito de aventura e guerra, já que não herdara os títulos de nobreza do pai, e queria ter brilho próprio. Guerreia contra os mouros, em nome do Príncipe Perfeito Dom João, ao norte da África e ganha notoriedade pela truculência, bravura e crueldade.<br /><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfdDcbwUtZj8CSxVUZo95MuHgqEaZb0g-euTd4j8EFX2QoaGf8nDSG4YQ2TdcNZoYXGtsewwqFU5UA-kvIlB5ozXLM5uS4TLp8-1GLVHg0jusY7JzYCAtKtQ9qxk1VF_kOWXDc/s1600-h/vgama2.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5049369975513412050" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfdDcbwUtZj8CSxVUZo95MuHgqEaZb0g-euTd4j8EFX2QoaGf8nDSG4YQ2TdcNZoYXGtsewwqFU5UA-kvIlB5ozXLM5uS4TLp8-1GLVHg0jusY7JzYCAtKtQ9qxk1VF_kOWXDc/s320/vgama2.jpg" border="0" /></a>Anos depois, seu irmão, Paulo, é chamado pelo rei Dom Manuel, para ir às índias, só que se recusa liderar, em favor de Vasco. No dia 7 de julho de 1497, na presença das cortes de Monte-mor, o rei outorga a Dom Vasco, a liderança da sua pequena armada para o caminho das Índias. No dia seguinte, zarpou de Lisboa, pelo Tejo, liderando quatro navios e 170 homens. Conduzia duas naus, uma caravela e uma naveta de mantimentos. A nau São Gabriel era o navio do capitão Vasco, enquanto a nau São Rafael estava sob o comando de seu irmão, Paulo, e a caravela Bérrio era conduzida por Nicolau Coelho. Passando pelo Oceano Atlântico, chegara em agosto, a Cabo Verde, para abastecer, e seguiu direto. Navegou mais para oeste e viu sinais de terra, já que estava próximo do Brasil, quando virou a esquadra a leste, finalizando o trajeto na África Ocidental. Ao chegar no Cabo da Boa Esperança, enfrentou uma brutal tempestade, com suas ondas invadindo as frestas do casco, enquanto os navios balançavam como loucos no mar. A tripulação ficou apavorada com as águas que faziam tremer navios tão frágeis. Destemido e corajoso, o capital Vasco da Gama não se intimidou e, forçando a tripulação a seguir, acabou sendo o segundo navegante a ultrapassar o cabo tormentoso. Na prática, além do trajeto do cabo ser perigoso, os pedregulhos das águas poderiam encalhar ou mesmo destroçar os navios. Em 14 de março de 1498, Vasco da Gama chega a Sofala, zona litorânea e comercial de islâmicos e hindus, na costa de Moçambique. Os islâmicos e hindus da cidade viram com maus olhos as naus portuguesas, pois se sentiam ameaçados pelos europeus. Vasco da Gama, ao chegar à cidade, tenta, sem sucesso, encontrar informações sobre o lendário rei Preste João. Na ilha de Moçambique, são atacados por mouros, que os descobrem como inimigos cristãos, e Vasco da Gama manda bombardear a cidade, por retaliação. Em 7 de abril, chegam a Mombaça, e convidados pelo sultão local, temem uma emboscada. Recusam-se a descer e os portugueses vão embora do local. No dia 15 de abril, chegam a Melinde e encontram ventos mais favoráveis. O sultão local é mais simpático aos portugueses. Diálogo e troca de presentes causam boas relações entre as duas partes e Vasco da Gama liberta alguns mouros prisioneiros para o chefe da cidade. Em troca, o sultão oferece seu piloto árabe para leva-lo a Calicute, na Índia.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjruPetYLPyzzBMxkTYdlFzNhYH3LAOUhxXIhU_BrEi6U-1_AW0g884IRgrWvA88DekylITYsfYw2GDLd8-iLke9NcLvnC2diDuMMHFFRPyfYIPwbk6X9Pan2JEeX1HZDiC-iPE/s1600-h/Calicute.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5049370374945370594" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjruPetYLPyzzBMxkTYdlFzNhYH3LAOUhxXIhU_BrEi6U-1_AW0g884IRgrWvA88DekylITYsfYw2GDLd8-iLke9NcLvnC2diDuMMHFFRPyfYIPwbk6X9Pan2JEeX1HZDiC-iPE/s320/Calicute.jpg" border="0" /></a>No dia 20 de maio de 1498, Vasco da Gama chega às Índias. Se os portugueses ficaram maravilhados com o intenso comércio na África oriental, não deixaram de ficar mais espantados com a riqueza, o fausto e a dinâmica da cidade indiana. O comandante da frota foi apresentado ao Samorim-rajá, ou melhor, ao <em><strong>“senhor dos mares”</strong></em> de Calicute, líder político da cidade. Inicialmente, Vasco da Gama, envolvido nas lendas de Preste João, acreditava que o príncipe de Calicute fosse um cristão e chegou a confundir um templo hindu com uma igreja. Quando os portugueses tiveram a sua audiência, no dia 28 de maio de 1498, eles se sentiram completamente intimidados. Esperavam um acordo diplomático, representando o rei de Portugal e se viram numa extrema mendicância, tamanha a riqueza daquele monarca oriental. O líder da cidade estava vestido de jóias e ouro, de cabeças aos pés, sem contar sua corte, que era um luxo sem fim nas roupas. Vasco da Gama chegara polido, afirmando desejar consolidar uma aliança entre tão grandes e poderosos reis. Todavia, pra consolidar a completa gafe diplomática, o capitão Vasco mostrou como presentes do rei de Portugal, ridículas oferendas ao príncipe indiano: <strong>açúcar, mel, azeite, chapéus. . .<br /></strong><br />Ofendido, o Samorim manda deter Vasco da Gama. O capitão, despitando a guarda indiana, orienta um marinheiro a avisar a seu irmão, que volte para Portugal e avise ao rei, da hostilidade do príncipe de Calicute. O marujo consegue fugir dos guardas e ir para a praia, até chegar a nau São Rafael. Paulo da Gama se recusar a ir e ameaça destruir Calicute pelos canhões e bombardas, se Vasco da Gama e sua tripulação não for solta. O Samorim, pressionado, acata a decisão do lusitano, enquanto a mourama, enfurecida, ameaça matar os portugueses na praia. Paulo da Gama chega com os comerciantes árabes e tenta negociar com eles, trocando tecidos e outras mercadorias por especiarias, acalmando os seus ânimos, por enquanto.<br /><br />Em 24 de maio, o Samorim concede aos portugueses, o direito de vender suas mercadorias, enquanto são abertamente hostilizados pelos mouros e hindus da cidade. Os portugueses estão numa situação de vulnerabilidade. Quase três meses depois, em 19 de agosto de 1498, Vasco da Gama detém vários indivíduos ligados ao Samorim, como reféns, para negociar um acordo de comércio e a garantia da vida dos portugueses. O príncipe indiano se recusa a negociar e troca os lusitanos da terra, pelos reféns do navio de Vasco da Gama. Em 29 de agosto, a frota portuguesa abandona Calicute, sem cumprir o acordo de comércio entre as partes. Passam pela Ilha de Angediva, em Goa, e na data do dia 25 de setembro de 1498, um homem se apresenta, infiltrando-se na nau São Gabriel. Falando o dialeto de Veneza, dizia-se árabe, porém, cristão, e que servia um poderoso senhor com um grande exército, pronto a apoiar os portugueses. À primeira vista, Vasco acreditou na história, contudo, desconfiado, pediu para averiguar a informação e descobriu que era uma armadilha. Capturaram o pobre sujeito e o torturaram, com açoites e pingos de óleo fervente, para revelar a trama. Descobriu-se que ele era judeu convertido ao islamismo, e ele acabou negando qualquer trama contra os portugueses. Pelo contrário, declarava estar feliz em ver aqueles <em><strong>“francos”,</strong></em> ou melhor, aqueles europeus <strong><em>(os francos se confundiam no imaginário oriental com os cruzados)</em></strong> por aquelas plagas. Os portugueses não creram na história e o homem foi levado na viagem, para Portugal.<br /><br />Como ele era um visivelmente inteligente e culto, acabou por conquistar as simpatias do capitão da frota, o próprio Vasco da Gama. Esse homem, quando chegou a Portugal, foi batizado no catolicismo, com o sobrenome de seu protetor, e virou cristão-novo, abandonando formalmente o judaísmo e o islamismo. Em homenagem aos reis magos, foi chamado Gaspar da Gama. Não se sabe ao certo onde ele nasceu. Supõe-se apenas que era eslavo, provavelmente nascido na Polônia ou na Bósnia, no ano de 1440, e era um arquétipo do verdadeiro judeu errante, praticante de suas tradições religiosas, e comerciante nato. Quando era ainda menino, foi viver em Alexandria, no Egito e conheceu vários lugares da Europa e da Ásia, em particular quase todos os entrepostos comerciais do mundo. Por volta de 1470, viajou pela Península Arábica e chegou à Índia, onde se converteu ao islamismo. Ao chegar a Portugal, virou presença marcante na corte portuguesa, quando detalhou ao rei Dom Manuel, o funcionamento e as rotas dos entrepostos comerciais árabes na Índia. Outra qualidade havia em Gaspar da Gama: <strong>a sólida cultura lingüística, causada por anos de viagem e conhecimentos dos mais variados povos.</strong> Ele dominava o árabe e o hindu e provavelmente sabia falar várias línguas africanas e européias. Poucos anos depois, ele se tornaria o <strong><em>“língua”,</em></strong> ou melhor, o tradutor da esquadra de Pedro Álvares Cabral.<br /><br />Na mesma ilha de Angediva, os portugueses sentem dificuldades de zarpar, por causa da calmaria dos ventos, que não impulsionavam as velas das naves. Finalmente, no dia 5 de outubro, conseguem partir de volta para suas casas. Chegam de novo a Melinde, e a nave São Rafael, demasiado avariada, é abandonada e queimada, para que os árabes não tenham acesso às tecnologias arquitetônicas dos navios portugueses. Conseguem dobrar o Cabo da Boa Esperança e chegam na Guiné. Paulo da Gama, irmão do capitão, está muito doente, e, enquanto a caravela Bérrio, comandada por Nicolau Coelho, volta pra Lisboa, a nau São Gabriel ruma para Cabo Verde. Vasco da Gama entrega o comando da nave a João Dias, enquanto leva o irmão enfermo para o Açores, onde Paulo acaba por falecer. Volta enlutado, para Lisboa, em agosto de 1499 e foi recebido com grandes honras pelo rei. Se antes era um marginal da nobreza de sua família, Vasco acabou sendo elevado como <em><strong>“dom”,</strong></em> além de ganhar o título da fidalguia de conde de Vidigueira e Almirante do Mar das Índias. Mais de dois terços da tripulação da Vasco da Gama morreu na viagem e só 55 pessoas voltaram para Portugal. Se a viagem foi dispendiosa, cara e pouco compensatória, uma vez que os portugueses não conseguiram fincar feitorias comerciais nas Índias, contudo, Portugal conseguiu uma rota valiosa para o mar, a ponto de superar seus rivais europeus e árabes. As Índias, depois de quase um século de tentativas, estava ao alcance dos portugueses. </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><strong>(Cancioneiro musical de Belém)</strong></div><div align="justify"><strong></strong></div><div align="justify"><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3IiWTa47VzqliJYYxTySZtwaLkt8rnZHWAhq81qpNv2m37-b47hoQpVxnA5sNc5AANTyadcmfSL0nN5hciO9XUUnFtuA_d_P5RHT4IzyK__PHWfKWrZB3bt5TATGbDuki0jXi/s1600-h/400px-CancioneiroDeElvas.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5049634483014093954" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3IiWTa47VzqliJYYxTySZtwaLkt8rnZHWAhq81qpNv2m37-b47hoQpVxnA5sNc5AANTyadcmfSL0nN5hciO9XUUnFtuA_d_P5RHT4IzyK__PHWfKWrZB3bt5TATGbDuki0jXi/s200/400px-CancioneiroDeElvas.jpg" border="0" /></a>O Cancioneiro de Belém é coletânia musical renascentista, descoberta na Biblioteca do Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia, em Belém, Portugal, e contém 18 peças musicais. O Cancionerio de Belém provavelmente foi publicado em 1603, embora suas peças tenham sido compostas até na segunda metade do século XVI. Fala-se então da chamada <em><strong>"música maneirista"</strong></em> lusitana, que é uma mescla de músicas vindas da tradição espanhola e ritmos da polifona flamenga, então vigentes em Portugal. Há de se notar também os modismos da Itália, em particular, na poesia e na instrumentalização musical. A grande maioria das autorias das peças do Cancioneiro de Belém são desconhecidas, embora possam ser identificados alguns mestres da música portuguesa renascentista, como Antonio Carreira, organista e Mestre de Capela dos reis Dom João III e Dom Sebastião. Encontra-se também nas letras, poetas da Renascença portuguesa e espanhola, como D. Manuel de Portugal, <strong><em>(Aquella voluntad que se ha rendido),</em></strong> Cetinna "la monja" <strong><em>(Ay de mi Sin ventura),</em></strong> Jorge de Montemor, <strong><em>(Flerida emn cuya mano)</em></strong> e Garcilaso de La Vega <strong><em>(O Mas dura que Marmor). </em></strong>A grande maioria das músicas retrata o conceito do pessimismo no amor, uma tradição comum na cortesania renascentista e no amor cortês medieval. Há também os vilancicos, peças pastorais que retratam cenas bucólicas e rurais. A peça <strong><em>"Pues a Dios humano vemos"</em></strong> é, provavelmente, uma peça de Natal, em comemoração a Natividade. Enfim, um universo musical em sons, na época dos Descobrimentos! </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><strong>(Cancioneiro de Belém - Século XVI)</strong></div><div align="justify"><strong></strong></div><div align="justify"><strong></strong></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10064">01.Pues a que Dios humano vemos (anônimo).</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10065">02. Ay de min sin ventura.(anônimo).</a></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10066">03.Tento a quatro em sol. (António Carreira- 1525- 1597).</a></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10070">04.Baxad los ojos (anônimo).</a></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10067">05.Oh dulçe suspiro mio (anônimo).</a> </div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10068">06.Tiento (Miguel de Fuenlana - 1500 - 1579).</a></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10069">07.Venid a Suspirar al verde prado (anônimo). </a></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10072">08.Desperança vos vestistes (Anônimo).</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div>Conde Loppeux de la Villanuevahttp://www.blogger.com/profile/03123027651841021079noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-38583270.post-60083123770199731732007-03-13T06:37:00.000-07:002007-04-03T20:44:37.417-07:00História Trágico-Marítima de Portugal I: Memórias do Império Marítimo Português.<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4eL-tunpPnqUko73WhyphenhyphenymtRif4IDM1XQTI3mi7WaHbzGfHXqVmkCZo-X6fw_5mz8_qDx03eEKAhYH3PDIvDQxBm6JeNwr5D8X4Er13HO66t05_6u9dw_P3NDUaE-KDvGUJRE8/s1600-h/nauportuguesa.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5041403083837123938" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4eL-tunpPnqUko73WhyphenhyphenymtRif4IDM1XQTI3mi7WaHbzGfHXqVmkCZo-X6fw_5mz8_qDx03eEKAhYH3PDIvDQxBm6JeNwr5D8X4Er13HO66t05_6u9dw_P3NDUaE-KDvGUJRE8/s320/nauportuguesa.jpg" border="0" /></a>Dizem que nas ruas de Lisboa do século XVI, as crianças brincavam de guerras de conquistas. Os meninos, munidos de espadas de madeira, pelejavam pelas ruas, como se fossem fidalgos lutando contra os mouros, enquanto as meninas, que assistiam a tudo, fingiam chorar, tal como suas mães. Na verdade, grande parte dessas crianças era órfã de pais, sumidos nos mares <strong><em>“nunca dantes navegados”</em></strong>, nas famosas palavras de Camões, em os Lusíadas. E suas mães, pobres mulheres de luto, que esperavam os maridos no cais, sem notícias de seus esposos e amados. Quando o Rei Dom Sebastião morreu na batalha de Alcácer Quibir, em 1578, os sebastianistas fanáticos dividiam as atenções com as donzelas no porto. Daí surgiu a frase, <em><strong>“ficaram a ver navios. . .”<br /></strong></em><br />Dois séculos depois, Bernardo Gomes de Brito publica uma coletânea chamada “História Trágico-Marítima”, relatos de terríveis naufrágios dessa época de epopéia, aventura, terror e morte que foi a “Era dos Descobrimentos” <strong>(nas palavras dos próprios descobridores europeus <em>“achamentos”</em>).</strong> É interessante pensar que o termo “descobrir” não faria sentido no século XVI: <strong>descobre-se o que está coberto, enquanto acha-se o que é perdido.<br /></strong><br />A história marítima portuguesa do século XVI foi uma das mais épicas e fantásticas que se há notícia. Ela mistura elementos do amor, da tragédia, do conflito cultural, das guerras e mesmo o sintoma mesmo da modernidade. A epopéia marítima de Portugal relata a separação das damas lisboetas e dos cavaleiros para as águas do Mar Tenebroso, dos imensos oceanos e suas frágeis naus, para descobrirem novos mundos ou morrerem na travessia. Retrata também a ligação do mundo, através dos mares e das rotas comerciais, que modificaram para sempre a história da humanidade. O mundo começou a se tornar pequeno, a partir daí. . .<br /><br />No entanto, a história se inicia a partir do século IX, quando o comércio europeu começa a se revigorar, a despeito de séculos de estagnação mercantil. Nas cidades, surge um grupo de pessoas livres, sem vínculos com as classes aristocráticas, que investe em comércio. Não possuidores de terra, vivem das trocas e vagam por vilas e castelos, para vender suas mercadorias. Na prática, eram pequenos feirantes, excluídos das terras senhoriais, que faziam a vida nas cidades, transferindo mercadorias e serviços. Os mercadores, apesar de se locomoverem livremente, fincavam pontos comerciais onde poderiam ser encontrados ou fixassem moradia. Tais cidades onde viviam eram os burgos. E seus moradores eram os burgueses. E assim surgiu a sociedade comercial.<br /><br />O comércio gerou uma revolução econômica na Europa feudal. Muitos servos fugiam ou abandonavam os feudos para tentarem a vida comercial e as práticas de mercancia eram uma oportunidade de sustento para muitos que se livravam dos pesados fardos da hierarquia medieval. A escassez de terras e a difícil aquisição destas, restringia a posse de muitos à atividade agrícola. A riqueza chama àqueles que a buscam e os burgos atraíram novas levas populacionais para as cidades. O mercado cresceu, e junto com elas, os burgos comerciais, com seu fausto de liberdade e prosperidade. </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivJtrbJsL0xaQ8dZqsi1XlATpBmjJri2DL-6xEvOJreSdNVrlc6Jwl0MfYc3ha6PBb3KfsHLAiLD_E9WE_4FiEdHuHq5EnWuNsFdnGgUoZmXSKCIKlM5U0oKUDDdn12NDdDTUB/s1600-h/tresestados.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5041428011827310114" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivJtrbJsL0xaQ8dZqsi1XlATpBmjJri2DL-6xEvOJreSdNVrlc6Jwl0MfYc3ha6PBb3KfsHLAiLD_E9WE_4FiEdHuHq5EnWuNsFdnGgUoZmXSKCIKlM5U0oKUDDdn12NDdDTUB/s200/tresestados.jpg" border="0" /></a>Outro fenômeno marcante das cidades medievais é a busca pela prosperidade. Pode-se dizer que a burguesia reinventou a idéia de ascensão social. O propósito de ascensão social e econômica era virtualmente ignorado, senão inútil, em boa parte da Idade Média. O status de cada indivíduo da sociedade medieval era determinado pelo nascimento e pelo caráter hereditário de sua família, cuja mobilidade social era quase nula. Um nobre nascia e morria nobre, como um camponês nascia e morria camponês. E mesmo a economia agrária e de subsistência não ajudava. A ética do trabalho e da acumulação de capital foi engendrado pelo pensamento burguês das cidades, em particular, dos prósperos comerciantes. Na velha divisão social dos cavaleiros que lutam, dos monges que rezam e dos camponeses que trabalham, o burguês era uma figura anômala, excluída das complexas hierarquias do sistema feudal.<br /><br /></div><div align="justify">Uma característica peculiar do burgo medieval era o grau de liberdade civil. As cidades comerciais eram governadas, em sua grande parte, por assembléias, e os cargos eram eleitos pela comunidade. Quem detinha algum tipo de propriedade na cidade, poderia eleger e ser eleito. Foram as cidades burguesas medievais que fundamentaram as primeiras legislações democráticas modernas. As leis civis, as comunas parlamentaristas dos moradores da cidade, o trabalho livre e assalariado, contrastavam com os domínios senhoriais dos nobres e reis da época. Perspectiva de vida melhor e liberdade civil era o melhor emblema dos burgos. Um provérbio medieval refletia esse espírito: <em><strong>“stadtluft macht Frei”,</strong></em> <strong><em>“o ar das cidades nos torna mais livres”. </em></strong>E, se for observado por uma ótica moderna, no êxodo rural para as cidades, qualquer camponês parece respirar essa liberdade que as cidades acalentam, em oportunidades e melhoras de vida. </div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0gBQ-OGwsRUXTfKefxI6acnwBE9AKIORhhMlFJ2-0wu4QM0DiOEHcWeMaPCAWpZ3qa5tJAD-T00MfKna3yPn4GGh8SSpExZ-ASC_VZJ3K5O1S8Pdx56_0exiBBG0oYFIc08R0/s1600-h/cidademedieval.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5041430215145532994" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0gBQ-OGwsRUXTfKefxI6acnwBE9AKIORhhMlFJ2-0wu4QM0DiOEHcWeMaPCAWpZ3qa5tJAD-T00MfKna3yPn4GGh8SSpExZ-ASC_VZJ3K5O1S8Pdx56_0exiBBG0oYFIc08R0/s200/cidademedieval.jpg" border="0" /></a>No mundo medieval, esse espírito não era diferente, embora o processo desse êxodo fosse muito lento, gradual e durasse séculos. Se os bispados da Igreja evitaram a extinção das cidades medievais, o comércio acabou por reforçá-la. Embora elas crescessem em matéria de população, o número de habitantes continuava muito pequeno em comparação ao campo. Na verdade, as cidades medievais, apesar de ricas, eram muito desconfortáveis. As casas eram apertadas e as feiras muito sujas. O excesso de residências apertadas e justapostas umas a outras e seus telhados altos acabavam por escurecer internamente as ruas. Na verdade, as ruas eram verdadeiras vielas lamacentas e cheias de sujeira. Não havia calçadas e, no geral, a largura das vielas era do tamanho do ombro das pessoas. Era comum que elas se esbarrassem nas paredes e ficassem cheias de hematomas. Não havia esgoto: fezes, urinas, restos de comida, eram simplesmente jogados na rua e os ratos e baratas conviviam abertamente com os moradores. As muralhas dos burgos tornavam o clima interno ainda mais insuportável. Os setores comerciais eram divididos em cada rua ou passarela. Havia a <strong><em>“rua do Peixeiro”,</em></strong> a <em><strong>“rua do moleiro”,</strong></em> a <em><strong>“rua do tecelão”,</strong></em> cada bairro ou trajeto da cidade representando a prática de um ofício. Quando a cidade crescia além da muralha, era comum o complexo de casas se misturar com as defesas da cidade. Na melhor das hipóteses, construíam novas muralhas, para defender os novos moderadores. Porém, tal situação poderia ser considerada um certo luxo, se comparada à vida no campo, que não era menor pior.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsueaK8aAZy57yvY7iJAiIAQNacF8vAh-EQsqMSwHcRnGDUdsURWc9YwHK5cs1vFJLsvepC0GgnXureQYUQffWOstbIa5e9YxFYN6qIZwPJul1s9NHZqcRYu-8idXfF3T8dD4j/s1600-h/camponesmedieval.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5041426598783069698" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsueaK8aAZy57yvY7iJAiIAQNacF8vAh-EQsqMSwHcRnGDUdsURWc9YwHK5cs1vFJLsvepC0GgnXureQYUQffWOstbIa5e9YxFYN6qIZwPJul1s9NHZqcRYu-8idXfF3T8dD4j/s200/camponesmedieval.jpg" border="0" /></a>Os camponeses, em geral, viviam em choupanas fedidas. Eram imundos e encardidos e dizia-se, parecia que a sujeira era o estado natural deles. Grande parte dos camponeses era tão pobre, que só viviam para trabalhar e comer. As roupas eram tão escassas, que muitos deles trabalhavam praticamente nus no verão, pra economizar as roupas no inverno. Conheciam momentos de fartura, quando as colheitas eram boas, mas a fome era uma regra comum. O cotidiano nessas vilas era parado, quase estático, e por séculos, era comum gerações conviverem com o mesmo estilo de vida de seus avós ou bisavós. Mesmo as mudanças eram sentidas muito lentamente nas cidades, que eram sonolentas. O mais estranho, contudo, é que uma boa parte dessas vilas camponesas não tinha nomes. Era perfeitamente possível que um camponês pudesse se perder de sua vila, se saísse do lugar. Ademais, nem mesmo as famílias camponesas possuíam sobrenome, privilégio das famílias aristocráticas. Uma boa parte dos europeus medievais só se conhecia pelo primeiro nome, ou, quando havia nomes idênticos, faziam distinções pelo nome do lugar, do oficio ou de uma característica física ou psicológica. Era possível identificar um camponês por <strong><em>“João do Lago”,</em></strong> ou <em><strong>“Luis Peixeiro”.</strong></em> Ou até <strong><em>“Pedro Feio”.</em></strong> Alguns patronímicos de plebeus ligavam-no às cidades de origem, como <strong><em>“Jean de Avignon”</em></strong>, <strong><em>“Manuel Lisboa”</em></strong>, ou mesmo os próprios sobrenomes aristocráticos da nobreza. Os plebeus da Europa, em particular, nos países católicos, só começaram a usar patronímicos registrados, a partir do século XVI, no Concílio de Trento.<br /><br />A grande maioria dos camponeses residia em vilas isoladas, cujo contato com outros povoados era quase nulo. Essas vilas, muitas vezes, não contavam cem pessoas. As estradas eram íngremes e os salteadores e bandidos atacavam sob o menor descuido. Aliás, a informação, em geral, não circulava, já que imprensa não existia. Alguns fatos da história européia, como a mudança de papas e morte de reis, poderiam passar anos, sem que os habitantes camponeses da vila soubessem.<br /><br />Havia mais gente dispersa nas florestas fechadas, matas e campos da Espanha, França, Itália, Alemanha e Polônia do que em qualquer cidade medieval. No final do século XV, cerca de 90% da população européia vivia no meio rural. Isso significava cerca de setenta milhões de pessoas que só viviam no campo, em aldeias e vilas pequenas perto das propriedades senhoriais. As cidades mais populosas da Europa não passavam de cem mil habitantes. A Itália, que no século XVI, contabilizava cerca de treze milhões de habitantes, e, portanto, era o país mais denso da Europa, suas cidades mais populosas, Nápoles e Veneza, contabilizavam, cada uma, cento e cinqüenta mil habitantes. O mesmo número populacional contabilizava Paris, na França, o país mais populoso da Europa, com quinze milhões de habitantes. Na verdade, as cidades mais populosas eram também as mais comercialmente prósperas. Tal facilidade se dava, porque algumas dessas cidades eram litorâneas ou viviam perto de rios ou estradas. Há de se lembrar que por uma boa parte da Idade Média, a maioria das estradas européias que ligavam as cidades era ainda do tempo do Império Romano.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhr5hcHhnO-LNvLmbrd_Kx9PRmNIWH8yGR1Dtglhf777PYvZUi68U07GRm113MJT1RRv6IwZmITtqWKAJabg1NUAXojjL1TQFW2Lq0Y1ScAQuYkG30ipyyMcGEXeoMptu-tNB9i/s1600-h/messina.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5041423197168971170" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhr5hcHhnO-LNvLmbrd_Kx9PRmNIWH8yGR1Dtglhf777PYvZUi68U07GRm113MJT1RRv6IwZmITtqWKAJabg1NUAXojjL1TQFW2Lq0Y1ScAQuYkG30ipyyMcGEXeoMptu-tNB9i/s320/messina.jpg" border="0" /></a>As cidades italianas foram as pioneiras do florescimento comercial europeu. Isso é explicável porque, geograficamente, a Itália estava próxima do Mediterrâneo, tradicional via marítima para o comércio entre Europa e Ásia. Em parte, as cidades italianas se tornaram o caminho para a Terra Santa, por mar. Messina era a zona portuária para a cavalaria cruzada antes do Chipre e do Oriente Médio. Era uma cidade cosmopolita, cheia de mercadores bizantinos e árabes, tal como muitas no Mediterrâneo. Antes de ser o portal marítimo para o Mediterrâneo e a Palestina, Messina foi dominada pelos mouros, no século X. Em 1085, os normandos expulsaram os islâmicos e reconquistam a cidade. Se por um lado, a vinda de novos cavaleiros era sinal de novos clientes, por outro, as cruzadas causavam muita confusão nas cidades italianas. Multidões inteiras de mercenários vindos do norte assustavam os pobres citadinos italianos, que temiam ver seus bens roubados. Em particular, na terceira cruzada, houve uma verdadeira escaramuça entre os cruzados de Ricardo Coração de Leão e os moradores de Messina: como o alto contingente do exército inglês se encontrava nas portas da cidade, os preços dos alimentos subiram nas alturas. O rei não queria pagar o preço dos mercadores e o que se viu, no final, foi uma pequena luta, em que o próprio Ricardo cercou a cidade e ameaçava saqueá-la.<br /><br /><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5041427217258360338" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguR7EqkmrRoXeRlcga0Zua2EmIQvX8F5Nm_rsNetmgcZ3pZraMZEQcFPzhDlWfFFHycQ1KdaOJCqi0lwSAu7IDla2MrrFKUmaAk4_9hhnv_ldL78ypj_7jY5KKcqFg1jy3Wzee/s200/cruzada_peregrino.jpg" border="0" />Com as rotas exploradas pelos cruzados, muitos mercadores acompanham os cavaleiros, em busca das especiarias do Oriente e, em particular, das Índias. No entanto, havia a rota terrestre, que ia da Alemanha até o Leste Europeu, chegando a Constantinopla. Foi por este caminho que a chamada <strong><em>“cruzada popular”,</em></strong> do fanático Pedro, o <strong><em>“eremita”</em></strong>, chegou à capital do Império Bizantino, em 1095. Quase dois séculos depois, no século XIII, essas rotas formaram novos empórios comerciais medievais entre os quais, na Alemanha, Flandes e Holanda, indo até a Escandinávia: a chamada Hansa Hanseática. A Hansa era um emaranhado de setenta cidadelas comerciais, que importava mercadorias do Oriente e as revendiam para toda a Europa central e do Norte. As suas principais cidades, Lübeck, Bremen e Hamburgo, organizavam essa liga multinacional de burgos. Sua intenção era proteger as cidades comerciais e as rotas da pirataria e mesmo de novos concorrentes.<br /><br />Interessante perceber que o conceito moderno de <strong><em>“livre mercado”</em></strong> não era um fato na Idade Média. O comércio era visto dentro de um prisma corporativista, tal como as relações em geral, da sociedade medieval. As guildas e associações de oficio dos burgos visavam proteger os comerciantes associados contra os competidores rivais. Até as rotas se tornavam monopólicas: como a atividade comercial era uma concessão pública de um monarca e as rotas, um caso de conquista militar, as cidades comerciais, por vezes, entravam em guerras entre si. Na Itália, as cidades de Pisa, Genova e Veneza estavam em constante guerra pela disputa das rotas comerciais do Oriente. Por vezes, as cidades de Genova e Veneza financiavam as guerras internas do próprio Império de Constantinopla, disputando os pontos comerciais. Em 1204, Veneza conquistou seu passe livre para comercializar com o Oriente, depois que seus mercenários saquearam a cidade de Constantinopla e promoveram seu imperador. Em 1261, a dinastia dos Paleólogos conquista a cidade e o império expulsa os venezianos, promovendo seus aliados genoveses, que financiaram seu exército. Os pisanos e os florentinos ficaram de fora dessas rotas. Até os alemães sentiam a dificuldade do lidar com o preço das mercadorias, já que uma boa parte das vias do oriente estavam controladas pelas duas cidades italianas rivais. Genova e Veneza tinham primazia do comércio europeu, nos séculos XIII, XIV e XV, por uma seguinte razão: as duas cidades sabiam explorar as relações diplomáticas com o Império Bizantino e mesmo os rivais árabes e turcos. Se as rotas comerciais ficassem nas mãos de duas cidades, o mercado europeu poderia ser estrangulado pelos preços altos.<br /><br /><br /><strong>A epopéia portuguesa e a crise das cidades italianas.<br /></strong><br /><br />Novas nações começaram a surgir no horizonte da sociedade medieval: diz respeito às monarquias nacionais, em particular, Portugal, a primeira nação-estado, de fato, a existir na Europa. A necessidade de usar as rotas marítimas dos venezianos e genoveses encontrava sérias dificuldades políticas e militares. A localização de Portugal, como o país mais afastado da Europa, não ajudava no trajeto para o oriente. Por outro lado, além das complicações militares com uma caríssima guerra contra os italianos e mesmo os turcos no Mar Mediterrâneo, havia o problema dos atravessadores árabes e hindus que transportavam as especiarias das Índias. Os comerciantes holandeses, franceses, espanhóis e mesmo os portugueses, poderiam fazer sociedades com os italianos, como de fato, existia. A dificuldade, contudo, é que o comércio da Europa ficava a mercê deles!<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFlh18bHBzZnmh25xkG09xmU4JHa5Bk_dhNvpA2c1ZI9w6P4feaW-q7La3WjnANFAPclHEfOZIqkuxnAq3szyvXbMLh8t5lCpgqQfBJBPKXXbDWqhhylcSagV91Y9GyIoMDCGv/s1600-h/mercadormedieval.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5041429171468480050" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFlh18bHBzZnmh25xkG09xmU4JHa5Bk_dhNvpA2c1ZI9w6P4feaW-q7La3WjnANFAPclHEfOZIqkuxnAq3szyvXbMLh8t5lCpgqQfBJBPKXXbDWqhhylcSagV91Y9GyIoMDCGv/s200/mercadormedieval.bmp" border="0" /></a>As mercadorias das Índias, para chegarem aos entrepostos comerciais do Ocidente, possuíam três rotas orientais: caravanas saíam da Índia, passando pelo norte da China e pela Ásia central e Oriente Médio, chegando até o Mar Negro; outras duas vias eram marítimas: navios árabes viajavam pelo Oceano Índico, passavam pela Península Arábica e subiam o Mar Vermelho, chegando a Gaza, na Palestina, ou a Alexandria, no Egito. Ou então, subiam o Golfo Pérsico até o Norte da África. O comércio das especiarias era muito lucrativo, compensando os enormes prejuízos dos investimentos em navios e mesmo em pagamento de transportes. Porém, as rotas eram difíceis e os riscos de investimento, altíssimos. Para sair da Índia e chegar à primeira feitoria italiana em alguma cidade da Grécia ou da Palestina, as mercadorias passavam por uma dezena de atravessadores. Mesmo os italianos estavam à mercê das tendências políticas e caprichos dos mongóis, turcos e os próprios bizantinos. E pagavam caro pela instabilidade. A queda de Constantinopla, em 1453, abalou as relações comerciais entre Oriente e Ocidente, já que os laços que uniam as cidades italianas ao império bizantino foram extintas. Os turcos hostis fecharam a entrada da Ásia e ameaçavam se expandir pelo Mediterrâneo, dificultando mais ainda as rotas comerciais para a Europa. Só a República de Veneza conseguiu ainda preservar velhas alianças com os árabes. É neste ínterim que entra o legado português na expansão do comércio e na abertura da Europa.<br /><br />Antes da Revolução de Avis, em 1385, quando Portugal elevou Dom João I a rei, a nação lusitana já tinha uma longa tradição comercial e marítima, em parte, financiada pelos judeus do reino. A burguesia lisboeta, cristã ou judaica, tinha laços fortíssimos com os entrepostos comerciais ao norte da África e faziam sociedade, ora com os genoveses, ora com os venezianos, pela primazia das rotas comerciais. São conhecidas bancas comerciais portuguesas na Hansa Hanseática, uma vez que traziam mercadorias de Lisboa ou mesmo das cidades italianas de Genova e Veneza. No final do século XIV, o reino português fazia acordos comerciais com Genova, Veneza, Florença e Pisa, e transformava os banqueiros dessas cidades em sócios das bancas portuguesas. Grandes somas de investimentos europeus vão para Lisboa, uma das cidades que mais cresciam na Europa desde então.<br /><br /><br /><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5041424309565500866" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjwWMIF7opbokSPzZZFPXCWEd3nNCSm10XelD6BnhCIJwYC7JyFKO-9NBPljSVdaGQnnbWQf7VBQqYcZTtLDeBubaYWYe67lMkS_0_0W1Rz780tz4LmgqgLgwpBd-4B4ajVW-j/s200/astrol%C3%A1bio.jpg" border="0" />Aliás, Portugal conseguiu unir o que havia melhor de tecnologia náutica daquela época, desde então. Com a ascensão do Mestre de Avis como rei de Portugal, grandes matemáticos e físicos cristãos e judeus eram largamente financiados pela monarquia e pelos mercadores portugueses. Instrumentos de origem árabe, como o astrolábio, o balestrilha, e estudos de astrologia e astronomia islâmicos e judeus eram fartamente conhecidos pelos estudiosos portugueses, que começaram a idealizar, a partir da tecnologia, o poderio que incrementaria o Império Lusitano. Já era tradição a construção de estaleiros para navios e os conhecimentos e engenharia náutica eram trazidos por navegadores mouros do Norte da África e engenheiros de várias partes da Europa. A idéia central era só uma: descobrir uma nova rota para as Índias. E o desafio principal era enfrentar o desconhecido Oceano Atlântico, o Mar Tenebroso, temido pelos portugueses. A expansão já começa no início do século XV, quando os lusitanos, depois de uma feroz batalha, conquistam a cidade de Ceuta, ao norte da África, em 1415. A intenção de tomar a cidade islâmica era no sentido de conquistar o comércio local africano e expandir a influência militar pelo Mediterrâneo, garantindo uma rota protegida de piratas mouros.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwvf-W3VXiji_j8LfLm7RjOYjIIBK770hmbL263zG6cCPs64QIPUpAka0VZTx2M7uSnOzreXRz3ci7QXXjJh384znZ_ROMwHwUaHzVSOrGDkxPALN6AF6dAmDKVEOnaVg73LIt/s1600-h/armasdehenriqueonavegador.png"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5041423824234196402" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwvf-W3VXiji_j8LfLm7RjOYjIIBK770hmbL263zG6cCPs64QIPUpAka0VZTx2M7uSnOzreXRz3ci7QXXjJh384znZ_ROMwHwUaHzVSOrGDkxPALN6AF6dAmDKVEOnaVg73LIt/s200/armasdehenriqueonavegador.png" border="0" /></a>Um homem, contudo, acabou por incrementar uma revolução que modificaria para sempre Portugal. O Infante Dom Henrique, cavaleiro, guerreiro, filho da inglesa Filipa de Lancaster e herdeiro da tradição dos templários, na Ordem Militar de Cristo, idealizou uma sociedade de sábios astrólogos, astrônomos, matemáticos, físicos e engenheiros, dispostos a reinventar a náutica portuguesa: a Escola de Sagres. Investindo grandes somas da própria ordem na qual pertencia, o infante consegue modernizar a marinha portuguesa. Dizia-se que Henrique não somente herdou o físico da mãe loira e alta, como também seus gostos. Filipa de Lancaster era grande financiadora de conhecimentos náuticos, e afirma-se que o próprio poeta Geofrey Chaucer fez estudos a respeito, em nome dela.<br /><br />A tecnologia náutica portuguesa do século XV acabou por se tornar uma espécie de segredo de Estado da coroa. Havia leis severas contra a venda ou mesmo a transferência de segredos náuticos para outras coroas rivais ou inimigas. Dizem que os reis portugueses puniam os espiões ou mesmo os traidores, costurando a boca deles. Mesmo as rotas marítimas, sendo desconhecidas por uma boa parte do mundo europeu, faziam parte dos segredos de Estado da monarquia e de seus investidores comerciantes e cientistas.<br /><br />Há de se reconhecer também a bravura dos navegadores do século XV. Eram homens intrépidos, corajosos até a demência e se depararam com situações inimagináveis, pois enfrentavam mares desconhecidos e mares revoltos. Isso levou o sucesso do navegador Gil Eanes, que conseguiu ultrapassar o Cabo Bojador, na costa da Saara Ocidental, em 1434. O Bojador, até o século XV, era a fronteira última do europeu com o Mar Atlântico. Muitos mitos foram alimentados nessa perigosa travessia, já que uma boa parte dos navios que tentaram enfrentá-lo, acabaram nunca mais sendo vistos. Foi também nessa época que os Açores foram colonizados e anexados ao reino português. Em 1444, os portugueses descobrem o Cabo Verde e no final, acabam ultrapassando toda a Seara Ocidental e chegam na Guiné. Dai constroem os primeiros entrepostos comerciais na costa africana. Em 1460, os portugueses chegam a Serra Leoa e mais de vinte anos depois, Diogo Cão navegou pelo Rio do Zaire e estabeleceu relações comerciais com o reino do Congo. Em 1488, finalmente os portugueses quase dão a volta sobre o sul da África. Bartolomeu Dias chega ao Cabo da Boa Esperança, mas não consegue passa-lo, apavorados que ficaram os homens de sua tripulação.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdZN4RXvBU45E3TSD6e8grJeh0ywlqVkT0aCO1BgTNk2B6XJyUhvuaqhHQj3QMlOG1IOGvPPxkNTWicNRWBc2HsMauFMqI-S43U3bC1Q4zJcG-IA4lXxmJ53d2Ym8vpaSi3yM9/s1600-h/tratadodetordesilhas.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5041424949515628002" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdZN4RXvBU45E3TSD6e8grJeh0ywlqVkT0aCO1BgTNk2B6XJyUhvuaqhHQj3QMlOG1IOGvPPxkNTWicNRWBc2HsMauFMqI-S43U3bC1Q4zJcG-IA4lXxmJ53d2Ym8vpaSi3yM9/s320/tratadodetordesilhas.jpg" border="0" /></a>Nesse interregno, países como Espanha e França começam a se interessar pelas navegações marítimas. Em 1492, Cristóvão Colombo, representando os Reis Católicos Isabel e Fernando, consegue chegar à América. Isso criou um atrito diplomático entre Portugal e Espanha, visto que o reino português se considerava fiel proprietário da exploração do Oceano Atlântico. Tal atrito quase levou os dois reinos à guerra. Espanha e Portugal já tinham assinado acordos, como o Tratado de Toledo, de 1480, que dava primazia para o reino português explorar com exclusividade as terras ao sul das Canárias. Todavia, a bula Inter coetera, assinada no dia 4 de maio de 1493, pelo papa espanhol Alexandre VI, estabeleceu a divisão do Atlântico entre ocidente e oriente, sendo que a linha demarcatória se localizaria a 100 léguas da Ilha de Cabo Verde. A Espanha tinha fincado posse nas América e exigia seus direitos de possessão sobre o território. Mas os embaixadores portugueses não admitiram a bula papal, porque sabiam que a faixa determinada pelo papa só lhes daria águas, ao invés de terras. Novas deliberações foram feitas, terminando no Tratado de Tordesilhas, assinado na data do dia 7 de julho de 1494, que determinava a divisão do oceano a 370 léguas da Ilha de Cabo Verde. Muito se discute a respeito das intenções portuguesas ao recusar a bula papal. Acredita-se que Portugal, embora não tivesse mandado expedições para explorar o território, sabia da existência delas, e pressionou a Espanha para um novo tratado. Isso garantiu aos portugueses toda a costa leste do Brasil e criou precedentes para o seu descobrimento e colonização.<br /><br />Portugal construiu os caminhos para sua ascensão como potencia marítima, comercial e militar. No final do século XV, o reino poderia incrementar uma das epopéias mais desafiadoras que se há noticia: a tão sonhada rota para as Índias e a criação de um império comercial mundial. E no final, Lisboa se tornou a capital do mundo europeu. A continuação dessa história, contaremos em outra postagem. </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><strong>(Cancioneiro de Elvas -Século XVI).</strong> </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10056">01.Dos estrellas le siguen(anônimo). </a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10058">02.Obriga vossa lindeza (anônimo).</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10059">03.Por amores me perdi(anônimo).</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10060">04.Testou minha ventura(anônimo).</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10061">05.Tu gitanas que adevinas(anônimo).</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10062">06.Por que no me ves Joana (anônimo).</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10063">07.Señora del mundo(anônimo - instrumental).</a></div>Conde Loppeux de la Villanuevahttp://www.blogger.com/profile/03123027651841021079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38583270.post-8562737998443402202007-03-01T21:43:00.000-08:002007-03-15T17:22:45.837-07:00As fortunas do cortesão: etiqueta, dança e canto nas cortes européias.<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5o86YxfEkznDIvbOXpApU4hzKbxq1cSxVLLG_pVJ8DqiQ2CfIRs1FsTRKYeRH-824pXrIZG2UK0AxLKhQsmkUbMq8k1auhUcP-UX-exBk4RJWWZF9CsIOjIPp5LHt8DQNYWwg/s1600-h/danzamedieval.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5037198867089672850" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5o86YxfEkznDIvbOXpApU4hzKbxq1cSxVLLG_pVJ8DqiQ2CfIRs1FsTRKYeRH-824pXrIZG2UK0AxLKhQsmkUbMq8k1auhUcP-UX-exBk4RJWWZF9CsIOjIPp5LHt8DQNYWwg/s320/danzamedieval.jpg" border="0" /></a> Uma cena do século XV retrata um casal, em pose de dança, enquanto os cortesãos o seguem. Ao fundo, aparece o mesmo casal na cama das núpcias dos recém-casados. E num extremo da gravura, músicos trumpetistas tocam os ritmos das danças. Pelas vestimentas, reconhece-se a origem aristocrática dos convidados e do casal. E o casal solitário, na cama, trocando suas primícias, denota um individualismo incomum ao mundo medieval. Em todas as cenas do enredo da festa, a comemoração de casamento prenuncia a modernidade renascentista, a realidade do mundo das etiquetas e das fortunas do cortesão. A palavra <em><strong>“cortesia”</strong></em> tem em nossa língua, o sentido da pessoa <strong><em>“polida”, “educada”</em> </strong>e<strong> <em>“gentil”.</em></strong> Tal termo vem das referências da cortesania, ou seja, das práticas de etiqueta e dos modos dos gentis homens da corte. Na prática, esse fenômeno, embora provindo da Idade Média, acabou por se consagrar na Renascença, quando os plebeus, gentis homens e os fidalgos viam nos tratamentos e na gentileza, um elemento de ascensão social na corte e destaque pessoal. Daí perceber os longos e muitos tratados e livros, que a partir do século XVI, consagravam os modos e costumes de se postar publicamente na vida cortesana.<br /><br />Para se compreender o fenômeno da cortesania, há de se entender o que era a corte. A sociedade medieval se refletia nas relações de estamento, onde cada grupamento social vinculava pactos familiares mútuos, em vista de proteções e alianças políticas privadas. A corte, neste caso, era o séqüito dos homens leais ao rei ou ao senhor feudal a fim de servir a sua casa dinástica. Os vassalos seguiam o rei ou o nobre de alta linhagem, promovendo sua causa e seu poder pessoal. Nisto, participavam dos rituais, festejos, missas, que exaltavam a figura real monárquica e davam vida às relações entre nobres. Na prática, a vida na corte era o ponto de encontro entre a monarquia e a nobreza, o teatro da vida social do aristocrata e de suas relações culturais, de entretenimento e da política. Era na vida da corte que o aristocrata se relacionava socialmente com os membros de sua classe e com o rei.<br /><br />No entanto, a corte nem sempre foi um palco de sofisticação. Durante uma boa parte da Idade Média, a nobreza era conhecida pela rudeza e pela falta de polidez. Nos banquetes, os nobres comiam com as mãos sujas e quase sempre arrotavam e limpavam as mãos gordurosas na própria roupa. Isso quando não assoavam o nariz na manga dos próprios trajes ou nos librés dos criados. Era comum os homens gesticularem na mesa e baterem seus braços nas mulheres para comer. O trato para com elas era grosseiro e, em alguns casos, acintoso e indecente. O modo de falar nobiliárquico era jocoso, já que uma boa parte dos nobres não tinha o menor domínio da escrita. Eram quase todos analfabetos. Raro era um príncipe medieval que soubesse ler. Viam com desconfiança qualquer manifestação de cultura na aristocracia, uma vez que o ofício intelectual era uma prática de padres ou mesmo de homens efeminados. Foi com essa mesma pecha de efeminados, que os cruzados francos julgavam os sofisticados bizantinos, quando passaram por Constantinopla, durante a Primeira Cruzada. Os homens eram rudes para com as mulheres, e, em alguns casos, violentos. Espancar e surrar a esposa parecia aceitável, contanto que não a matasse. Se este costume odioso já existia na nobreza, entre o povo, era pior ainda. Embora as mulheres tivessem uma educação religiosa férrea, sob os auspícios da Igreja, elas eram conhecidas pela indelicadeza e sujeira. As mulheres medievais tinham os cabelos gordurosos e os piolhos eram relativamente comuns. Há quem afirme que um costume horrendo do senhor feudal era se aquecer no frio com os cães do curral. A falta de higiene e mesmo de zelo comportamental era espantoso. Banho, nem pensar! Na verdade, nem na Renascença e na Idade Moderna, a higiene era o forte do mundo europeu. Da plebe até os nobres, todos eram conhecidos pelo fedor. Os árabes e os indianos que descreviam os europeus, notavam uma peculiaridade reconhecível neles: <strong>o insuportável cheiro das roupas, dos cabelos e do corpo.</strong> Porém, o uso de cosméticos e perfumes introduzidos na corte, disfarçavam o mau cheiro, embora poderia ser particularmente desagradável tamanha mistura de odores. Os hábitos de lavar as mãos e usar o guardanapo já amenizavam a rudeza dos costumes. </div><div align="justify"><blockquote></blockquote></div><div align="justify"></div><div align="justify"><blockquote></blockquote>Os palácios, quando patrocinavam festas, acumulavam sujeiras e restos de comida dos cortesãos. Se uma família nobre passasse meses distraindo um rei, havia a necessidade desesperada de ir embora do recinto, sob pena de a sujeira se transformar em surto de peste e doenças. Os servos aproveitavam a ausência das famílias aristocráticas, que se retiravam para outras propriedades, enquanto limpavam a absurdidade de lixo que era acumulada nas festas cortesãs. Centenas de aristocratas eram servidos nos banquetes e saraus, e toneladas de bois, carneiros e porcos eram abatidos para consumo. Os gastos eram astronômicos. Torneios, espetáculos teatrais faustosos, dança, música e poesia eram os divertimentos dos homens da corte. Há vários relatos curiosos sobre isso, no século XVI: <strong>um cortesão elizabetano chegou a construir um rio artificial perto de seu castelo, com artistas, navios e músicos, para agradar a rainha Elizabeth I da Inglaterra.</strong> Em 1550, na corte francesa de Henrique II, há uma peça teatral magnífica que retrata as coreografias e danças de ameríndios: <strong>participavam dessa encenação, os próprios índios tupinambás, junto com outros artistas, europeus, imitando os seus rivais tabajaras.</strong> Inclusive, encontravam-se prostitutas nuas imitando as mulheres índias. Os comerciantes de Rouen queriam agradar Sua Majestade Real e patrocinaram o espetáculo aos cortesãos. Encontravam-se na pequena cidade portuária da Normandia, Mary Stuart, futura rainha da Escócia, e o filósofo Michel de Montaigne. </div><div align="justify"></div><div align="justify">Ademais, como arcar uma festa era sinal de status, uma delas, no século XVII, custou a prisão de um cortesão poderoso: <strong>Nicolas Fouquet, o outrora todo-poderoso ministro do Cardeal Mazarin. Ao patrocinar uma comemoração ao rei Luis XIV, Fouquet, o homem mais rico da França, atraiu o ressentimento do monarca. </strong>O súdito abastado, inclusive, doou um castelo para uma amante do rei. Durante anos, a ostentação do ministro, acumulada por um status político incomum e por uma vendavel da falcatruas, era uma ameaça ao poder absoluto, pelo menos na visão de Luís, que não aceitava alguém mais poderoso do que ele. Depois das festanças, o ingrato rei mandou prendê-lo e Fouquet acabou passando seus últimos dias na prisão. </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />Por influência da Igreja Católica é que os primeiros rudimentos da cortesania se desenvolveram nas cortes européias. De fato, este processo se deu pela introdução da educação às famílias nobres, que começaram a se sofisticar e aprender a ler e escrever. Isso implicou uma consciência e uma responsabilidade pública da nobreza em se distinguir das rudezas comuns à plebe. Daí surgem um conjunto de regras de etiqueta, a fim de se reportar à vida cortesã. A distinção aristocrática da corte implicava participar de uma vida social e uma casa dinástica que dessem status ao indivíduo nobre que fizesse parte do grupo. Por outro lado, as regras da etiqueta visavam harmonizar, humanizar o trato, tornando-o mais delicado, mais leve, mais polido e agradável ao público nobre. Todavia, a evolução da cortesania foi lenta e gradual, até chegar ao auge, com o Renascimento europeu.<br /><br /><br />A introdução do lirismo, da música e da poesia do amor cortês elevou o nível das aristocracias, que incorporou essa linguagem aos códigos de honra da cavalaria. Surgem os trovadores, homens de boa cepa, que compõem suas músicas, aos agrados das donzelas. Somou-se a isto, não somente uma linguagem poética própria de tratamento amoroso, como também um idioma próprio da corte, que fizesse a diferença em relação à plebe. As canções amorosas, as poesias e mesmo o dialeto aristocrático da corte era totalmente diferente e alheio ao idioma do povo. Na França, duques, marqueses, condes e reis tinham um dialeto que poderia parecer incompreensível para muitos plebeus. Na Inglaterra dos Plantagenetas, a corte de Eleanor de Aquitânia e mesmo do rei Ricardo, falava o francês comum na Normandia, enquanto o povo dominava o saxão e o que seria uma espécie de inglês primitivo. Os Duques da Borgonha, os senhores mais poderosos da França, talvez tão ou mais poderosos que o rei, tinham todo um código de regras e de modos de falar, que seriam desconhecidos para uma boa parte do povo francês. Quando as diferenças não eram grandes no idioma, o povo falava um dialeto vulgar, enquanto os nobres usavam de preciosismos lingüísticos para se distanciarem da fala plebéia. Em parte, isso refletia uma babel de línguas vernáculas que era o mundo medieval, cujos dialetos se diferenciavam de feudo para feudo. Contudo, a valorização de um idioma próprio da corte fazia valer uma importância cultural para os cortesãos e o príncipe que os promovia.<br /><br />A dança na corte tinha como símbolo, a capacidade que o cortesão de entreter as damas ou mesmo se sociabilizar com seus pares. Em parte, a música, nas artes liberais, representava a harmonia das dimensões dos sons e a dança era a expressão corporal dessa harmonia. As danças mais famosas do mundo medieval são o Estampie, ou a<strong><em> “dança de sapateado”</em></strong> e o Saltarello, ou a <strong><em>“dança saltitante”,</em></strong> ambas apreciadas na corte. O Rondeau, dança apreciada em França, era acompanhada de canto. Aliás, cabe lembrar que uma boa parte das músicas para dança eram cantadas. Na Renascença, a dança ganhou a forma de autodomínio sobre o corpo. Acompanhando a música, o cortesão renascentista agradava com o domínio dos passos da dança, representando a sua própria esfera de independência e particularidade. E outros ritmos musicais, como a pavana, o branle, o minueto, a galiarda, dança <strong><em>"baixa"</em></strong> e <strong><em>"alta"</em></strong> e a morisca, conquistaram os salões europeus do século XVI. Ademais, os nobres italianos desprezavam a <strong><em>"mourisca"</em></strong> como uma dança vulgar, e, posteriormente acabaram consagrado aos costumes da corte. Mesmo o chamado <strong><em>"balare"</em></strong> era considerado uma forma imoral e escandalosa de dança de nobres e cortesãs, e curiosamente deu origem ao termo francês <strong><em>"ballet",</em></strong> incorporando aos gostos artísticos europeus.<br /><br />Com a ascensão do comércio na Europa e a centralização monárquica, a partir do século XV, a corte começa a ganhar status, na supremacia da autoridade real. O rei acaba suprimindo a autonomia dos senhores feudais e mesmo suas “cortes” particulares e os encerrando sob sua mão férrea, em liames políticos, ou mesmo em guerras, enfraquecendo a autonomia política dos feudos. A corte acaba canalizando o centro da vida política do reino, já que é nele onde se localiza toda a fonte do poder. As lutas internas entre nobres e senhores feudais, em guerras internas e militares, são enfaixadas no ambiente da corte. A corte acaba sendo um teatro de lutas palacianas internas, de intrigas e disputas pelo poder e atenção real. E o rei, através dessa sociedade, controla, recompensa, pune e fiscaliza a ação de seus vassalos, próximos de sua autoridade pessoal, a fim de preservar seu domínio como chefe suserano. Inclusive, como um alto suserano, regulamenta casamentos e preserva a pureza da linhagem aristocrática das famílias.<br /><br />A corte real, embora aristocrática, na Renascença, abre espaço para os novos-ricos, os gentis-homens e burgueses leais ao rei, que participam de sua burocracia pessoal. Neste aspecto, a “arte” da cortesania eleva a cultura intelectual como elemento de notoriedade. O individualismo, a ânsia por ascensão social e a idéia mesma de fazer fortuna e servir à monarquia, para seu próprio interesse, é uma característica da vida cortesana renascentista. Na verdade, a monarquia ou mesmo o príncipe queria patrocinar a cultura e a sofisticação em seu nome e captar os talentosos, ainda que plebeus, para seu proveito. Assim, a cultura intelectual e artística acabou virando objeto de distinção do cortesão. Se na Itália e no resto da Europa, a moda de várias cortes era cantar melodias e canções em italiano toscano, já que isso imitava o requinte cultural de Florença, por outro lado, a França, na figura do rei Francisco I acabou por elevar a língua francesa como a <strong><em>“chanson”</em></strong> de sua época. Na corte francesa já havia uma tradição consagrada de canções de amor, nas figuras clássicas dos compositores flamengos Machaut e Dufay. Porém, o francês aristocrático e o italiano de Toscana se tornaram o glamour das canções de amor da Europa do século XVI, precisamente pelo destaque com que esses idiomas e essas cortes patrocinaram a cultura artística e musical. E a dama palaciana era o símbolo da devoção amorosa, o amor platônico por excelência nas festas cortesanas, a inspiração elevada da donzela virtuosa. Ainda que essa dama palaciana fosse uma cortesã. . .<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiELQWvo7Y_0nB_aqsvsLisWYw5qt7GQ5abxKIvJfn3HTQeHX_BgJfTO4dAYGW5Y7_CDnq9oDKWdLAWbfKKCmuzQT5_8neKwQFQAZY2li9sWJZJlDxdezHfhngGTSxw3fiB650Q9g/s1600-h/afonsoV.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5040740761225374626" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiELQWvo7Y_0nB_aqsvsLisWYw5qt7GQ5abxKIvJfn3HTQeHX_BgJfTO4dAYGW5Y7_CDnq9oDKWdLAWbfKKCmuzQT5_8neKwQFQAZY2li9sWJZJlDxdezHfhngGTSxw3fiB650Q9g/s320/afonsoV.jpg" border="0" /></a> As regras de etiqueta se tornam mais rígidas. Comer bem à mesa, cortejar as damas, participar das reuniões e solenidades da corte, demonstrar um modo de falar polido, falar várias línguas, caçar, saber dançar e cantar, tocar instrumentos musicais, manejar bem a espada, andar a cavalo, tudo se tornou objeto de atenção da corte e do rei. Cada corte tinha sua regra de conduta. Até no ato de vestir-se, a corte ditava regras: na Espanha, os nobres costumavam usar roupas negras, em sinal de austeridade. Um nobre que se vestia de modo francês em Portugal, dizia-se que se vestia <strong><em>"a francesa"</em></strong>, ou então <em><strong>"a castelhana"</strong></em> dependendo do modo de trajar semelhante às respectivas cortes. As roupas, em geral, eram pesadas e ornamentadas, para mostrar a posição social do nobre. Havia outro motivo para o peso e garbo das vestimentas: <strong>as pessoas escondiam a magreza do corpo, já que a subnutrição também existia entre famílias nobres. </strong>Ainda que se banqueteassem com alimentos calóricos, as doenças e por vezes a escassez de alimentos não poupavam os aristocratas. Daí a se compreender o porquê da mulher farta, ociosa, rechonchuda, ser o objeto de desejo do homem europeu do século XVI. Pois as pessoas gordas e saudáveis eram raras. Os europeus, em geral, possuíam uma variação pobre de alimentos. É certo que os nobres se alimentavam bem melhor do que as classes baixas e raramente conheciam a fome. Todavia, períodos de seca e más colheitas eram relativamente comuns e isso pesava no alimento dos nobres. Aumento de tributos e taxas contra as classes baixas gerava revoltas ferozes entre a população comum. <blockquote></blockquote></div><div align="justify"></div><div align="justify">Em Portugal, os nobres costumavam usar espessas barbas. Isso se deve a uma história, no mínimo curiosa: <strong>um infante do final do século XV, herdeiro do trono português e filho do Rei João II, o "Principe Perfeito", numa tarde de equitação, acabou caindo do cavalo. O filho do rei acabou por falecer, chocando toda a sociedade portuguesa.</strong> O pai jamais se perdoou por ter convidado o filho a passear com ele. E num sinal total de luto, os cirurgiões-barbeiros lusitanos ficaram greve durante seis meses sem cortar a barba dos súditos. No final da história o povo inteiro, das classes baixas e altas, estava barbudo, e a moda pegou. Afirma-se que essa moda se alastrou até na Espanha.</div><div align="justify"></div><div align="justify"><blockquote></blockquote></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">Entretanto, as mudanças da corte causavam certo impacto na sociedade aristocrática. Comenta-se que quando foi introduzido o garfo em uma corte, por volta de 1520, tal prática causou tamanha estranheza entre os convidados, que estes resolveram comer à moda antiga, ou seja, com a mão de um lado e a faca de outro.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOClvhM7tITtt0H-AuyL_g-5c3frYW6qbL70sNQhDO1oNXmAwaT4Jl_1L9MgmMEJ3VAib8P5QC2i4AJp6qOazMgrDMMCMDYRXHgRn2NNjFdMOK6lFtHgp-EJhNSwAhed-2-F7r/s1600-h/dudley2.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5040895023565745490" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOClvhM7tITtt0H-AuyL_g-5c3frYW6qbL70sNQhDO1oNXmAwaT4Jl_1L9MgmMEJ3VAib8P5QC2i4AJp6qOazMgrDMMCMDYRXHgRn2NNjFdMOK6lFtHgp-EJhNSwAhed-2-F7r/s320/dudley2.jpg" border="0" /></a>É neste ambiente histórico que surgem os chamados tratados de cortesania, ou de boas maneiras. Um dos mais importantes desses tratados foi o <em><strong>“Livro do Cortesão”,</strong></em> de Baldassare Castiglione, em que ele escreve um colóquio entre nobres, sobre o cortesão ideal. Antes de retratar um arquétipo ideal de cortesania, Castiglione acabou por criar uma verdadeira filosofia da corte, na figura do nobre educado, refinado, cheio de autodomínio, que soubesse boas maneiras, dançasse, tocasse música, falasse várias línguas, e demonstrasse isso sem afetação ou arrogância. A palavra preferida do homem cortês era a <strong><em>"sprezzatura",</em></strong> ou seja, a displicência. O cortesão autêntico haveria de demonstrar suas qualidades e dons como se fosse algo natural dele. O livro do Cortesão foi uma verdadeira febre nas cortes européias e quando foi traduzido para o inglês, por volta de 1560, tornou-se o best-seller do nobre ou do gentil-homem plebeu inglês.<br /><br />O próprio Erasmo de Roterdã escreveu livros de boas maneiras aos príncipes, para que estes fossem exemplos de reta e justa vida cristã ao povo. Porém, há outros tratados que é pura afetação lingüística e retórica, como <strong><em>“Galateo, ou dos Costumes”,</em></strong> que foi escrito por um homem de alto clero, Giovanni dellla Casa. A cortesania, neste caso, acaba por se tornar um jogo de encenação pública, de dissimulação. Isso é explicado pelo ambiente político que se tornou a corte, desde a ascensão das monarquias. As disputas políticas, como os ódios mútuos entre nobres rivais são disfarçados na polidez de seus atos. <strong><em>“O Principe”</em></strong> de Maquiavel é o retrato cruel do príncipe ou do nobre, num ambiente de vida da corte, sem os modismos, as etiquetas e os refinamentos nobres que consagravam a realidade cortesã. É o retrato cruel da violência política no século XVI na Itália, com seus príncipes tirânicos, seus <strong><em>“condottieri”</em></strong> mercenários e sanguinários, suas guerras violentas por territórios, dinheiro e poder.<br /><br />No século XVII, o jesuíta espanhol Baltasar Gracián escreveu <strong><em>“El Arte de la Prudencia”.</em></strong> Muito antes de ser um conjunto de regras sobre o comportamento humano, poderia ser umas dicas de como viver na corte. Gracián é de um realismo profundo da natureza humana. Analisa as minúcias, as mesquinharias do gênero humano e como lidar com elas, em seu belo tratado de prudência. Em uma época particularmente difícil na Espanha do século XVII, com a inquisição em plena força e conspirações a mil na vida aristocrática, Baltasar Gracián teve grandes problemas quando publicou suas obras. A própria Igreja e a Ordem religiosa no qual participava não viam com bons olhos um homem ordenado monge escrevendo sobre coisas mundanas. Em geral, essas obras de cortesania retratam uma verdadeira psicologia do homem, e a maneira, por vezes, dissimulada, hipócrita, dos atos humanos. A mensagem, implícita, nos tratados de cortesania, é que polidez, a capacidade retórica e a percepção das pessoas atenuam o lado ruim e perverso do homem.<br /><br />Se a cortesania nasceu nobre, requintou as cortes e deu incrementos posteriores para civilizar a própria plebe, nos planos de conduta, ela também acabou por se degenerar em ociosidade, bajulação e afetação aristocrática. No livro de Castiglione, o nobre ideal cortesão é leal a seus senhores, mas destemido e rebelde, quando o suserano quebra um pacto ou viola um princípio moral de honra. Há nisso um resquício medieval de cavaleiro, uma certa crença de autonomia e responsabilidade individual do nobre perante a sua casta e seu status social. Mesmo em uma obra como a de Baltasar Gracián, a aparente malicia do indivíduo que adota seus conselhos visa conhecer o mal do homem, procurando buscar disso um bem. Na realidade, porém, o poder acaba por sucumbir as melhores almas e a corte se torna um vendaval de <strong><em>“beija-mãos”</em></strong> e dos interesseiros, que usam das artimanhas da sedução para a conspiração e o desejo de poder.<br /><br />Símbolo da gentileza, da virtude, da alta cultura e da nobreza dos costumes, e ao mesmo tempo, ardiloso, sedicioso e dissimulado, essas são as fortunas e desventuras do cortesão renascentista, a sua dualidade num palco mundano de lealdades e traições que é a corte. </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><strong>(Danças e peças instrumentais da corte medieval).</strong> </div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10026">01.Ductia (Anônimo - Século XIII). </a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10025">02.Alle psalitte cum luya (Anônimo - Século XIV).</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10027">03. Las je ne puis (Jean Legrant - Século XV).</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10028">04. Bassadanza "El Ferrarese" (Antonio Cornazano - 1430 - +1484).</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10029">05.Saltarello II (Anônimo - Século XIV).</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10031">06.Ballo "la figlia guiliemino (Domenico de Piazenza - Século XIV). </a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10030">07. Ballata "La Dolce Vista" (Guillaume Dufay - 1400 - + 1474).</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10033">08. Rondeau "Porray Je avoir" (Guillaume Dufay). </a></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10032">09. La franchoise nouvelle - La danza revestain - La Danza Clevès (Anônimo - Século XV).</a></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10035">10.Lamento di Tristano et La Rotta (Anônimo - Século XIV).</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><strong>(Danças e peças instrumentais da Corte Renascentista).</strong></div><div align="justify"><strong></strong></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10038">01.Bassadanza La Brosse (Anônimo - Versão segundo Pierre Attaignant - Século XVI).</a> </div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10036">02. Passamezzo d´Itália (Anônimo - Século XVI). </a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10034">03. Bassadanza La Magdalena (Anônimo - século XVI).</a> </div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10037">04. Noe Noe (Antoine Brummel - 1460 - + 1515).</a> </div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10045">05.Bassadanza "Joyssance vous donneray" (Thoinot Arbeau - 1519 - + 1595).</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10044">06. Tordion "la Brosse" (Segundo Philidor - Século XVII).</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10039">07.Bassadanza (Pierre Attaignant - 1494 - +1552).</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10040">08.Tordion I (Pierre Attaignant).</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10041">09.Tordion II(Pierre Attaignant).</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10042">10. Tordion III(Pierre Attaignant).</a></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10043">11.Bassadanza (Pierre Attaignant).</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div>Conde Loppeux de la Villanuevahttp://www.blogger.com/profile/03123027651841021079noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-38583270.post-10091093902027043282007-02-26T18:20:00.000-08:002007-03-11T21:15:10.609-07:00O amor cortês:arte e processo civilizatório. . .<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAhURR2b13TXVRsm5OM06WsOORVXcj8AIRc-XNO5idAKxXG9PZkbC087ZzgXl_qaemNxFWOi-onytm1DWk9H5XzAvpd6Ug-TZKPhwQwUDwv2yQ9qT_9TZlPtTFLL440DkeAmu5/s1600-h/princesadeeboli.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5036033738990510690" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAhURR2b13TXVRsm5OM06WsOORVXcj8AIRc-XNO5idAKxXG9PZkbC087ZzgXl_qaemNxFWOi-onytm1DWk9H5XzAvpd6Ug-TZKPhwQwUDwv2yQ9qT_9TZlPtTFLL440DkeAmu5/s320/princesadeeboli.jpg" border="0" /></a> Quando falamos de civilização, sempre lembramos do direito, da filosofia, das artes, da política, das letras, da música e de outras atividades intelectuais da cultura humana. Sem esquecer, naturalmente, dos costumes. Por falar em costume, eis que um dos aspectos mais marcantes do processo de civilidade, é precisamente o amor. Falo do amor, não somente do sentimento em si, como também dos jogos amorosos, das cortesias, das juras, das manifestações poéticas, e enfim, dos compromissos de afeição entre um homem e uma mulher. Quando um homem manda rosas, abre as portas do carro, faz poesias, escreve cartas, toca uma seresta ou paga a conta da mulher amada, está se falando de séculos e séculos de regras, costumes e ações que se arraigaram na cultura humana, a fim de sofisticar as relações humanas. O particular de tudo isso é que tais regras de etiqueta amorosa foram desenvolvidas entre a Idade Média e a Renascença, em uma época conhecida por ser particularmente difícil e violenta.<br /><br />Muitos historiadores impiedosos afirmam que a Idade Média é a Idade das Trevas. Contudo, será que há coisa mais medieval, mais cortês, mais cavalheiresca do que beijar a mão da dama? Ou de cantar a seresta? O seresteiro de hoje é o trovador de séculos atrás. A poesia de culto ao feminino é uma herança que tem raízes não somente na poesia trovadoresca, como também na religião. Foi o cristianismo, na influência judaica, que criou esta reverência ao feminino no ocidente, como objeto de amor. Os Cantares de Salomão são um exemplo clássico de ritual amoroso, escrito em poesia, como forma de demonstração de afeto de um homem pela mulher. Por outro lado, o erotismo das musicas árabes trazidas pelos cruzados, nas suas investidas na Terra Santa, trouxeram os elementos estilísticos das trovas européias e do amor cortês. O troubadour franco, que vinha das sangrentas guerras contra os sarracenos, trazia na bagagem uma viola e uma inspiração amorosa. Seja na Corte de Eleanor de Aquitânia, como nas aventuras e desventuras da Terceira Cruzada de seu filho Ricardo Coração de Leão, eis que ouvimos as músicas de amor cantadas no francês antigo. Não esqueçamos das regras amorosas de André Chapelain, de tão magnífico tratado do amor cortês.<br /><br />O que é o alaúde e a guitarra, senão instrumentos musicais árabes? Aliás, se os francos criaram trovas e mais trovas de amor, os castelhanos e os galegos foram grandes cantadores do amor cortês. Os próprios galegos e castelhanos não negam suas origens francas nas figuras dos Condes da Borgonha, guerreiros que posteriormente consolidaram o Reino de Portugal e Castela. Aliás, eles introduziram um culto relativamente incomum da donzela amada: <strong>a mistura do amor à mulher pelo amor a Virgem Maria. </strong>Há na música ibérica um sentido dúbio de linguagem amorosa, em que o amor e a religião se misturam ao erotismo. Não se deve esquecer que o amor do cavaleiro a sua dama é uma relação de suserania e vassalagem, tal como um senhor e servo. A dama é a <strong><em>“mia Señor”</em></strong> enquanto o cavaleiro é servo da mulher amada. O beijo na mão da donzela vem deste princípio de submissão amorosa. Isto porque quando se escuta as músicas amorosas de Santiago de Compostela, ouvimos os cantares dignos dos árabes, mas trovados em galego-português. De fato, essa relação do amor cortês ao culto do feminino tem a ver com a fundamentação platônica do romance amoroso na Idade Média.<br /><br /><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhK4V1r7WWlTDtgrHJPULVEprfqkckjqgGUiWuS1fFc3OdEMVcsY8gxd3ScV6AD2JNUvQ_IOkoDjxkJiYf30RHGFDsvDWZ-0m1IgF2Xm4D8jIxs1HJSnOCzpkcJj0ka8riDHfqu/s1600-h/amorcortes01.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5040885213860441394" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhK4V1r7WWlTDtgrHJPULVEprfqkckjqgGUiWuS1fFc3OdEMVcsY8gxd3ScV6AD2JNUvQ_IOkoDjxkJiYf30RHGFDsvDWZ-0m1IgF2Xm4D8jIxs1HJSnOCzpkcJj0ka8riDHfqu/s400/amorcortes01.jpg" border="0" /></a>Interessante perceber que este sentimento de pureza amorosa da dama inatingível é uma regra comum em quase todos os homens apaixonados. Numa sociedade guerreira, patriarcal e onde os casamentos eram arranjados, era perfeitamente possível entender do porquê da platonização da dama inatingível. Em especial na Península Ibéria, nos reinos árabes, este culto platônico do amor feminino estava associado a uma velha tradição árabe, quando as donzelas muçulmanas solteiras eram proibidas de serem vistas pelos homens antes do casamento. Na Espanha Islâmica, tais damas viam o mundo pelas janelas cobertas de arabescos de madeira que as tornavam invisíveis, e isso atiçava a fantasia dos homens, apaixonados pela figura da mulher que não viam. Os judeus espanhóis não faziam diferentes em suas cantigas de amor soletradas em ladino, ou seja, o espanhol judaico. Eles se apaixonavam até <strong>“d´un aire d´una mujer, d´uma mujer muy hermoza, linda de mi corazón”.</strong> . . tal como tocava em suas canções.<br /><br />Por outro lado, a discrição no trato amoroso era uma espécie de etiqueta, de jogos amorosos entre os amantes. Se temos as músicas e poesias de amor, lembremos das <strong>“rosas que falam”.</strong> Se a mulher é divina, ou quase santa, é também um belo ser da natureza, uma rosa, mistura de beleza e vaidade. Já dizia o poeta do Rio de Janeiro para sua dama: <strong>as rosas não falam, simplesmente as rosas exalam o cheiro que roubam de ti. . .aiiiii. . .<br /></strong><br /><br />Um outro <span style="font-family:georgia;">aspecto</span> interessante do amor cortês é sua relação com a morte. O amor se confunde com a fatalidade da vida, já que parece que os sentimentos sublimes do amor se obscurecem com a extinção do homem. De fato, a relação entre o amor e a morte parece ter duas relações: o amor é uma energia feroz, destruidora, que acaba consumindo a alma do amante. É ferida mortal, capaz de destruir as esperanças da vida na pessoa amada. E por outro, a morte liga o amor a eternidade dos amantes, quando este amor é sentido e intenso, só que transitório pela vida. A morte tem um sentido simbólico tanto do sentimento destruidor como da eternidade. Aliás, a morte era uma obsessão, acompanhava o homem medieval nas suas tragédias cotidianas, e seu consolo era acreditar na eternidade, dentro de um universo fatalista do mundo religioso. Juras de amor eterno, para muitos poetas, são eternos até depois da morte. Petrarca e Dante Alighieri dedicaram versos e mais versos a duas donzelas loiras, desejadas mortas e inatingíveis, Laura e Beatriz. Na Commedia de Dante, Beatriz é a mulher que conduz o poeta ao Paraíso. E os versos de Petrarca viraram temas de amor e morte em muitas canções italianas da Renascença.<br /><br />Porém, o que é o amor cortês? Ser cortês vem da palavra cortesia, que é gentileza, que por definição é ligada a idéia da corte. Por conseqüência, o cortês acabou por se tornar o cortesão, ou seja, o homem nobre da corte, com seus modos, valores, etiquetas e regras da prática aristocrática e amorosa. Essas regras acabaram por se tornar os códigos da cavalaria e posteriormente uma ética comum do povo. E daí vem o termo <strong>“cavalheiro”,</strong> que nada mais é do que uma conceituação advinda de cavaleiro.<br /><br /><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5040886472285859138" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizn3yEjSQL5BTUAftYd5O0ionuaeTVmDZCicsg92qJpBtfBe7zH0gavfvUoG7DL0KU9rJe5tC7zY8FuGPGjrT-5AovIG7oQL0BAQucBTN2qFFL6_gM6vMO0FQY7XnnMgEkjiDH/s320/baldassarecastiglione.jpg" border="0" />Neste ínterim, outras práticas foram aperfeiçoadas como forma de demonstração de amor, a partir da renascença. Um aspecto interessante é o amor à distância implicada no amor cortês. Ele é um amor ritual, sutil, simbólico, cheio de nuances e puramente platônico. Um exemplo disso é o que podemos chamar um dos mais belos tratados de cortesania, O Livro do Cortesão, escrito pelo fidalgo italiano Baldassare Castiglione, em 1527. Em um de seus capítulos, o livro nos revela a relação fidalga do cortesão com a dama palaciana: <strong>discreta, desinteressada, espiritual, em que a demonstração de amor a dama não seja tão direta a ponto de assustá-la, mas também não tão escondido em que ela não possa notar. </strong>A amizade do cortesão e da dama disfarça o amor interior que cada um nutre pelo outro. Mas em contrapartida, a mulher donzela é o centro das atenções do cavaleiro. O talento do cortesão em dominar vários idiomas, dançar, tocar instrumentos musicais e ser um bom manejador da espada e no cavalo, visava chamar as atenções da dama. No entanto, essa atenção deve ser conseguida com <strong>“sprezzatura”,</strong> displicência, como se a natureza culta, gentil e galante do cortesão fosse algo inerente e natural dele, sem artificialismo ou afetações.<br /><br />Voltando aos amores à distância do cortesão, eis que um ritual muito comum aos amantes modernos que é guardar o retrato da pessoa amada. Em épocas passadas, o retrato às vezes significava o culto amoroso de uma pessoa já falecida, em que sua figura num amuleto ou mesmo num pequeno quadro eternizava as lembranças na fisionomia da pessoa morta. Isto porque na Renascença, a pintura conheceu seu auge de divulgação em famílias nobres. Há uma história de um cortesão elizabetano destruidor de corações femininos, que pela brecha da porta, viu uma dama contemplar por horas seu retrato, feito a pedido da mesma a um pintor.<br /><br />É claro que o amor cortês não era em si só platônico. Uma boa parte desses jogos amorosos chegava ao que podemos dizer <strong>“finalmente”</strong>. O platonismo aparente disfarçava segundas intenções. O caso mais clássico e mais polemico é o Don Juan. Ninguém sabe ao certo sua história, e sim a fama do cavalheiro cortesão sofisticado, impetuoso, mulherengo e sedutor, arrasa-quarteirão de sentimentos femininos. Diz-se de um cavaleiro espanhol discretíssimo e que andava em dia com as etiquetas amorosas da cortesania, que era um verdadeiro furacão de mulheres na corte espanhola. Raramente uma mulher lhe escapava.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6UR8PJlYfgY54WO-kr1dNOtaFPbsE41418Xcd7sm3xXFx-dmJG6YnSyPPfx6Uckof_FOwp2Is69fN4hyphenhyphenIdkkESu5oLCEtE6Q1hkcaIOeckQbZ-yyQsNaOmpMVGQcIICbQNOW4/s1600-h/leituradeumacarta.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5040750046944668674" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6UR8PJlYfgY54WO-kr1dNOtaFPbsE41418Xcd7sm3xXFx-dmJG6YnSyPPfx6Uckof_FOwp2Is69fN4hyphenhyphenIdkkESu5oLCEtE6Q1hkcaIOeckQbZ-yyQsNaOmpMVGQcIICbQNOW4/s320/leituradeumacarta.jpg" border="0" /></a>Temos um outro fenômeno, relativamente recente para os padrões do amor cortês, mas que se incorporou nele: <strong>as cartas amorosas. </strong>Raramente na Idade Média se escrevia cartas, até porque a população européia em geral era analfabeta. Cartas eram escritas pelos doutos da época, que era o clero e por uns raros nobres cultos. Na Renascença, a alfabetização começou a ser difundida e as cartas amorosas começaram a aparecer. Parece que, para burlar as convenções da época. Mulheres condenadas ao casamento arranjado trocava cartas com seus amantes platônicos e muitas delas fugiam. Outras esperavam as cartas dos seus cavaleiros que estavam nos campos de batalha, vencendo distâncias e mais distâncias. E numa sociedade em que as normas rígidas de conduta se contrastavam com o desejo de burlá-las, mulheres enclausuradas nos conventos amavam e eram amadas pelas palavras do amante, na pena e no papel. A carta está para o século XVI e alhures, como a internet está para as distâncias e dificuldades atuais. Mesmo assim, o charme das cartas nunca se apagou. Cartas são pessoais, intimistas, pois a palavra em punho do escritor está diretamente vinculado no papel, ao contrário da impessoalidade virtual. As palavras escritas no papel expressam sentimentos, erros, acertos e construções lingüísticas de como eles foram escritos. Já a técnica implícita da internet não retrata nem metade disso. Isto, sem contar a história de pessoas que escreviam cartas amorosas umas as outras e jamais se conheceram. É incrível pensar numa forma de amor deste jeito. Mas provavelmente deve ter existido.<br /><br /><br />A manifestação do amor cortês foi um processo artístico e civilizatório, que tornou as relações entre homem e mulher cada vez mais fortes em laços afetivos. Elevou-os ao infinito. Quando se vê que hoje em dia os jogos da cortesania, as poesias, as exaltações do amor, as serestas, as rosas, o beijar da mão, e todos os demais rituais aristocráticos que humanizaram o amor entre o homem e a mulher podem estar em vias de se extinguir, eis que me surge a imagem da mesa farta com luz de velas: a manifestação do amor cortês nostálgica do ambiente do passado, numa realidade que pode não existir mais. </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><strong></strong></div><div align="justify"><strong></strong></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><strong>(Canções do amor cortês: entre o amor e a morte - século XVI).</strong> </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10016">01. O Combien est hereuse. (Pierre le Roy - 1520- + 1598).</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10015">02. Je suis deshehité. (Claude le Jeune - 1528 - + 1600). </a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10020">03.Amor che t´o fatto. (Anônimo - Milão- Final do Século XV). </a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10021">04. Non va acqua. (Bartolomeu Tromboncino - 1480 - + 1548).</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10022">05. Se congies prends. (Anônimo - França - Século XVI).</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10023">06. Se congies prends (instrumental). </a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10024">07. Se è debile il filo. (Bartolomeu Tromboncino). </a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10017">08. Première Suytte de Branles D´Escosse. (Pierre Attaignant - 1500 - + 1558). </a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10019">09. Susane un jour. (Cipriano de Rore - 1525 - + 1605).</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10018">10. Susane un jour. (Orlando de Lassus - 1532 - + 1594). </a></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div>Conde Loppeux de la Villanuevahttp://www.blogger.com/profile/03123027651841021079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38583270.post-18842020632996937662007-02-18T12:54:00.000-08:002007-03-11T20:54:50.180-07:00Tempos Modernos: a Casa de Avis e o nascimento de Portugal.<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjInV7Nd6N0ILdYUgCCEsoGflJBvw5bw2tb8t1yL4I-L-L4SIT5-3SCsTYRoNlKgTr_yaF0JdLlbrBTit0kn1fDzCe4lqGa4xGOXK6iYBCZII0mkeBw5rR3AS29QGJR7OTPxylH/s1600-h/nunogonçalves.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5032986387267764018" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjInV7Nd6N0ILdYUgCCEsoGflJBvw5bw2tb8t1yL4I-L-L4SIT5-3SCsTYRoNlKgTr_yaF0JdLlbrBTit0kn1fDzCe4lqGa4xGOXK6iYBCZII0mkeBw5rR3AS29QGJR7OTPxylH/s320/nunogon%C3%A7alves.jpg" border="0" /></a>O Retábulo de São Vicente, de autoria do pintor Nuno Gonçalves, possui um simbolismo interessantíssimo: <strong>o santo, padroeiro de Portugal, segura um livro sagrado, uma bíblia ou um livro de horas, enquanto vários devotos o veneram e o cercam ao redor.</strong> A pintura é dividida em várias partes: <strong>uma mostra vários fidalgos de armadura e espada, em posição de oração, e bem acima, o clero, reconhecido pelas mitras e pelas batinas; são bispos, cardeais, como que acompanhando uma procissão.</strong> Em outra cena, uma donzela se encontra ajoelhada e mais acima, uma monja e vários monges, enquanto no outro extremo do retrato, mui provavelmente se vê um senhor, de expressão austera e um jovem, quase menino, ambos de alta estirpe da nobreza: <strong>o Infante Dom Henrique e o próprio príncipe herdeiro Dom Afonso, que viria a ser rei de Portugal, sob o nome de Afonso V, o Africano.</strong> Em outras cenas dos retábulos, alguns súditos são identificados pelos traços de humildade nas roupas e nas expressões, os <em><strong>“arraias-miúdas”,</strong></em> conforme assim dizia o cronista Fernão Lopes: os trajes parecem indicar as origens plebéias dos retratados. Em suma, Nuno Gonçalves retratou, de forma especial, os indivíduos da sociedade portuguesa do século XV, no auge da Casa de Avis.<br /><br />Portugal nasceu de uma epopéia: <strong>a Reconquista, com a expansão do Reino de Leão e Castela ao norte do Rio Douro e o estabelecimento do Condado Portucalense <em>(menção a “Portu Cale”, Porto do Cal, antigo porto romano)</em>, fruto da recompensa do reino castelhano para o conde Henrique, vindo do Borgonha, na luta contra os mouros.</strong> O condado devia prestar vassalagem ao Reino de Castela, a fim de defender o reino ao sul. A partir do Castelo de Guimarães, o filho desta Casa, Dom Afonso Henriques, através de muitas guerras, acaba por expandir seu feudo contra os islâmicos, derrotando-os em Campo d`Ourique, em 1139. No entanto, em 1140, recusa-se a prestar vassalagem ao antigo senhor de Castela e na batalha de Valdevez, derrota as tropas castelhanas, declarando a independência do Reino de Portugal e fundando, juntamente, a casa dinástica da Borgonha. Sua coroação foi reconhecida pelo papa, somente em 1179, quando o próprio Afonso Henriques foi elevado à realeza, ocasião em que pacificou a luta entre os dois reinos. Foi neste intervalo de tempo em que Afonso Henriques, agora Afonso I de Portugal, conquistou Santarém, Lisboa e Évora dos muçulmanos. Consolidada a existência do reino português, os cristãos <strong><em>“moçárabes”,</em></strong> sob o jugo islâmico na região do Rio Douro, deixam de considerar a língua árabe, e como o latim se tornou uma língua esquecida e fora da compreensão para a maioria da população, foi legitimado o galego como linguagem comum, identificando-se com a fala de Santiago de Compostela.<br /><br />Com a independência do Condado Portucalense, o galego, língua primitiva surgida do latim vulgar, tal como o provençal, castelhano, francês, italiano e várias dissidências menores, ganhou autonomia e expressões próprias, uma vez que se libertou da forma etimológica do latim clássico. A descaracterização do latim na fala vulgar do povo tinha tudo a ver com a perda da referência escrita da linguagem latina. Ou seja, com a carestia da escrita, já que a população, em geral, era analfabeta, a expressão coloquial adquiriu novas formas de linguagem, haja vista que não tinha regras específicas para a construção das palavras. Quando o reino português outorgou o dialeto galego, não pensemos que isso tinha um caráter necessariamente nacional ou institucional. A língua, neste contexto, tinha apenas uma função oral. O latim oficiava ainda muita coisa, porque era a única língua com peso que inseria a unidade espiritual da sociedade medieval, dentro de um contexto cultural ancestral romano e mesmo, da Igreja Católica. Em algumas aldeias de Portugal era possível não raramente encontrar camponeses ou nobres falando expressões castelhanas ou leonesas sem notar diferenças com o galego. Ou, em alguns casos, confundiam-se até com o árabe.<br /><br />O galego só começa a ganhar forma institucional, em Portugal, quando se torna língua escrita, tanto como documentação histórica, como principalmente literária. A escrita recém estabelecida não tinha compromisso com uma gramática coesa, já que os escritores se preocupavam mais em reproduzir as expressões fonéticas e da fala. É o chamado <strong>“período fonético”,</strong> onde a escrita era confusa e diversa, variando de feudo para feudo, região para região. Em compensação, nesta mesma época desenvolvia a literatura trovadoresca.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjt2fcBmXwLNV_ebkwBKXdhNc39dTAUOjPGPHsEFoXhX4-3NsxC-P5VswUHXCgfqkGGDh8Gtua_VFiTdNPVIgXhLn1cfIAbp9Ud8bkRKv-iL_u_BVE2hyphenhyphenxgQ6srWZV8MDJYvOmt/s1600-h/Troubadours.gif"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5040879381294853330" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjt2fcBmXwLNV_ebkwBKXdhNc39dTAUOjPGPHsEFoXhX4-3NsxC-P5VswUHXCgfqkGGDh8Gtua_VFiTdNPVIgXhLn1cfIAbp9Ud8bkRKv-iL_u_BVE2hyphenhyphenxgQ6srWZV8MDJYvOmt/s320/Troubadours.gif" border="0" /></a>Um fator que contribuiu para o desenvolvimento literário do galego foi o alto grau de refinamento da pequena corte portuguesa, cuja mentalidade era culturalmente francesa no costume. O trovadorismo provençal fincou raízes profundas em Portugal e no desenvolvimento de sua língua, uma vez que criou fundamento de maior conteúdo e enriquecimento do idioma. O termo <strong><em>“galego-português”</em></strong> ou <strong><em>“português antigo”</em></strong> pode ser enquadrado nesse ponto de vista histórico do português, onde a literatura cria uma identidade artística, cultural e, posteriormente, nacional, propiciando a língua portuguesa, tal como a conhecemos hoje. O resquício cultural francês na arte provençal, herança da prosperidade carolíngia, é provável que tenha surgido na corte de Afonso Henriques da Borgonha. Mas há comprovações de que o galego, antes de ser também português, possuía escrita, embora não como função literária. O mais antigo trovador que se tem notícia é Soares de Paiva <strong><em>(nascido em 1140),</em></strong> contudo, o mais antigo escrito é a <strong><em>“Canção da Ribeirinha”,</em></strong> de Paio Soares de Taveirós, em 1198.<br /><br />Para melhor compreender o pensamento trovadorístico português, é preciso acompanhar o pensamento vigente da época. A sociedade portuguesa, tal como a sociedade européia medieval, partia-se das solidariedades comuns entre a religião e as relações feudais. Suserania e vassalagem, valores herdados da organização política germânica, estipulavam critérios sociais através da hierarquia e estamento social, embasada na lealdade e submissão de um indivíduo de classe inferior para outro de classe superior, em troca de favores mútuos. Na tradição germânica, tal relacionamento implicava a fidelidade do grupo para com o líder, que ao reconhecer os serviços cumpridos, concedia favores a seus subalternos. A Igreja Católica soube cristianizar tais pactos, introduzindo valores judaicos-cristãos, em vista de legitimar a autoridade dos nobres. Tal como os reis de Israel, homenagens, ritos de cavalaria e compromissos de lealdades comuns entre nobres e plebeus e mesmo as coroações dinásticas, eram unções que imitavam a reverência do “Messias”, ou melhor, do <strong><em>“Ungido”,</em></strong> no Antigo Testamento. A religião católica influenciava profundamente, junto com a cavalaria, a ética comum, refletindo sobre a conduta individual. Sendo uma sociedade de estamento, cada indivíduo tinha direitos e obrigações de acordo com a classe social no qual pertencia. E a Igreja, detentora da cultura e paladina dos valores católicos, apregoava uma idéia transcendentalista da realidade, com a difusão da fé cristã. A moral católica influenciava cada costume do homem medieval europeu, reverente pela idéia de Deus, do Juízo Final e obcecado pelo sobrenaturalismo. A sociedade portuguesa não fugia à regra. Pelo contrário, historicamente, Portugal tornou-se uma braço armado do catolicismo romano, junto com a Espanha, herdando o papel da velha tradição cavalheiresca do reino franco.<br /><br />As cantigas de amor, embora houvesse algo profano no afeto direcionado à mulher, sua expressão é de um profundo platonismo, onde a figura feminina é inatingível, reproduzida na tristeza e no amor fatalista. Numa sociedade onde as relações conjugais eram relações de contratos, ou seja, casamentos políticos arranjados, eram compreensíveis as idealizações de uma amada inalcançável. O mais curioso é a relação do trovador com sua dama, ou melhor, o <strong><em>“amor cortês”, </em></strong>o sentimento de submissão e vassalagem à mulher amada, comparada a um status senhorial e suserano. Nas poesias amorosas, os trovadores direcionam à sua amada como <strong><em>“mia señor”,</em></strong> haja vista que na sociedade medieval, a mulher não tinha personalidade jurídica e a língua galega arcaica não concebia flexões de gênero para papéis exclusivamente masculinos.<br /><br />Embora o reino português seguisse o princípio medieval da <em><strong>“divisão”</strong></em> do reino para governá-lo, na prática, a uniformidade lingüística e cultural, além da tradição empreendedora da monarquia na fundação do país, acabou por favorecer, desde cedo, a centralização política precoce do reino. Embora houvesse conflitos de ordem dinástica e hostilidades internas à centralização do poder real, no entanto, a monarquia portuguesa possuía um conjunto de famílias nobres bastante unidas e coesas, ocasião em que neutralizava as dissidências internas do país. Há outro aspecto que influenciou a centralização do reino, que era o combate ao inimigo comum, na figura dos mouros e do próprio reino de Castela. Portugal foi a única nação que conseguiu preservar a independência política, frente à ascensão do reino castelhano como monarquia centralizadora e imperial da Península Ibérica. Curiosamente, porém, uma boa parte da nobreza lusitana recalcitrante, frente às investidas da autoridade monárquica, aliava-se aos reis de Castela. Há de se compreender que o conceito de nacionalidade, nesta época, não existia e as lealdades sociais e políticas eram relacionadas a pactos de casta ou de famílias. Isso porque as famílias nobres que disputavam entre si o poder possuíam variados graus de parentesco. Mesmo a família real de Castela, que reivindicava direitos dinásticos ao reino português, tinha relações consangüíneas com a Casa real portuguesa. Henrique, senhor do Condado Portucalense e pai de Afonso Henriques, era genro de Afonso VI, já que se casou com a filha bastarda do rei de Castela e o próprio Afonso Henriques era primo de seu rival, Afonso VII, de Castela. Aliás, o próprio Afonso Henriques guerreou contra os exércitos da própria mãe, contra a anexação do Condado Portucalente pela Galícia.<br /><br /><br />Em 1249, o Reino de Portugal, na figura de Dom Afonso III, conquista Algarve dos mouros, consolidando o território português atual. Em 1290, Dom Dinis, rei de grande cultura e compositor de várias trovas medievais, funda a universidade de Coimbra. Dom Pedro I, dito, o <strong><em>“cruel”,</em></strong> protagonizou uma das histórias mais marcantes da crônica e literatura portuguesa: <strong>quando era príncipe, foi apaixonado por uma donzela galega, chamada Inês de Castro, que era dama de companhia de sua esposa, Constança.</strong> O caso foi mais além, quando o príncipe herdeiro começara a ter filhos com a jovem, e a assumiu publicamente, ameaçando a estabilidade política entre os reinos de Portugal e Castela. Falecida Dona Constança, o trono português estava aberto a dona Inês e seus possíveis bastardos. O rei Afonso IV e a nobreza portuguesa, temendo as influências políticas castelhanas sobre o príncipe Pedro, através da família e dos filhos da amante galega, fez de tudo para afastar a donzela do príncipe, exilando-a para a Espanha. Sem sucesso, o rei tomou uma medida drástica e monstruosa: <strong>mandou assassinar a pobre Inês.</strong> Numa manha fria do dia 7 de janeiro de 1355, na ausência do príncipe, que estava na caça, os executores entraram no Mosteiro de Santa Clara e degolaram a jovem dama. Quando o príncipe soube da morte da donzela, acabou por se rebelar contra seu pai, movendo uma feroz guerra civil para destroná-lo. Somente meses depois da morte de Inês, em agosto de 1355, o pai fez as pazes com o filho, embora nunca o tivesse perdoado pelo crime.<br /><br />Quando ascendeu ao trono, em 1357, Dom Pedro moveu todos os esforços para vingar os assassinos da sua amada; assinou um tratado com o rei de Castela, para que se deportasse qualquer foragido de seu reino. Conseguiu capturar dois partícipes do assassinato de Inês de Castro, e numa demonstração de impiedade, que lhe fez a fama de <strong><em>“cruel”</em>,</strong> mandou arrancar o coração dos executores, enquanto comia cebolas e se banqueteava. Depois mandou queimar os cadáveres em praça pública. Posteriormente, em 1360, elevou Inês de Castro a rainha póstuma de Portugal e legitimou seus filhos bastardos. Diz a lenda que mandou sentar o cadáver de Inês de Castro num trono e obrigou toda a nobreza portuguesa a beijar a mão da morta. O Rei Pedro faleceu em 1367 e antes de sua morte, mandou construir um dois belos túmulos, para si e sua amada, frente a frente, para que segundo a lenda, <strong><em>“possam olhar-se nos olhos quando despertarem no dia do Juízo Final”.</em></strong> Enfim, Camões chamava Inês de Castro como a mulher cuja tragédia foi <strong><em>“misera e mesquinha, que depois de morta foi rainha”. . .<br /></em></strong><br />Já no século XIV, a família da Borgonha entra em decadência. O filho legítimo de Dom Pedro I, o Cruel, com Dona Constança, o rei Fernando I de Portugal, faleceu, sem deixar herdeiros, em 1383. A crise dinástica ameaça a independência portuguesa, pois a filha de Fernando I, Beatriz, era casada com o rei de Castela e este reivindica direitos políticos sobre a coroa portuguesa. A nobreza portuguesa se divide: <strong>uma parte dos senhores feudais conspira contra a independência da Coroa e apóia a rainha Leonor Teles de Meneses, mãe de Beatriz.</strong> A rainha Leonor ainda reconhece publicamente um caso amoroso com o Conde de Andeiro, e ambos governam Portugal, para desgosto de uma boa parte do povo e da nobreza anticastelhana. O Reino de Portugal corre perigo e a burguesia nascente de Lisboa, junto com o povo e uma parte da nobreza nacionalista, aclama o filho bastardo do rei Pedro I, meio-irmão do Rei Fernando, Dom João, Mestre de Avis, como herdeiro legítimo do trono português.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIc5WMCE-z2_iGx4s3DAvyroxs6LhELC5v8ywGt4LsXb2KeRKlRzotRh9_mBRvaVNe8wQrYuCXQiLD6mDSo3WF85xoSUuBRIHXFqp1H2SjzHVbyvfL9DSIM5LZkutJxLGcIfxB/s1600-h/Armasdomestredeavis.png"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5040880725619617010" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIc5WMCE-z2_iGx4s3DAvyroxs6LhELC5v8ywGt4LsXb2KeRKlRzotRh9_mBRvaVNe8wQrYuCXQiLD6mDSo3WF85xoSUuBRIHXFqp1H2SjzHVbyvfL9DSIM5LZkutJxLGcIfxB/s200/Armasdomestredeavis.png" border="0" /></a>Com o apoio de um grupo de nobres, entre os quais Dom Nuno Álvares, um dos homens mais ricos e poderosos do reino, no final do ano de 1383, o Mestre de Avis mata o Conde de Andeiro e organiza o motim. Explode então a guerra civil. Partidários da Rainha Leonor e do Mestre de Avis passam dois anos em disputas pelo poder, deixando o país cair na anarquia. Nuno Álvares é elevado a Condestável do exército do futuro rei e mostrando uma incrível habilidade militar, consegue esmagar as tropas da rainha. Em 6 de abril de 1385, as Cortes elevam o Mestre de Avis a rei de Portugal, o que faz Castela declarar guerra contra o reino, em favor da rainha Beatriz, esposa do rei de Castela. Na primeira investida, as tropas castelhanas cercam Lisboa, mas são quase todos dizimados pela peste. </div><div align="justify"> </div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6CUjCcagqSdQ_hPH2BxgWl9uQbZtPRHBieHgj3P-3W3iilcb9VLPawATUzxpBFwooEQPh5PZN38QKoeHk9GGjYxmObkayTDvampIPt6ba5CZ46Zvlj3QDivDLKc2IpErrZzno/s1600-h/batalha+de+aljubarrota02.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5040742221514255282" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6CUjCcagqSdQ_hPH2BxgWl9uQbZtPRHBieHgj3P-3W3iilcb9VLPawATUzxpBFwooEQPh5PZN38QKoeHk9GGjYxmObkayTDvampIPt6ba5CZ46Zvlj3QDivDLKc2IpErrZzno/s320/batalha+de+aljubarrota02.jpg" border="0" /></a>Em 1385, os castelhanos invadem de novo o reino português e são fragorosamente derrotados na Batalha de Aljubarrota, salvando e consolidando a independência portuguesa. Mais uma vez a figura de Nuno Álvares, o Condestável português, se destaca para salvar o país. Liderando uma tropa de seis mil homens, entre portugueses e ingleses, destroçou a cavalaria castelhana, junto com a nobreza francesa que dava apoio. Os reflexos da Guerra dos Cem anos foram sentidos nas disputas dinásticas da Península, com o apoio militar da Inglaterra e da França aos dois reinos.<br /><br />A família de Nuno Álvares fundou a dinastia dos duques de Bragança, que séculos depois, foi elevada a monarquia de Portugal. Com grandes serviços prestados a Coroa, o Condestável abandonou a vida militar e morreu muito idoso, abraçando a vida religiosa como carmelita, em 1431.<br /><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJL851AC3KlbeQMLlw5Anosl5t5lzfBWi4NB97-_iUatC3aMb7YzgV_d39dreRsTp44ImTvz9d4nMfrd-BT5ItTSLdWBk12MX5BKs7B2pHrap3Ii2j_VKpS5fdf132f1eiWVAR/s1600-h/mestredeavis.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5040810112062303314" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJL851AC3KlbeQMLlw5Anosl5t5lzfBWi4NB97-_iUatC3aMb7YzgV_d39dreRsTp44ImTvz9d4nMfrd-BT5ItTSLdWBk12MX5BKs7B2pHrap3Ii2j_VKpS5fdf132f1eiWVAR/s320/mestredeavis.bmp" border="0" /></a>Dom João I casou-se com Filipa de Lancaster, filha do Duque de Lancaster, cumprindo uma histórica aliança com o reino inglês, e criou a nova família do reino português, a dinastia de Avis. Dom João era um homem politicamente arguto e tendo uma educação refinada, provinda da instrução que obteve como Mestre de Avis, possuía vastíssima cultura. Filipa de Lancaster era uma inglesa devota, amada pelo povo e temida pela nobreza, pela extrema rigidez católica de sua conduta. Dizem que moralizou a corte portuguesa, famosa por seus escândalos sexuais. No entanto, o legado do Mestre de Avis é que ele fundou a nacionalidade portuguesa e transformou Portugal na primeira nação-estado da história.<br /><br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzwCeu07eiuQLJ_gFDpEMS0QX0m0kxEXG2wE5ojFFO5-6YOiV23i1-8Vkkr6JlNTcJ8aFRD1bKMR8bJxAQK6o3OjXXWQy6eQ6baxBvI0AM4EIdPZcxrkR4jZ8Y_1XAdWU9xEaK/s1600-h/Henriquenavegador.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5040811649660595298" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzwCeu07eiuQLJ_gFDpEMS0QX0m0kxEXG2wE5ojFFO5-6YOiV23i1-8Vkkr6JlNTcJ8aFRD1bKMR8bJxAQK6o3OjXXWQy6eQ6baxBvI0AM4EIdPZcxrkR4jZ8Y_1XAdWU9xEaK/s320/Henriquenavegador.bmp" border="0" /></a>É a partir da geração de Avis que Portugal se destacará como potência mundial. Dom Henrique, o Infante <strong><em>“navegador”,</em></strong> filho de Filipa e de Dom João, funda a Escola de Sagres, uma sociedade em que reúne toda o conhecimento intelectual, desde então, da ciência náutica. São físicos árabes, matemáticos judeus, e muitos sábios de toda a Europa, que empreendem toda um conhecimento tecnológico marítimo, que transformará Portugal num império. Esse dilema expansionista já se inicia em 1415, quando Ceuta foi conquistada a favor dos portugueses. O rei Afonso V é elevado o <strong><em>“Africano”,</em></strong> por incrementar a conquista de novos domínios portugueses ao norte da África, financiando várias guerras contra os mouros. E a partir de todo o século XV, Portugal patrocina viagens para buscar novas rotas marítimas comerciais, a fim de superar o Mediterrâneo controlado pelos árabes, genoveses e venezianos. Lisboa acaba se tornando a capital da Europa. Rendas de todo o continente vão ali, financiando navios e novas rotas para o comércio com as Índias. Enfim, com a dinastia de Avis, inicia-se a Era dos Descobrimentos e a expansão da Europa pelo mundo afora!<br /><br />Com a ascensão de Avis, a língua portuguesa começa a dissociar do galego, ganhando ares de língua nacional. O trovadorismo nesta época cai em desuso, sendo substituída por uma nova arte, influenciada pela corte espanhola: <strong>a música e poesia palaciana.</strong> Fruto de complexidade burocrática do Reino, a música e poesia palacianas surgem como entretenimentos de uma corte centrada na figura do rei. Tais poesias se caracterizam pela métrica de redondilha e pela sofisticação estilista da poesia, sem o primitivismo das trovas medievais. Grande parte das músicas e poesias é compilada, a mando do próprio monarca, como prova da dedicação do reino à cultura, e as coletâneas poéticas e musicais são chamadas de <strong><em>“Cancioneiros”.</em></strong> Muitas das músicas são datadas por volta de 1450, nos reinados de Afonso V e João II, embora fossem somente publicadas em 1516, por Garcia de Resende, sob o título de Cancioneiro Geral.<br /><br />Uma outra documentação importante, diz respeito ao chamado <strong><em>“Cancioneiro de Elvas”</em></strong>, obra-prima compilada no século XVI, mas, com músicas que variam do final do século XV e no inicio do século XVI. O Cancioneiro de Elvas é uma perfeita caracterização de estilos musicais da época, que vão da polifonia flamenga, então nascente em Portugal, até os vilancetes <strong><em>(em castelhano, vilancicos)</em></strong> espanhóis, herdados do Cancioneiro Del Palacio. Curiosamente a influência espanhola é sentida nos cancioneiros portugueses: <strong>além da predominância das canções em língua castelhana, há peças do teatrólogo espanhol Juan Del Encina.</strong> As músicas palacianas falam do amor e da morte, no sentido do amor cortês. Do pessimismo da vida e da redenção religiosa. Ou no caso dos vilancetes, temas pastoris, que misturam com a singeleza do amor vilanês. Enfim, obras-primas que finalizam o mundo medieval e abrem portas ao Renascimento português.<br /><br /><br /><strong>(Cancioneiro de Elvas – Portugal – Século XV – XVI).</strong><br /><br /><br /><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10011">01. Que he o que vejo. (Anônimo). </a><br /><br /><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10010">02. Las tristes lágrimas mias. Instrumental (Anônimo).<br /></a><br /><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10009">03. Corazón mio. - Instrumental (Anônimo)</a><br /><br /><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10008">04. Cuydados meus tan cuidados. (Anônimo).<br /></a><br /><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10014">05. A la voy. (Anônimo).<br /></a><br /><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10012">06. Romerico Tú que vienes. (Juan Del Encina- 1469 - + 1530). </a></div>Conde Loppeux de la Villanuevahttp://www.blogger.com/profile/03123027651841021079noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-38583270.post-24396045120737882242007-02-13T00:35:00.000-08:002007-03-11T20:38:11.398-07:00L´homme Armée: a Missa do cavaleiro armado contra os turcos!<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2Ti5L7IcaCIc0xaFLCTDUsR7pZFoJO9RtkJFSK25wFBrW7gS395n2UV7GbRIiwnM2AphwtSUGfF2BAEnQzwYhxk8Dio-OksvGfVwEuhY6Ce82MSOe_Hp9vtAQmlqcJKL_Yksl/s1600-h/Cruzadorezando.gif"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5030934561131380418" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2Ti5L7IcaCIc0xaFLCTDUsR7pZFoJO9RtkJFSK25wFBrW7gS395n2UV7GbRIiwnM2AphwtSUGfF2BAEnQzwYhxk8Dio-OksvGfVwEuhY6Ce82MSOe_Hp9vtAQmlqcJKL_Yksl/s320/Cruzadorezando.gif" border="0" /></a> No século XIV, um cavaleiro catalão, de nome Jeanot Martorell, escreveu uma obra-prima da literatura medieval: <strong>Tirant lo Blanc.</strong> A obra representa o auge dos livros de cavalaria, como também, a sua decadência, posteriormente retratada na obra de Cervantes, Don Quijote. De fato, Cervantes faz uma leve homenagem a obra <strong>“Tirant”,</strong> quando cita que o autor da obra devia ser jogado às galeras. Muito se comenta a origem de tal expressão; na verdade, era um trocadilho: <strong>“galera” não significava necessariamente o navio de remo, cuja força era movidas por escravos e sim as chapas de impressão de um livro.</strong> Além dos enredos fantásticos, inverossímeis e extraordinários da obra, há outro elemento marcante, que reflete os contextos da história: <strong>a reconstituição do imaginário europeu do século XIV.</strong> Em particular, retrata vários costumes comuns da Espanha no século XIV, como também do mundo europeu desde então. Uma delas, diz respeito aos valores, responsabilidades e ritos da cavalaria medieval. Em dedicatória ao Príncipe Dom Fernando de Portugal, o gentil homem Martorell fala das razões de sua obra, descrevendo as atribuições da nobreza e os valores da cavalaria: <strong><em>“(...)considerando a afeição e o desejo permanentes que tenho por servir vossa formidável senhoria, a relevando a rudeza da estrutura e desequilíbrio das sentenças, a fim de que por vossa virtude a divulgueis entre os servidores e demais pessoas, para que dela possam tirar o fruto adequado, sensibilizamo-nos o ânimo, e a fim de que não temam os duros feitos das armas e tomem partidos honrosos, empenhando-se no bem comum, para o qual existe a milícia. Ademais, esta obra iluminará aqueles que moralmente pertencem à cavalaria, apresentando exemplos de bons costumes, eliminando a urdidura dos vícios e a ferocidade dos atos monstruosos”.<br /></em></strong><br />Há uma particularidade neste trecho, que reflete o caráter da nobreza medieval: <strong>a de “milícia” pública, autoridade reconhecidamente política, na defesa, pelas armas, dos povoados, províncias, cidades e reinos.</strong> As ordens militares, e, concomitantemente, a ordem de cavalaria, servem para defender o povo contra a investida dos saqueadores e impor a ordem pública. Há de se compreender que o caráter público e privado se confundia na Idade Média: as famílias, as associações, as ordens militares e religiosas, eram sociedades privadas e políticas ao mesmo tempo. O status individual de cada membro dessa sociedade era pré-determinado pela casta a que pertencia e isso implicava solidariedade, num mundo violento e turbulento. Isso retrata, em parte, o caos político do mundo medieval e a força das associações privadas como elemento de sobrevivência. O indivíduo encontrava proteção em sua casta, sua família e suas alianças privadas. Suas ligações de vassalagem e suserania implicavam acordos mútuos, que iam desde alianças entre nobres de linhagens hierarquicamente diferentes, como até casamentos políticos. Entre trocas de favores, alianças familiares e políticas e homenagens entre senhores feudais e vassalos, a sociedade política medieval, precária, conseguia criar seus vínculos orgânicos de estabilidade social.<br /><br />Por outro lado, a religião cristã era um consenso dentro da divisão política do mundo feudal. Ela era o consenso maior dentro da fragmentação política européia. O liame que unia o nobre, o plebeu, o servo, o homem livre, o burguês e mesmo o clero, era a Cristandade, que compreendia tanto os valores do cristianismo, como a sua representação institucional, na figura da Igreja Católica. Foi a Igreja quem criou a união espiritual da Europa. A sua autoridade fundamentou uma ética comum entre todos os povos europeus, unificando-os no plano dos valores, da cultura intelectual, das artes, da família, das instituições políticas e mesmo das regras da cavalaria e da nobreza. A finalidade da Igreja era orientar as instituições políticas e sociais, em vista dos valores de um ideal cristão de sociedade.<br /><br />De fato, ficou por conta da Igreja, todo o legado da cultura clássica grega e romana, além da educação no mundo medieval. Em parte, esse predomínio cultural foi causado pelo total alheamento das variadas classes sociais, entre os quais a nobreza e a plebe, que não se interessavam pela manifestação intelectual. Isso criou um vácuo em que o clero se incumbiu de preencher, já que todo o legado de Roma estava na tradição intelectual da Igreja. Muitos afirmam que a Igreja quis <strong>“monopolizar”</strong> a cultura intelectual da Europa medieval: <strong>há um mito exagerado nisso, pois, na prática, a Igreja só monopolizou a cultura, precisamente porque não havia nenhum outro grupo que se inteirasse pelo conhecimento intelectual.</strong> Os nobres, em geral, eram analfabetos, e uma boa parte deles só pensava nas artes da guerra e da <strong>“milícia”.</strong> Até o imperador Carlos Magno não sabia ler e, só depois de muito tempo, aprendeu o latim. Os plebeus, entre os quais, servos e camponeses, apenas pensavam no esforço cotidiano das colheitas e somente muito tempo depois, as classes urbanas começaram a se interessar pela instrução, fundando os elementos culturais de um mundo laico.<br /><br />Isso porque os livros eram muito caros e inacessíveis, além de valiosos. As bibliotecas medievais eram muito escassas de livros. Raramente passavam de mil exemplares. As práticas artesanais de fabricação de livros eram manuais e bastante precárias para produzi-las em grande escala. Embora seja difícil comprovar, afirma-se que só no século XIV, a fabricação de livros não passava de cem exemplares em um século. Havia um elemento adicional a isso, que era o fato de a população ser, em sua maioria, analfabeta. Daí a necessidade de livros serem produzidos apenas a uma classe minoritária de eruditos em mosteiros e universidades.<br /><br />Alguns historiadores afirmam que a imposição do latim, enquanto língua litúrgica da Igreja, foi um precedente da monarquia carolíngia, que engendrando a nova unidade imperial, queria fundamentar um vínculo comum dos povos. Havia uma tendência interna, embora minoritária da Igreja, de considerar as línguas vernáculas na tradução de textos bíblicos ou mesmo nos ritos da missa. A ortodoxia grega, muito mais liberal neste sentido, considerou o vernáculo bíblico e quando iniciou o processo de conversão da Europa Oriental, traduziu uma boa parte de sua liturgia para o eslavônio. A Igreja Católica pretendia fazer essa concessão, quando os monges bizantinos Cirilo e Metódio quiseram pregar o cristianismo, dentro dos princípios do vernáculo. Porém, Metódio acabou sendo preso e o latim foi imposto como condição da difusão doutrinária da Igreja.<br /><br />Se por um lado, a imposição tradicional do uso do latim pode ter dificultado a introdução do catolicismo romano no mundo eslavo, por outro, facilitou o processo de unidade da Igreja na Europa Ocidental. A sociedade européia medieval era uma babel de dialetos: <strong>elas variavam de feudo para feudo, casta por casta. </strong>Os nobres falavam um dialeto próprio, diferente da plebe; e as variações lingüísticas eram as mais complexas possíveis. Na Inglaterra normanda do século XII, os nobres ingleses falavam francês d´oil, enquanto a plebe falava o saxão e os rudimentos do que seria o inglês moderno. O rei da Inglaterra Ricardo Coração de Leão raramente usou o inglês em toda sua vida. Falava o francês do seu feudo, na Aquitânia, e uns rudimentos do latim. O latim, língua oficial da igreja e dos eruditos doutores do clero, tornou-se uma espécie de idioma comum do mundo medieval. A importância cabal dessa adoção, do ponto de vista cultural, foi a vinculação e difusão da cultura romana na sociedade européia, que conseguiu preservar suas raízes. Não haveria sentido escrever em língua vernácula no mundo medieval, sabendo-se que ficaria restrito apenas a um feudo ou cidade em particular. O latim significou um vínculo de comunicação entre os povos da Europa e sua cultura. Essa tradição intelectual de intercomunicação latina perseverou até o século XVIII, quando o latim foi substituído pelas línguas vernáculas modernas.<br /><br />Outra discussão, muito polêmica, diz respeito à difusão da bíblia no mundo medieval. Muito explorada pelos críticos da Igreja, em particular, os de fé protestante e mesmo alguns céticos, diz respeito ao controle dos textos bíblicos. No entanto, há de se entender essa margem de idéias, dentro do contexto histórico. A leitura da Bíblia nunca foi condenada no mundo medieval. O máximo que a Igreja restringia era a livre interpretação dos textos bíblicos, que quebrassem a unidade e tradição da Igreja, gerando a heresia. Há se compreender que a unidade religiosa da Europa era uma questão essencial, um consenso político, cuja ruptura poderia causar sérios conflitos e convulsões sociais. As revoluções milenaristas medievais eram frutos da interpretação errada de textos, que fora de seu contexto tradicional, acabavam por gerar conflitos e guerras. O ápice dessa dissidência interna da Europa foi a Reforma Protestante, quando a revolta teológica de Lutero acabou por se tornar uma revolta nacionalista e religiosa, causando uma guerra civil na Alemanha e entre países no continente. A fragmentação do cristianismo europeu, no século XVI, foi um dos processos mais traumáticos e violentos da história européia.<br /><br /><br />Ao seguir a filosofia agostiniana de suma autoridade pelo bispado de Roma, como guardiã mesma da espiritualidade européia, a Igreja se incumbia no papel de orientar a tradição e conter as dissidências internas. É claro que tal autoridade implicava uma certa dose de abusos, já que uma parte do clero exigia o controle maior dos textos bíblicos e isso gerava proibições de acessos, a não ser por leituras autorizadas pelos bispos. Tal excesso de poder acabou por corromper, futuramente, a Igreja. Isso escandalizava o clero grego, muito mais liberal, no que diz respeito a leitura bíblica, já que se conheciam várias traduções vernáculas no mundo ortodoxo. Entretanto, a igreja ortodoxa compensava sua descentralização episcopal, com a unidade do império bizantino e sob determinados aspectos, as heresias causavam complicações teológicas e políticas sérias no mundo grego. A iconoclastia do século VIII foi um movimento herético liderado pelo imperador de Bizâncio contra as imagens. Influenciado diretamente pelos monofisistas e pelas crenças islâmicas e judaicas de repúdio a imagens, o império bizantino começou a destruir imagens de santos e proibir seus cultos. Isso levou o império a uma feroz briga entre uma parte do clero grego e romano contra os áulicos do imperador. E como não devia deixar de ser, descambou para violência, quando o Império mandou executar vários clérigos e súditos acusados de não acatarem aos caprichos imperiais. A estrutura política dos patriarcados gregos era precária, precisamente por carecer de uma unidade intrínseca, que era conjecturada somente pelo papa e pelo imperador. Com a excomunhão da Igreja Grega por Roma, em 1054, essa tendência centrífuga acabou por se fortalecer, até o ponto em que Constantinopla caiu, em 1453, destruindo um princípio de unidade política do clero grego.<br /><br /><br />A Igreja Católica Romana tinha uma situação muito mais complexa a resolver. Na verdade, uma boa parte das restrições bíblicas se deveu às heresias cátaras do século XIII, quando grupos fanáticos gnósticos começaram a apregoar doutrinas estranhas, fora do âmbito do cristianismo e da institucionalidade regular do clero. <em><strong>“Cátaro”</strong></em>, no grego, que dizer <strong>“puro</strong>”, e como partidários maniqueístas do bem e do mal, acreditavam na dissociação entre a carne e o espírito e em duas entidades divinas, Deus e Satã. Como criam que a carne era uma espécie de prisão do espírito, incentivavam o suicídio, o assassinato de mulheres grávidas e a total abstinência sexual. Negavam a autoridade dos eclesiásticos e do papa, e matavam muitos padres. E para subjugar a revolta, a Igreja teve que mover uma cruzada e o estabelecimento da Inquisição, para pacificar a região de Albi, na França, foco da heresia. No entanto, essa restrição era momentânea, variada de acordo com as tensões internas do mundo medieval. No geral, a bíblia latina era estudada, embora devesse ter o respaldo oficial e orientação da Igreja. Na prática, até o século XV, com a formação de uma elite leiga de letrados e o surgimento da imprensa, a publicação da bíblia no latim e mesmo nos originais em grego, acabou por disseminar a várias classes sociais ascendentes, que buscavam as letras. Até o advento do protestantismo, uma boa parte das classes letradas, sejam elas leigas ou eclesiásticas, viam com maus olhos a tradução da bíblia para o vernáculo. A Vulgata Latina de São Jerônimo tinha um profundo peso de tradição.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkD5RlZl-XSqunIgxqqkJTmQF825O54vjgy1XSboL4sGskRRCyEPhd-gU5HhMqNJSa586D8cE5BHuwirY6-mQSonGReofsdp3qIE5_ly9JS1l6yrXQSuOEnEBNju_DVqj3dcgZ/s1600-h/cruzadas011.gif"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5040876744184933554" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkD5RlZl-XSqunIgxqqkJTmQF825O54vjgy1XSboL4sGskRRCyEPhd-gU5HhMqNJSa586D8cE5BHuwirY6-mQSonGReofsdp3qIE5_ly9JS1l6yrXQSuOEnEBNju_DVqj3dcgZ/s320/cruzadas011.gif" border="0" /></a><br />A unidade católica medieval também preservou o homem europeu de uma das maiores ameaças à sua autonomia política e sua liberdade: <strong>a expansão do islamismo.</strong> Entre os séculos de auge das cruzadas, um povo do Oriente particularmente atormentava o imaginário de ódio dos europeus cristãos medievais: <strong>os turcos.</strong> Convertidos ao islamismo, eram famosos pela truculência e pela crueldade, expandindo seus domínios sobre o Império Bizantino e mesmo sobre as possessões árabes e persas. A briga turca e cristã se iniciou quando os turcos seljúcidas<strong> (nome atribuido a seu lider, Seljuk)</strong> tomaram Jerusalém, no século XI e começaram a hostilizar os peregrinos cristãos que visitavam a Terra Santa. Os turcos profanavam os lugares santos cristãos da Palestina e saqueavam os peregrinos que visitavam a cidade de Jerusalém. Isso acarretou sentimentos hostis da Cristandade contra o Islã em geral, e os turcos, em particular. E em resposta ao apelo do imperador Alexius Comnenos, de Constantinopla, Urbano II conclamou aos cristãos se armarem contra os infiéis.<br /><br />Os métodos cruéis dos turcos em relação aos dominados, eram conhecidos pelos cristãos. A execução mais comum que os invasores aplicavam aos dominados era a empalação, que consistia em enfiar uma estaca no ânus do condenado até sair pela boca. Saques, violências, escravidão e estupros acompanhavam a expansão turca, que ameaçava a Europa. Cidades da Europa Oriental eram atacadas e saqueadas e quando o sultão Maomé II tomou Constantinopla, a principal cidade da Cristandade no oriente, em 1453, causou uma profunda comoção na Europa. Com a conquista do império bizantino, o recém-formado império turco abriu as portas para o ocidente, hostilizando desde o continente até o Mediterrâneo. Muitos cristãos questionaram aos céus, o porquê da perda da grande cidade cristã do antigo império romano oriental. O impacto foi profundo e o ressentimento aumentou. No século XVI, o Império Turco atacava várias cidades do Mediterrâneo e do Leste Europeu. Guerras entre o Sacro Império e os turcos eram relativamente comuns, inclusive, no que diz respeito aos exércitos de Carlos V e seus domínios eslavos. A pirataria turca capturava navios europeus e gerenciava um comércio de escravos brancos, outrora patrocinados pelos árabes. Até o século XVIII, cerca de um milhão de europeus foram escravizados no Mediterrâneo e as mulheres brancas eram mandadas aos haréns ou aos prostíbulos.<br /><br />No ano de 1571, os otomanos reuniram uma das maiores armadas que havia notícia, para atacar as cidades do sul da Itália e do Chipre e abrir as portas para a invasão da Europa pelo Mediterrâneo. Todavia, a Espanha católica, revigorada do espírito guerreiro da Reconquista e da Contra-Reforma, organizou uma Santa Liga Católica, junto com a República de Veneza, a Casa de Savóia, a Ordem de Malta, o reino de Nápoles e os Estados papais. Sob o comando do príncipe Dom João de Áustria, irmão do rei espanhol Felipe II, travou-se uma das maiores e mais ferozes batalhas navais da história: <strong>a batalha do Lepanto!</strong> Duzentos e quatorze navios cristãos enfrentaram bravamente duzentos e trinta grandes galeras turcas e esmagaram a Armada no golfo do Lepanto, na Grécia. A vitória cristã representou a completa salvação da Europa contra uma invasão otomana e selou o declínio da pirataria turca no Mediterrâneo. Mas, essa ameaça só terminou, de fato, no final do século XVII, quando os turcos, em cerco a cidade de Viena, no ano de 1682, foram derrotados pelos exércitos do Sacro Império e, pelo exercito polonês do nobre Jan Sarbierski. O Grão Vizir Kara Mustafá foi decapitado pelo sultão por ter perdido a batalha por Viena.<br /><br /><br /><br />A obra de cavalaria de Jeanot Martorell, Tirant lo Blanc, contém sérias menções aos turcos: <strong>o personagem herói do livro, Tirant, consegue reconquistar o <em>“império grego”,</em> e converte todos os infiéis, na força, ao cristianismo. </strong>Em outro trecho da obra, um cavaleiro romano, núncio do papa, chega a Constantinopla e encontra o Imperador apático, diante do uso da principal Igreja Cristã da cidade, como estábulo para os cavalos <strong>(provavelmente Hagia Sofia). </strong>O nobre protesta contra a covardia do monarca, questionando o porquê de aceitar sujeitar-se aos turcos, essa <strong>“gente de pouco valor”</strong>, nas suas palavras.<br /><br />Os turcos saqueavam a cidade, molestavam as mulheres e pilhavam tudo o que viam, quando entraram no templo e viram o fidalgo, junto com outros cavaleiros, rezando para o altar da Virgem Santíssima. Quando tentaram tirar o altar, o cavaleiro brandira a espada e ameaçava matar todos os que viessem a destruir a Igreja. Impressionado com a coragem do rival, o capitão turco, temeroso, acabou por ir embora e deixar a cidade, enquanto a ordem foi restaurada.<br /><br />Em outro trecho da obra, um rei mouro invade o reino da Inglaterra. Quando o exército infiel é derrotado pelos cristãos, o líder das tropas, o conde e eremita Guilherme de Varoic eleva seu filho cavaleiro e, como iniciação, manda-o matar um mouro gigantesco capturado. Há uma cena bizarra no romance: <strong>o filho pega da espada e mata o mouro a duros golpes.</strong> O conde pega a cabeça de filho e o enterra nas feridas do cadáver, sujando-o de sangue. Tamanho anátema representava os islâmicos, que eram vistos como objeto de ódio pelos cavaleiros cristãos. Os turcos que o digam, na descrição do romance de Martorell. O imaginário da queda de Bizâncio é profundo em sua narrativa. Isto porque a obra foi escrita por volta de 1460, sete anos depois da conquista da cidade.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyDrT3F9CaBPohyWoX-iINWEl2jzVzQlwnxqUArvj1gl-ZZY2OWti6ZyVoV-G-x6zoQImC2wR7mVeaM3XytqQlHrY2Ci3cz2uG3RQs8_-Ry3WmIb6ZbAcdSqguAALBLArJwDwQ/s1600-h/josquindeprez.gif"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5040748324662782962" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyDrT3F9CaBPohyWoX-iINWEl2jzVzQlwnxqUArvj1gl-ZZY2OWti6ZyVoV-G-x6zoQImC2wR7mVeaM3XytqQlHrY2Ci3cz2uG3RQs8_-Ry3WmIb6ZbAcdSqguAALBLArJwDwQ/s320/josquindeprez.gif" border="0" /></a>Esse imaginário refletiu na música. A canção anônima <strong>“L´homme Armée”,</strong> composta no século XV, refere-se a uma cruzada contra os turcos. Ela inspirou belas missas de um dos maiores gênios da polifonia flamenga medieval: <strong>Josquin Deprès.</strong> Não se sabe ao certo onde e quando nasceu, embora tradicionalmente afirmam ser em Hainaut, atualmente na Bélgica, em 1440. Josquin Deprèz teve sua educação inicial dentro das cortes francesas e, posteriormente, nas capelas papais. Serviu como maestro do Duque Ercole I, de Ferrara, por volta de 1503 e, fugindo de uma peste, acabou por aceitar a proteção dos príncipes franceses de Conde, como canônico da Colegiata Conde-sus-L´Éscault, falecendo nesta cidade, no dia 27 de agosto de 1521. As missas aqui expostas foram publicadas em 1502, quando de sua estada em Ferrara, pelo impressor Petrucci, e influenciaram profundamente a música renascentista.<br /><br />A polifonia é uma estrutura de vozes, de tonalidades diferenciadas, que formam um conjunto musical harmônico. As primeiras polifonias foram desenvolvidas no século XI e faziam contraposição à homofonia, comum no canto gregoriano, onde somente uma voz é cantada no coral. Deprèz influenciou toda uma geração de músicos polifônicos europeus, desde Palestrina, Tomás de Victoria e Orlando de Lasso, até músicos protestantes, como o próprio Lutero. O termo “missa”, comum a esse tipo de gênero musical, expressa o sentido de liturgia da Igreja Católica e dos ritos e palavras do Canto Gregoriano: <strong>Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus, Benedictus e Agnus Dei.</strong> A presente obra expressa o espírito do cavaleiro armado, o fervor do homem medieval rezando, armado em defesa da Cristandade!</div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><strong>(Josquin Deprèz - Prov. 1440 - + 1521).</strong></div><div align="justify"><strong></strong></div><div align="justify"><strong></strong></div><div align="justify"><strong></strong></div><div align="justify"><strong>A Missa "L´homme Armée" - Super Voces Musicales.</strong></div><div align="justify"></div><div align="justify"><strong></strong></div><div align="justify"><strong></strong></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10002">01-Kyrie</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10003">02-Gloria</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10004">03-Credo</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10005">04-Sanctus et Benedictus</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/conde_loppeux.public/conde_loppeux.10006">05-Agnus Dei</a></div><div align="justify"><em></em></div>Conde Loppeux de la Villanuevahttp://www.blogger.com/profile/03123027651841021079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38583270.post-63373444777895661182007-02-02T23:48:00.000-08:002007-03-11T20:41:16.743-07:00Bizâncio: as portas do Império Romano no Oriente!<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUZTSryV5UO4gwXauTmCNi1hhgDOZUfZSxfhO_bXJZf8ZdvC5aFgONcyyojwfiWfxkTgKZXgLwF0HSmtfmRbE7CED0sbbzwnWXWtdAFE2C8mp4hby9PJbc16Art30SeFk3Rq-Q/s1600-h/justiniano.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5027212473554350146" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUZTSryV5UO4gwXauTmCNi1hhgDOZUfZSxfhO_bXJZf8ZdvC5aFgONcyyojwfiWfxkTgKZXgLwF0HSmtfmRbE7CED0sbbzwnWXWtdAFE2C8mp4hby9PJbc16Art30SeFk3Rq-Q/s320/justiniano.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify">Para os gregos, a cidade era Bizâncio; e, posteriormente, para os romanos, era Constantinopla, ou simplesmente <em><strong>“cidade de Constantino”.</strong></em> Bizâncio era uma pequena e antiga polis, localizada no litoral do Mar Bósforo, fundada em 657 A.C., sem muita proeminência política até 330, quando o imperador de Roma, Constantino I, elevou-a a capital do Império Romano do Oriente. Na prática, a posição de Bizâncio era o portal entre a parte ocidental e oriental do Império, já que sua localização era o liame entre os domínios imperiais. Constantino batizou-a como <strong><em>“Nova Roma”,</em></strong> porém, o nome não vingou. Acabou prevalecendo o nome do imperador que a rebatizou.<br /><br />No entanto, essa situação não foi totalmente pacífica. Constantino entrou para a história como o homem que cristianizou a religião do Império, e elevou a Igreja Católica como sua fé oficial, revogando, por decreto, as antigas crenças pagãs de Roma. O Édito de Milão de 313, que se passava por norma de tolerância, na prática, legalizou o cristianismo e decretou o fim do paganismo romano. Diz a lenda, que se converteu ao cristianismo, quando, na batalha de Ponte Mílvio, viu a Cruz de Cristo nos seus sonhos, com os dizeres: <strong><em>In Hoc Signo Vinces! (com este símbolo, vencerás!). </em></strong>Mandou pintar as cruzes nos escudos e teve uma esmagadora vitória em combate.<br /><br />Na verdade, Constantino movia uma feroz guerra civil contra dois imperadores: <strong><em>Maxentius, do ocidente, e Licínio, do Oriente.</em></strong> Constancius, pai de Constantino, era um dos imperadores da Tetrarquia, e coexistia politicamente com outros imperadores. Era regra em vigor do Império as subdivisões governamentais criadas pelo imperador Diocleciano, que separava o Império em setores do Ocidente e Oriente. A renúncia de Diocleciano, em 305, causou uma anarquia política total do Império. Constantino ajudou a quebrar essa regra, quando usou a força contra todos os imperadores, em nome da unidade imperial. Em Ponte Mílvio selou a derrota e o fim do império de Mexentius, e em 323, Constantino mandou matar seu genro e rival Licínio, governando sozinho o Império.<br /><br />Era difícil constatar se Constantino era um cristão autêntico. Sob determinados aspectos, ele era um verdadeiro pagão, manifesto na brutalidade de sua política e mesmo nas concepções religiosas pouco ortodoxas de cristianismo. Ele mesmo se autonomeava o “<strong><em>Apóstolo dos Apóstolos” </em></strong>de Cristo, e, antes de morrer, ordenou que fizessem um túmulo, em sua homenagem, colocando praticamente como de um status quase divino, próximo do próprio Jesus. Nos últimos anos da vida de Constantino, ele enfrentou séria resistência da Igreja Católica, já que o patriarca de Alexandria, Atanásio, fez duras críticas contra o que considerava muitas das heresias do imperador, que estava se alinhando aos arianos. A heresia ariana negava os atributos divinos de Cristo, e a própria Igreja, almejando a própria independência política, não tolerava a interferência do Imperador em seus assuntos teológicos e internos.<br /><br />Paradoxalmente, a ascensão do cristianismo como religião do império foi um dos elementos mais profundos e marcantes da civilização ocidental. Talvez nem Constantino percebera o grau de importância ao firmar o estabelecimento oficial da Cristandade. De fato, a intenção do imperador era fortalecer a unidade do Império. Porém, ele acabou por restabelecer uma cultura religiosa revolucionária, que moldou profundamente a alma da sociedade européia.<br /><br />Essa tendência de cristianização da Europa já existia bem antes de Constantino. Nos três séculos anteriores ao seu governo, o cristianismo se tornou uma das forças mais importantes do Império, e junto com ela, a Igreja. A Igreja Católica já se aprofundava no espírito da Roma bem antes de sua oficialização, em atos de caridade, perseverança, penitências, martírios e astúcia política. Havia Igrejas em toda parte do Império: <em><strong>Roma, Norte da África, Grécia, Palestina.</strong></em> O processo de conversão do povo veio das classes baixas, até chegar às elites do Império. No século IV, uma boa parte da elite do Império se considerava cristã.<br /><br />Há muitas explicações para a ascensão do cristianismo em Roma: <strong><em>uma delas, diz respeito à visão teológica e moral do cristianismo. </em></strong>Ao contrário das variadas religiões, ou mesmo da religião estatal do Império, o cristianismo possuía uma explicação universalista da salvação da humanidade, uma promessa de vida eterna, uma ética humanitária, além da crença de um Deus único. A profundidade ética de seus preceitos de família e de religião, herdada do judaísmo, causara enorme impressão a muitos povos do império, em particular, os romanos.<br /><br />No entanto, essa transformação espiritual nem sempre foi pacífica. Houve alguma resistência dos pagãos, inclusive, de imperadores. O imperador de Constantinopla, Juliano, odiava os cristãos. Fez tudo para persegui-los e restaurar a antiga fé pagã. Ademais, hostilizava profundamente a cidade de Bizâncio, desejando transferir sua capital para Antioquia. Porém, ele acabou morrendo, e o cristianismo, mais uma vez, voltou ao Império. Com Teodósio, general espanhol elevado a imperador, Constantinopla foi reestruturada e a ortodoxia doutrinária católica de Roma foi restaurada, tanto contra as heresias, como contra o paganismo.<br /><br />Com a queda do Império Romano do Ocidente, a posição de Bizâncio se consolidou politicamente. Constantinopla, com a queda de Roma, acabou por consolidar, de forma política, como herdeira da cultura imperial. De fato, herdaram várias possessões ao norte da África, uma parte do Oriente Médio e da Grécia. A capital imperial do oriente era uma das mais cosmopolitas que se tinha notícia. Embora os bizantinos falassem, pensassem e rezassem em grego, consideravam-se romanos, herdeiros das tradições imperiais. Enquanto o papado da Igreja ficava na Europa Ocidental, guardando a velha tradição eclesiástica do bispo de Roma, Bizâncio representava a força militar que restou do império.<br /><br />O auge do reinado de Bizâncio de caracterizou pela ascensão de Justiniano, que reinou de 527 a 565. Foi um governo de expansão política do império e de muita conturbação social. Justianiano moveu guerras contra os godos da Itália e esmagou o reino dos Vândalos, ao norte da África. O seu exército, sob a liderança do general Belisário, conquistou o sul da Itália, e a cidade de Roma, sob domínio godo, acabou por se sujeitar politicamente ao imperador. O papa foi rebaixado a um duque do império, obrigado a pagar tributos ao imperador. A cidade de Ravena, junto com a Sicília, também foi anexada como parte do Império.<br /><br />Justiniano, através de um ideal político autocrático, criou uma enorme burocracia política e sujeitou a Igreja sob seu comando. Isso não impediu a revolta de Nika, em 532, quando a população, revoltada com os altíssimos impostos, acabou por se sublevar. Facções internas do império tomaram a cidade, massacrando a guarda real, e destronando Justiniano. Porém, quando o imperador iria fugir, sua esposa, a imperatriz Teodora, convenceu-o a resistir à revolta. Teodora tinha uma história obscura: <strong><em>antes de ser imperatriz, era uma dançarina de prostíbulo.</em></strong> Todavia, ela mostrava ser de uma profunda personalidade e sabia valer, talvez, mais do que o imperador, a liturgia do cargo. Suas palavras foram de profunda firmeza: </div><blockquote></blockquote><div align="justify"><br /><em><strong>"Ainda mesmo que a fuga seja a única salvação, não fugirei, pois aqueles que usam a coroa não devem sobreviver à sua perda. Se queres fugir, César, foge; eu ficarei, pois a púrpura é uma bela mortalha."</strong></em> Com a ajuda do leal general Belisário, a revolta foi esmagada e trinta mil rebeldes foram executados. Com a pacificação do reino, Justiniano consolidou seu poder pessoal. </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><blockquote></blockquote><div align="justify"><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1hMFQmhGb3vAdqzHx_i7cKNOYXvo287w_OmLYrA6EGfqYz6HgF3pvHZti5RERdw-ouowX7SmJFfRjD3OAZP3k1SEv3NCPrLFQMzj7ZiFNhYlSKGQjDTl9NBYaUDhEHL8pfMup/s1600-h/hagiasofia-02.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5040877478624341186" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1hMFQmhGb3vAdqzHx_i7cKNOYXvo287w_OmLYrA6EGfqYz6HgF3pvHZti5RERdw-ouowX7SmJFfRjD3OAZP3k1SEv3NCPrLFQMzj7ZiFNhYlSKGQjDTl9NBYaUDhEHL8pfMup/s320/hagiasofia-02.jpg" border="0" /></a> Justiniano também legou à civilização, dois grandes monumentos do mundo ocidental: <em><strong>uma, foi a Igreja de Santa Sofia, gigantesco templo e verdadeira obra-prima arquitetônica. A arquitetura do templo de “Hagia Sophia” é tão magnífico, que a “arte bizantina” se confunde com a Igreja construída pelo imperador. E outra, foi o que, modernamente, chamou-se Corpus Juris Civilis, verdadeiro compêndio jurídico de todo o direito romano.</strong></em> Na verdade, o termo foi criado no século XVI, pelo jurista francês Denis Godefroy, para dar nome a uma das maiores relíquias jurídicas do mundo antigo e medieval. Em 528, Justiniano nomeou dez juristas para elaborar um projeto legal, reescrevendo jurisdições de vários imperadores anteriores. Em 529, surgiu o Codex de Justiniano. Em 530, o imperador reuniu uma nova comissão de dezesseis juristas, para compilar a doutrina, leis e jurisprudência histórica romana. Desse estudo jurídico, que vai das leis da república romana até o império, surgiu os Pandectas,ou Digestas, envolvendo cerca de 40 juristas clássicos romanos. Em 533, os juristas condensaram a obra num manual didático para a Escola de Direito de Constantinopla e o resultado foram as Institutas de Justiniano. Em 534, cinco juristas se reuniram para reformular as leis de 529, e acabaram por institucionalizar um novo código, ou o Codex Repetitae Praeletiones. A influência bizantina nas jurisdições modernas é sentida até hoje, quando uma boa parte do Direito Civil atual deve sua estrutura às compilações justinianas. </div><blockquote></blockquote><blockquote></blockquote><div align="justify"><br />Grande parte da cultura filosófica grega foi guardada por Bizâncio. Ao contrário do mundo europeu ocidental, no império havia várias escolas leigas, que guardavam e difundiam a filosofia e a tradição literária grega. Tal acervo foi posteriormente essencial para o contato com a literatura grega pelo mundo europeu latino, a partir do fim da Idade Média. Até o mundo árabe absorveu uma boa parte da tradição filosófica grega, através das terras conquistadas de Bizâncio. Quando as obras gregas chegaram na Itália, a partir dos séculos XIII e XIV, elas revolucionaram os estudos de humanidades, quando escolas de grego foram fundadas nas cidades italianas. Posteriormente, com o surgimento da imprensa, essas obras foram rapidamente conhecidas pelo mundo erudito europeu e influenciaram profundamente a Renascença. </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /><br />Bizâncio também fez parte do processo civilizatório do mundo cristão europeu. A cristianização da Europa Oriental, em particular, dos eslavos, se deu sob o patrocínio dos monges do império bizantino. No século IX, inicia-se o processo de conversão das nações eslavas. Metódio e Cirilo, irmãos e, no caso do último, monge, foram os primeiros missionários cristãos no mundo eslavo. Foi a partir de Cirilo que se criou o alfabeto de quase todas as línguas eslavas, como o russo, ucraniano, búlgaro, sérvio, entre outros. Os chamados alfabetos cirílico e o glagolítico, foram introduzidos nas línguas eslavas, através de traduções de livros litúrgicos e religiosos da Igreja Grega. Na prática, uma boa parte do alfabeto eslavo provinha da Grécia, em específico, da região da Macedônia, terra de origem do monge Cirilo.<br /><br />A Rússia se converteu a partir do século X, quando uma princesa russa, no ano de 957, acabou por se converter e batizar-se na Igreja de Hagia Sophia, em Constantinopla. Olga, viúva do príncipe de Kiev, Igor I Rurikovich, acabou por patrocinar o cristianismo na região. Foi a primeira canonização russa da Igreja Ortodoxa, sendo a mesma, elevada como Santa Olga de Pskov. São encontrados no antigo reinado de Kiev, na Ucrânia, bispos gregos sujeitos à Igreja de Constantinopla e que eram consagrados pelo Patriarca Ecumênico. A Igreja Ortodoxa Russa, no início, era ligada a Santa Sé Apostólica de Constantinopla. Só a partir do século XVI é que se iniciou a separação da Igreja Ortodoxa Russa com a administração grega, quando o império russo começou a se consolidar, na figura da autocracia czarista. De fato, as influências do império romano do oriente foram tão profundas na Rússia, que o termo <em><strong>“czar”</strong></em> provém da antiga denominação romana dos imperadores: <em><strong>césares!</strong></em> Outro aspecto de profunda influência de Bizâncio sobre o mundo eslavo, são as músicas religiosas da Igreja Ortodoxa. Grande parte das composições russas, sérvias, ucranianas, tivera profunda influência de Constantinopla. Um detalhe que será comentado mais à frente! </div><blockquote></blockquote><br /><blockquote></blockquote><div align="justify"><br />A chamada <strong><em>“Igreja Ortodoxa”</em></strong> até o cisma de 1054, não se considerava fora da influência da Igreja Católica Romana. Embora houvesse uma unidade administrativa, havia um sério conflito cultural, político e teológico nas duas Igrejas. A Igreja Romana, zelosa de uma pureza doutrinária e de uma uniformização da fé religiosa, não se coadunava com as práticas de sua sucursal grega, muitas vezes afeita a conflitos teológicos incansáveis. Um exemplo clássico foi quando Metódio e Cirilo foram a Roma pedir apoio do papa, a respeito de converter a população eslava, sob o patrocínio do Vaticano. O papa deu carta branca para converter a população, adotando o eslavônio na missa católica. No entanto, setores mais intransigentes na Igreja Católica, junto com o apoio do reino carolíngio, não permitiram a renúncia do latim como língua litúrgica, e Metódio acabou sendo preso pelos partidários francos. Quando liberto, Metódio acabou aderindo às diretrizes da Igreja Grega. </div><div align="justify"></div><blockquote></blockquote><div align="justify"><br />Há outras histórias que conflitavam com os latinos. O imperador Leão III Isáurico, no século VIII, desencadeou uma feroz revolta contra as imagens religiosas. Influenciado pelas heresias monofisistas e mesmo pelo credo islâmico e judaico, no ano de 724, o monarca mandou destruir todas as imagens dos templos de Constantinopla e de seu império. A ressurreição do monofisismo, que era uma doutrina relativamente comum entre os cristãos do Egito e na Síria, não aceitava a doutrina da Santíssima Trindade. Cristo só tinha uma natureza, a divina. E essa heresia deu incremento para que muitos cristãos egípcios e sírios se convertessem ao islamismo, já que a teoria da unicidade divina casava com muitos aspectos da tradição judaica, e, posteriormente, muçulmana. </div><div align="justify"></div><blockquote></blockquote><div align="justify"><br />O papa Gregório II, no Concilio Romano de 731, condenou a iconoclastia do imperador e de seus blasfemadores, tida por herética. E mesmo os bispos gregos apoiaram a declaração papal. Até o povo reagiu à destruição das imagens religiosas e das relíquias, tornando as atitudes imperiais bastante impopulares. Constantino V, filho de Leão, continuou o processo de iconoclastia, perseguindo e executando todos àqueles que cultuassem imagens e criando vários mártires religiosos. São Teodoro Estudita, eclesiástico grego e ferrenho inimigo dos iconoclastas, exorta o papado como a última opinião nos artigos de fé. No Concilio Ecumênico de Nicéia, em 789, ele exorta a importância do Santo Sudário, símbolo sagrado do cristianismo, como refutação a iconoclastia. Em 843, a prática de destruição de imagens foi totalmente abandonada. O fim da iconoclastia restaurou um sólido acervo cultural e artístico religioso, inspirado na fé cristã. Os mosaicos, ícones e as cenas iconográficas da vida dos Santos e do Próprio Cristo, além de Virgem Santissima, são os elementos mais marcantes da arte bizantina. Tais modelos influenciaram profundamente as artes no mundo ocidental e oriental. Desde uma pintura italiana de Cimabue, os mosaicos de Cristo Pantokrátor <em><strong>(criador do mundo)</strong></em> da Igreja de Ravena ou até um retrato da Theotokós <strong><em>(mãe de Deus)</em></strong> em uma igreja ortodoxa, encontramos resquícios dessa rica tradição visual. </div><div align="justify"></div><blockquote></blockquote><div align="justify"><br />Outro aspecto implicava a natureza política entre as duas Igrejas. Enquanto a Igreja Romana consagrava a independência e supremacia total da autoridade eclesiástica, a Igreja Grega era partidária da sujeição do clero ao imperador, como príncipe-sacerdote e autoridade máxima. A resistência romana foi sentida, quando, a partir do século VII, o papa, como duque do império, rebelou-se contra os tributos e recusou-se a obedecer a Constantinopla. No ano 800, a Igreja de Roma elevou Carlos Magno a Sacro Imperador Romano Germânico do Ocidente. Roma buscava uma força militar leal, que pudesse contrapor à hegemonia do Império de Bizâncio. E na monarquia carolíngia encontrou um povo profundamente fiel à doutrina católica romana. </div><div align="justify"></div><blockquote></blockquote><div align="justify"><br />O papa, a partir de então, se referia a Bizâncio como <em><strong>“império dos gregos”.</strong></em> Isso feriu os sentimentos bizantinos, já que os gregos se consideravam herdeiros de Roma e nutriam uma teologia em que colocava seu imperador, dentro de uma ordem semidivina. O Imperador era a representação legítima do legado romano cristão, era o vice-regente de Deus na Terra e todo o Império caminhava para o centro de sua autocracia. Porém, não era isso que concordava o Vaticano. O papado encarnava a idéia agostiniana de que o bispado de Roma era a autoridade suprema para a Fé Cristã. <em><strong>“Roma locuta, causa finita”, “Roma falou, causa cessou”</strong></em>, já dizia Santo Agostinho! E <em><strong>“nula salus extra ecclesiam”, “não há salvação fora da Igreja”</strong></em>, afirmava Ambrósio de Milão. Quando o papado coroou Oto I, como imperador do Sacro Império Romano Germânico, e o identificou em suas credenciais como <strong><em>“imperador augusto dos romanos”,</em></strong> eis que um bizantino comentou, ultrajado: <em><strong>“a audácia daquilo, chamar o imperador universal dos romanos, o único Nicéforo, o grande, o augusto, de ‘imperador dos gregos’, e designar uma pobre criatura bárbara como ‘imperador dos romanos’! Ó céus! Ò terra! Ó mar! O que devemos fazer com tais canalhas e criminosos?”. </strong></em></div><blockquote></blockquote><div align="justify"><br />A dissidência política e religiosa chegou ao auge no ano de 1054, por causa de uma quizília teológica entre a Igreja Romana e a Igreja Grega. O acréscimo do <em><strong>“filioque”,</strong></em> ou seja, a de que o Espírito Santo procedia do Pai e do Filho, não era bem aceita pelos gregos, que julgavam que o trecho fora adaptado de forma incorreta, pelo Concilio de Toledo, de 589. A tese era aparentemente simples, mas que causava complexas discussões teológicas e semânticas: <em><strong>os católicos romanos criam que o Espírito Santo provinha do Pai e do Filho; enquanto os gregos concebiam a idéia de que a Santíssima Trindade, originalmente, não tinha essa distinção, e que a procedência do Filho era incorreta e foi acrescida pelo Credo Romano.</strong></em> Tais discussões vinham de velhos debates teológicos, não totalmente resolvidos pelo Concilio de Nicéia. Em Nicéia, havia um acordo comum entre as Igrejas, que colocavam o Filho e o Espírito Santo, como fruto do Pai. No entanto, em Toledo, o Espírito Santo também foi subordinado ao Filho. E no Segundo Concilio de Nicéia, a teoria do <strong><em>“filioque”</em></strong> foi validada. Para alguns teólogos gregos, isso dava a entender que o Espírito Santo foi <strong><em>“criado”</em></strong> pelo Pai e pelo Filho, enquanto os romanos apenas viam um processo de individualização da Trindade, dentro de uma totalidade divina. Porém, a situação tendeu a se deteriorar, e, diante da recusa da Bizâncio em aderir a tese teológica, numa tarde de 1054, um cardeal e dois enviados do papa entraram em <em><strong>“Hagia Sophia”</strong></em> com uma bula e colocaram-na no altar do templo. Era a bula de excomunhão de toda a Igreja Grega. Um diácono implorou para que o clérigo levasse de volta o documento. Este acabou por ignorar. E o diácono jogou o documento para fora da Igreja, na rua. </div><div align="justify"></div><blockquote></blockquote><div align="justify"><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMXWlkwBa-WefRdkJ_mqi-IFLiXW_xWSuP1OZ34w2TjpIW2FMXCjAbxeSrx8ulUNfVG8i1c_D5WFmB8r1iJqjCpayKRQ2V4f7r6CHGliul2pBxzoIOCNpUq2O_OyJGT_h8Tcvu/s1600-h/alexius+comnenus.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5040755527322938418" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMXWlkwBa-WefRdkJ_mqi-IFLiXW_xWSuP1OZ34w2TjpIW2FMXCjAbxeSrx8ulUNfVG8i1c_D5WFmB8r1iJqjCpayKRQ2V4f7r6CHGliul2pBxzoIOCNpUq2O_OyJGT_h8Tcvu/s320/alexius+comnenus.jpg" border="0" /></a>O <strong><em>“Grande Cisma”</em></strong> rompeu a idéia de unidade do império grego e da Cristandade. Concomitante a esse estado caótico, Bizâncio estava experimentando os primeiros sinais de decadência. Alexius Comnenus, grande estadista, habilidoso e intrigante político, foi um imperador, que apesar dos seus talentos, encontrou um Império ao meio do caos. Bizâncio viu suas terras tomadas pelos árabes no século VIII, na Palestina e ao Norte da África, e na Itália e regiões da Grécia, sofria a ameaça dos vários reinos bárbaros. Um outro povo aparece em cena, para ameaçar a soberania bizantina: <em><strong>os turcos. </strong></em></div><blockquote></blockquote><div align="justify"><br /></div><div align="justify"><br /><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5040815528016063618" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRNUy3s4ir-k888ROt1UdsgZIf8cLTXm_GArnpS2Y6FV6awMoD7qqKdXEhzEnQSrhlcM6OdlV0nAsx_gAwCtjHYMH823qiZYt4E-y7t75_JEvbUi1dky6FFAhUSHHw1unS99ib/s320/concilioClermont.jpg" border="0" />Sob pressão e usando de artimanhas diplomáticas, no ano de 1095, Alexius, em nome da velha solidariedade cristã, pede ajuda ao papa Urbano II, para que se conclame exércitos cristãos em socorro ao velho império. O papa conclamou a cristandade ao combate, no Concilio de Clermont, e no ano de 1096, quando o imperador esperava uma tropa de mercenários para lutar contra os turcos, viu uma legião de mendigos e camponeses fanáticos, prontos a ameaçarem a paz de Constantinopla. Liderados pelo monge francês Pedro, o Eremita, a turba mata e saqueia tudo que vê pela frente: <strong><em>comunidades judaicas não são poupadas e os islâmicos também são massacrados.</em></strong> Sobre as portas da cidade bizantina, Comnenus recusara-se a abri-las ao pequeno exército de Pedro e o insuflou a lutar contra os infiéis. Despreparada e sem nenhuma experiência militar, a cruzada do eremita é massacrada pelos turcos. </div><div align="justify"></div><blockquote></blockquote><div align="justify"><br />O papa, chocado com a leva de fanáticos que iam para a Terra Santa, preconiza a seleção de cavaleiros nobres para a primeira grande cruzada. Liderados por Geofrey de Boullon, o grosso da cavalaria franca pega em armas e chega às portas do império grego. Quando estes chegam a Constantinopla, o imperador, astuciosamente, promete-lhes mantimentos, sob a condição de reconquistarem algumas cidades da Palestina. Feito isto, quando alguns cruzados retomam algumas cidades dos islâmicos, Alexius manda levantar as bandeiras bizantinas, a revelia dos cruzados, que ficam furiosos. Comnenus, mais uma vez, os empurra até a Palestina, quando os francos tomam Jerusalém dos muçulmanos. O imperador consegue expandir seu império decadente, explorando as relações diplomáticas contra seus aliados e inimigos. </div><div align="justify"></div><blockquote></blockquote><div align="justify"><br />Contudo, mais um século depois, a quarta cruzada de 1202 é exortada, em nome de reconquistar a Terra Santa, perdida em 1187, para Saladino. Entretanto, o que seria uma cruzada religiosa, acabou por ser uma monstruosa expedição de banditismo e terror. Os cruzados, bancados pelo Doge Dândolo, de Veneza, foram estimulados a saquearem cidades cristãs bizantinas, a fim de patrocinar pilhagens. Coincidentemente, um dissidente do imperador de Constantinopla, que disputava o poder, acabou por se aliar aos cruzados, que, com promessas de dinheiro, o elevariam como imperador. O papa, sabendo dessas histórias, impôs a excomunhão para quem atacasse cidades cristãs. Mas foi inútil. Constantinopla fora atacada e o rebelde foi elevado a Imperador, sob o nome de Aleixo IV, expulsando o antigo governante. </div><blockquote></blockquote><div align="justify"><br />Porém, o imperador impôs uma pesada tributação sobre a população, para pagar os mercenários cruzados, o que ocasionou uma feroz rebelião. Um parente afastado de Alexius IV liderou um golpe de estado e o matou, declarando-se como imperador Alexius V. Os cruzados não se contentaram, e, em 1204, percebendo sua força militar, saquearam a cidade por três dias. Livros, relíquias sagradas, ícones, foram totalmente destruídos. Na catedral de Hagia Sofia, as tapeçarias foram rasgadas e os soldados beberam todo o vinho da Sacristia. A população não foi poupada do caos: <em><strong>freiras foram estupradas e súditos assassinados cruelmente.</strong></em> O saque de Constantinopla foi tão terrível, tão devastador, que a cidade nunca mais se recuperou da tragédia. O império foi fragmentado em três dinastias e só foi unificado em 1261, com a reconquista de Constantinopla pela dinastia dos imperadores Paleólogos. </div><blockquote></blockquote><div align="justify"><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYO-U4wLNdbDa_R9ACnP_-kWOtgJfVPXwkLMp4ZAsTu12RYpiNo54_-TFkKDKqwcpZXcIJarEXy4h-xmo0kQCCnsK0m2QhY6irBDZj0c4Lsv8IioYV9IkcuYM5y3JWna6x1R5V/s1600-h/Islamista.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5040754225947847714" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYO-U4wLNdbDa_R9ACnP_-kWOtgJfVPXwkLMp4ZAsTu12RYpiNo54_-TFkKDKqwcpZXcIJarEXy4h-xmo0kQCCnsK0m2QhY6irBDZj0c4Lsv8IioYV9IkcuYM5y3JWna6x1R5V/s320/Islamista.jpg" border="0" /></a>Mas o Império Bizantino, no século XIV, era apenas uma sombra do seu legado. Depois de vários cercos sobre o império, nos anos 1391, 1402 e 1423, os turcos não se intimidam e querem expandir seu império. Em 1452, um grande sultão, chamado Maomé II, prepara a última investida sobre a cidade de Constantino. Bizâncio possuía uma arma, cuja utilidade causava sérios danos ao inimigo: <strong><em>o chamado “fogo grego”, uma granada feita de componentes químicos desconhecidos, que causava grandes estragos nas tropas inimigas, uma vez que o fogo gerado não se apagava com a água. </em></strong>Aliás, dizia-se que quando mais se jogava água contra o <em><strong>“fogo grego</strong></em>”, mais aumentava a intensidade do fogo. No entanto, Maomé II desenvolveu uma tecnologia, até então, incomum para a época: <em><strong>os canhões!</strong></em> Urbano, um engenheiro húngaro cristão, oferecera sua nova tecnologia para o imperador Constantino XI. O imperador recusou seus serviços, por causa do preço da arma. Então, o engenheiro ofereceu a tecnologia ao sultão, que aceitou de pronto. Uma ironia da história poderia ter selado o destino de Constantinopla. </div><blockquote></blockquote><div align="justify"><br />A guerra começou, quando o imperador Constantino cobrou um tributo a um príncipe otomano, prisioneiro do império. Isso foi recebido como acinte e pretexto pelo sultão Maomé II, que iniciou as hostilidades contra a capital imperial. A sensação de medo e terror dominava os súditos do império, já que a monarquia estava fragilizada e os bizantinos não conseguiam mais forças para resistir às investidas dos turcos. O estado piorou quando o sultão mandou empalar quase cem cristãos aos olhos dos bizantinos, pelas muralhas, afirmando que ocorreria o mesmo a todos os cristãos da cidade. </div><div align="justify"></div><blockquote></blockquote><div align="justify"><br />Os turcos cercaram a capital e intensos bombardeios de canhões fragilizavam as defesas da cidade. Os bizantinos, desesperados, pediram auxilio do papa e dos cristãos ocidentais. Navios vindos da Itália, em particular, de Veneza, ofereceram ajuda logística e militar aos bizantinos e o papa, ao fazer parte da ajuda, exigia que a Igreja de Bizâncio se unificasse a Igreja Romana, aceitando a liturgia latina e a sujeição ao papado. Muitos cristãos gregos ficaram indignados; alguns deles comentavam o seguinte: “<strong><em>antes os turcos nos dominassem, do que os cristãos a nos ajudar . . .” </em></strong></div><strong><em><blockquote><strong><em></em></strong></blockquote><div align="justify"><br /></em></strong></div>Maus presságios dominavam a pequena e corajosa cidade grega. O clima cinzento da cidade alimentava as maiores superstições. Enquanto isso, os sinos das Igrejas de Constantinopla tocavam, para elevar o moral das tropas, cansadas, arredias. No dia 29 de maio de 1453, oitenta mil turcos atacaram cerca de quase dez mil bizantinos nas muralhas da cidade. Os portões foram abertos e os turcos mataram o maior numero de bizantinos que poderiam encontrar. Saquearam Hagia Sophia e pilharam toda a cidade. Milhares de súditos bizantinos foram escravizados e as mulheres não foram poupadas, tornadas servas sexuais dos turcos. De forma brutal, melancólica, trágica, o império bizantino foi extinto. <div align="justify"></div><blockquote></blockquote><div align="justify"><br />A perda de Bizâncio foi um duro golpe para a Cristandade. A hostilidade antiturca, comum na Europa ocidental desde o inicio das cruzadas, tornou-se uma espécie de patologia, de imaginário cultural do ódio. Os turcos eram vistos como os piores inimigos da Cristandade, depois dos islâmicos. De fato, a destruição do Império Bizantino abriu portas para a invasão turca sobre todo o Leste Europeu. E durante todo o século XVI, a Europa esteve ameaçada de ser atacada pelos turcos. </div><div align="justify"></div><div align="justify"><blockquote></blockquote><br />Bizâncio desapareceu, mas deixou seu legado. Desde a Igreja de Hagia Sophia, hoje, uma mesquita, até o direito, a religião, a pintura e a música, seu legado continua vivo, atuante, no aspecto maior da civilização.<br /><br /><strong><em>A MÚSICA BIZANTINA E A TRADIÇÃO SACRA RUSSA.</em></strong><br /><br /><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5040753302529879058" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRrYUehUFWqSf-KXPpQzRLDGrX4lumyfcUXSPBzSDnH0CZt5G1BIge10F6CFDYnkmhwWuZpLMHhTO7F6CSgd3CDON46N4hA7baMq_5ZJA43gFz-DQJlwJO-fU9yTJW6PQ1HRZF/s320/virgemaria.jpg" border="0" />A música bizantina influenciou profundamente o mundo cristão ortodoxo, no imaginário eslavo e oriental. A música sacra se tornou a voz religiosa do povo medieval da Rússia, Sérvia, Bulgária e Romênia, cujas tradições remontam às homílias, às histórias dos santos e mesmo das citações bíblicas do Evangelho. A devoção marianista, comum nas obras de arte gregas, reflete em muitos hinos de louvor a Virgem Maria. Aliás, muitos cantos vieram diretamente de suas fontes bizantinas e foram adaptadas ao mundo cultural eslavônio. Tais cantos melódicos variam da polifonia até a chamada melodias de signo russos, ou <em><strong>“znamenny”.</strong></em> No canto ortodoxo russo, que herdou com proximidade a literatura musical bizantina, há as melodias de <strong><em>“caminho”</em></strong>, ou <strong><em>“Putevoi”,</em></strong> usado nas missas, e as melodias<em><strong> “demestvenny”,</strong></em> ou de festas religiosas. As apresentações musicais aqui retratam a tradição bizantina disseminada na Europa Oriental. Acompanha também uma música turca, composta na época da tomada da cidade de Constantinopla.<br /><br /><em><strong>(Música ortodoxa: Bizâncio – Sérvia – Rússia – Século XV- XVI- XVII)</strong></em><br /><br /><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10032">01. És digna de Louvor (Melodia bizantina- Século XV).<br /></a><br /><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10038">02. Canção do Querubim (Melodia sérvia)<br /></a><br /><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10034">03. No sexto Mês (Melodia Russa- provavel. Século XVI).<br /></a><br /><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10035">04. O Ladrão na Cruz ( Melodia Russa- provavel. Século XVI).<br /></a><br /><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10036">05. O Prelado entrou na Igreja (Nikolay Diletsky –século XVII). </a></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><em><strong>(Turquia- Século XV)</strong></em></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10037">01- Tomada de Constantinopla. </a></div></div>Conde Loppeux de la Villanuevahttp://www.blogger.com/profile/03123027651841021079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38583270.post-1169717848430745782007-01-25T01:25:00.000-08:002007-04-28T18:07:33.528-07:00São Gregório Magno: O músico magno da Igreja Católica!<div align="justify"><a href="http://photos1.blogger.com/x/blogger/1018/4292/1600/949659/chantgregorian.jpg"><img style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="http://photos1.blogger.com/x/blogger/1018/4292/320/780589/chantgregorian.jpg" border="0" /></a><br />Século V. O império romano está em ruínas. O caos administrativo, militar e político do império é sentido por toda sociedade européia. Os bárbaros invadem as fronteiras imperiais e as cidades se esvaziam, já que são vulneráveis aos saques, e a anarquia toma conta do continente. Os únicos resquícios do antigo império sobrevivem em Bizâncio e no legado da Igreja Católica. Os antigos poderes administrativos de Roma recaem, no ocidente, na figura dos bispados, que salvam a cidade antiga do marasmo. Por outro lado, a Igreja, na expectativa dos novos habitantes dos territórios imperiais, vê na figura dos bárbaros, a conquista de novas almas para a Cristandade.<br /><br /><br />O pragmatismo da Igreja é sentido em todo o caos: famílias romanas ligadas à instituição começam a forjar uma nova realidade social, a partir do caos. Todavia, a audácia da Igreja Romana seria recriar todo um império dentro dos ideais da sociedade cristã total. Eis que surgem os novos evangelistas, monges pregadores, vindos da Itália e até da Irlanda recém-convertida, que mostram as Boas Novas do Evangelho aos bárbaros e os convertem ao cristianismo. São construídos vários mosteiros na Europa, como sinônimo de resguardo cultural e religioso.<br /><br />A idéia do monasticismo europeu não é moderna. Ela veio do Oriente, em particular, do Egito, e em algumas outras regiões da Palestina e da Grécia. Há fortes raízes judaicas na contemplação monástica, na figura dos essênios, seita do judaísmo isolada nos grotões das montanhas de Israel, no século I, A.D. No Egito cristianizado, na cidade de Alexandria, são conhecidas as manifestações monásticas e penitenciais , por vezes severas e exageradas, de eremitas e ascetas que se isolavam no deserto, em meditação.<br /><br />No século VI, um grande monge chamado Bento de Núrsia, conhecido posteriormente como São Bento, soube organizar a situação dos mosteiros e da vida monástica. Ele criou as primeiras regras monásticas da Igreja, evitando os excessos na manifestação da devoção religiosa, ao mesmo tempo em que conciliava uma disciplina nos estudos e nas orações. Ficou conhecida como Regula Benedicti e foi adotada por uma boa parte dos monges medievais. De fato, as regras de Bento acabaram por fundamentar a Ordem dos Beneditinos.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjY0wn3j62WIkdWZb9UnqkvJT-aZ-MupWlYGfDq99Me8K9k6xGkxG66VMVFqhayz_qUY-8AwtPNxIxZRSFBpjn0tBxMr-xp9RRVAspiX57ktoXhD8cI8fS3BmcO-jryeQId-9Hy/s1600-h/mongecopista.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5040813376237448306" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjY0wn3j62WIkdWZb9UnqkvJT-aZ-MupWlYGfDq99Me8K9k6xGkxG66VMVFqhayz_qUY-8AwtPNxIxZRSFBpjn0tBxMr-xp9RRVAspiX57ktoXhD8cI8fS3BmcO-jryeQId-9Hy/s320/mongecopista.jpg" border="0" /></a>Mas os mosteiros não foram apenas centros de contemplação religiosa. Em específico, as ordens monásticas preservaram uma boa parte da cultural clássica e medieval. Os beneditinos eram homens dedicados à cultura e a leitura e muitos eram obcecados por textos clássicos, relíquias do mundo antigo. Chamados de monges copistas, eles preservaram este legado, através de cópias de manuscritos, que eram reescritos de épocas e épocas, até chegarem às gerações posteriores. Dizem que estes homens escreviam sem parar, e passaram horas e mais horas, até completar o conteúdo das obras. Os copistas nutriam a crença de que quanto mais cópias fossem feitas, mais chances haviam das obras serem salvas. E essa lógica deu certo porque salvou muitas obras latinas e gregas do desaparecimento.<br /><br />Isso já seria muito, se não fosse por outro detalhe: os mosteiros revolucionaram a economia e os costumes medievais. Os mosteiros foram a primeira empresa moderna, no amplo sentido da palavra, a ponto de renegar o escravismo e a servidão. Nos séculos VI a IX, as técnicas de produção agrícola, a capacidade administrativa e a aplicação de métodos contábeis das terras dos monges medievais eram superiores a qualquer empreitada agrícola feudal leiga. Ademais, a Igreja foi uma das pouquíssimas instituições medievais que usavam largamente o trabalho livre e assalariado em suas posses, desestimulando a escravidão. Muitas das terras da Igreja eram arrendadas aos camponeses, que poderiam produzir excedentes, ao mesmo tempo em que eles pagavam uma parte aos mosteiros. Ou mesmo os monges faziam o serviço voluntariamente, vivendo do usufruto de suas rendas, plantadas aos solos doados pela comunidade.<br /><br />Ao contrário do mito alardeado sobre o poder da Igreja, grande parte das terras doadas para os monges eram insalubres e impróprias ao cultivo. No entanto, eles desenvolveram tecnologias de plantio de alimentos em pântanos e lugares íngremes, gerando grande produção de alimentos e enriquecendo os mosteiros. Uma parte desse excedente era consumido ou vendido, e outra parte era distribuído aos pobres.<br /><br />A tradição da caridade da Igreja não era da Idade Média. Já existia desde a época do judaísmo da diáspora e foi incorporado às comunidades da Igreja Primitiva, até se tornarem parte da Igreja Católica e do mundo medieval. Na verdade, a Igreja foi a principal instituição de caridade em uma boa parte da história européia.<br /><br />Se os bispados são meios eficientes de administração pública das cidades, que agora estão decadentes, a conversão dos pagãos ao cristianismo lhes dá uma legitimidade moral para o governo. Pequenos reinos nascem na Europa. Na mais completa tradição judaica adaptada ao cristianismo, os reis, cavaleiros e nobres são ungidos pela Igreja. Daí surge a nobreza cristã medieval e seus deveres políticos para com sua casta e seus direitos de conquista. O bispado romano, que perdeu seu status político, com a queda do Império no Ocidente e, sujeito às pressões do Império de Constantinopla, assim, teve sua possibilidade de reivindicar mais uma vez, autonomia e soberania espiritual.<br /><br />Teoricamente, a Igreja Romana tinha hierarquização superior ao Império de Bizâncio, por herdar o legado da antiga capital imperial, embora as influências políticas do imperador neutralizassem essa influência. Vários papas gregos foram eleitos sob a indicação do imperador e a influência grega era sentida na Itália, apesar dos ressentimentos latinos. Se o poder espiritual da Igreja estava em Roma, sua força política estava em Bizâncio. O imperador, incorporando a tese bíblica de Melquisedec, ou do sacerdote-rei, conflitava com os poderes da Igreja e do papa. No entanto, as relações entre o imperador e o papa eram precaríssimas. Os papas latinos pagavam tributos a Bizâncio, desde o século V e então começaram a conspirar contra o poder do imperador. Durante o século VI, guerras bizantinas assolaram a Itália, e a independência da Igreja Romana foi salva pelos povos bárbaros conversos, em particular, os lombardos, que lutaram a favor do papa, contra o imperador Justiniano. Quase dois séculos depois, a Igreja Romana busca a proteção do reino franco, ao coroar Carlos Magno como imperador romano do ocidente, chocando os bizantinos, que se consideravam reais herdeiros da tradição romana. De fato, os cristãos de Bizâncio se autodenominavam Romioi, ou gregos com cidadania romana. E qualquer menção que os distinguissem dos romanos, soaria como ofensa. </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">Os católicos romanos exigiam a sujeição da Igreja e do Império Grego à autoridade do papa. Os conflitos entre Roma e Bizâncio e entre a Igreja Romana e sua filial grega, tanto em aspectos litúrgicos, teológicos e políticos, acabaram por causar a primeira ruptura da Cristandade na Europa, com o cisma de 1054, em que a Igreja Grega se desligou da Igreja Romana.<br /><br />A Igreja Romana, de fato, conquistou sua supremacia política, com predomínio sobre a sociedade ocidental, quando coroou Carlos Magno, no Natal de 800. A idéia mesma de ungir um príncipe romano-germânico implicava a legitimidade do império, sob os auspícios e bênçãos de Roma. A tradição intelectual medieval acabou por desenvolver uma das teorias mais engenhosas da política: <em><strong>o fumdamento do poder espiritual e do poder temporal, que coexistiam e se equilibravam mutuamente, com preponderância do papado.</strong></em> O poder espiritual era o elemento orientador da política leiga e as ações dos príncipes só teriam legitimidade política, dentro da idéia de seguir a moralidade e o pensamento cristão. A Igreja fazia o equilíbrio de poderes nos papas e reis da Europa. A fé religiosa era um elemento comum de uma sociedade criada nos ideais do cristianismo. Isso ordenou, ainda com certa fragilidade e eficiência, o equilíbrio político do mundo europeu medieval, dividido entre vários feudos, reinos e principados que lutavam entre si.<br /><br />Dentro deste contexto, é aclamado em Roma, como papa, no ano de 590, Gregório I, ou São Gregório Magno. Nascido em 540, era filho de uma velha família aristocrática senatorial romana, e, antes de ser Sumo Pontífice, fazia votos de monge beneditino. Gregório, um homem rico, legou toda a herança de sua família na construção de novos mosteiros e distribuiu uma parte de seus bens aos pobres. Ele patrocinou as primeiras ações missionárias na Inglaterra, sob a liderança de Agostinho da Cantuária, que converteu o povo inglês ao cristianismo e se tornou, posteriormente, o primeiro bispo da Cantuária. O papa era um homem culto e de letras, e uma de suas obras mais famosas é a biografia de seu mentor espiritual, São Bento de Núrsia. Por outro lado, o nome de Gregório ficou associado a uma das maiores contribuições de seu papado: <strong><em>a música!<br /></em></strong><br />O Canto Gregoriano é uma dos monumentos mais significativos da música ocidental. Foi compilado por ordem do papa, no ano 600 e é uma coletânea de músicas advindas da mais genuína tradição cristã. É o repertorio musical mais antigo que se há notícia no ocidente. Sua influência é tão abissal, tão profunda na música religiosa, que é sentida em milênios de música sacra cristã até os dias de hoje. Os cantos medievais, renascentistas e barrocos posteriores, as liturgias, os cânones, os responsórios, as antífonas, são estruturas ligadas aos esquemas musicais do Canto Gregoriano. Seu plano musical está intrinsecamente ligada aos rituais da missa católica.<br /><br />Na verdade, os cantos gregorianos são o liame entre a música da Idade Antiga e o mundo medieval. Neles, há traços da liturgia judaica, grega e latina nos cantos e nas letras. Há ainda uma síntese de uma velha tradição oral da música cristã do mundo antigo, compilada em suas melodias homofônicas, com os recitativos judaicos dos salmos, em grego e latim. Concomitante a isso, o cantochão é uma sólida tradição encontrada nas sinagogas e mesmo na antiguidade clássica pagã latina, que foram incorporadas ao catolicismo.<br /></div><div align="justify">O canto gregoriano acompanha os ritos da liturgia católica. Tal estruturação é encontrada em variadas épocas da música ocidental, desde Josquin de Prèz, até Mozart. É o legado do grande papa Gregório. </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">Eis aqui uma exemplificação do assunto, que extraio de um site, o que seria redundante repetir por minhas palavras:</div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />"O Próprio é usado para temas de variados assuntos relacionados à igreja:</div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /><strong><em>As peças principais do Próprio são:</em></strong></div><div align="justify"><br />o intróito </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">o aleluia </div><div align="justify"><br />o canto do ofertório </div><div align="justify"><br />o canto da comunhão </div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /><em><strong>O intróito.</strong></em> O intróito acompanha a procissão de entrada do celebrante e de seus ministros, procurando ajudar aos fiéis a entrar no mistério celebrado, dando o tema do dia ou da festa. </div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /><strong><em>O gradual.</em></strong> O gradual é o canto das leituras. É um tipo de salmo com estribilho. A princípio, a assembléia respondia com uma fórmula singela ao canto do solista que cantava os versículos sucessivos do salmo, mas durante os séculos V e VI, ao enriquecer a ornamentação, o texto se abreviou. </div><div align="justify"><br /><strong><em>O aleluia.</em></strong> <strong><em>"Louvai ao Senhor",</em></strong> é a tradução literal desta palavra hebraica. Na missa se cantava originalmente só no dia de Páscoa; e durante o Tempo de Páscoa. Logo se começou a cantar também nos domingos, celebrações semanais do mistério da Ressurreição. Finalmente, se estendeu o uso até aos dias de semana, fora o da quaresma. </div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /><strong><em>O ofertório.</em></strong> Não se trata de um canto <em><strong>"funcional"</strong></em> senão de um acompanhamento das cerimônias, um tipo de oferenda musical suntuosa. </div><div align="justify"><br /><strong><em>A comunhão.</em></strong> A função deste canto é acompanhar a procissão dos que vão comungar. O tema do canto da comunhão está quase sempre relacionado com o sacramento que se distribui nesse momento. Trata de sintetizar a liturgia da Palavra e a liturgia Eucarística.</div><div align="justify"><br />Ao lado dos cantos do Próprio com textos que variam segundo as circunstâncias, a celebração da Missa comporta cantos com um texto fixo, independentemente do dia ou da festa.</div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /><strong><em>O Kyrie.</em></strong> Kyrie eleison <em><strong>(Senhor, tende piedade)</strong></em> é uma fórmula grega com o qual os fiéis clamam a seu Senhor implorando sua misericórdia. Este canto, hoje em dia entoado no começo da Missa como rito penitencial, prepara os fiéis para a celebração do mistério eucarístico.</div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /><em><strong>O Glória.</strong></em> Hino de origem oriental, o Glória remonta ao século II. Na liturgia romana, foi no início o canto de entrada da Missa de Natal, posto que convém perfeitamente pela inspiração original da base do texto. Progressivamente foi utilizado nas grandes festas do ano e nos domingos.</div><div align="justify"><br /><em><strong>O Sanctus.</strong></em> No início da súplica eucarística, o canto do Sanctus introduz ao grande recitativo do Prefacio. Chama-se "o hino dos Serafins" que viu no templo de Jerusalém o profeta Isaías. Convida a Igreja da terra a unir-se a liturgia do céu.</div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /><strong><em>O Agnus Dei.</em></strong> É o canto que acompanha a fração do Pão que acaba de ser consagrado, cuja fração acontece alguns momentos antes da distribuição da comunhão aos fiéis. Assim os assistentes se aproveitam do momento que há entre a consagração e a comunhão "para saudar com homenagem e súplica humilde a Ele que se fez presente para nós sob a aparência do pão".<br /></div><div align="justify"></div><div align="justify"><em><strong></strong></em></div><div align="justify"><em><strong></strong></em></div><div align="justify"><em><strong></strong></em></div><div align="center"><em><strong>O OFICIO DIVINO</strong></em></div><em><strong><div align="justify"><br /></strong></em>Esta grande súplica cotidiana da Igreja consagra o conjunto do tempo humano para o louvor divino. Sete vezes ao dia e uma vez durante a noite, a comunidade cristã se une para celebrar esta liturgia que no fundo está constituída essencialmente pelo canto dos salmos.</div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /><em><strong>As antífonas.</strong></em> O canto do salmo está quase sempre envolto em uma peça breve chamado "antífona". Que, todavia se apresenta por seu valor próprio, introduz e conclui o canto.</div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /><em><strong>Os responsórios.</strong></em> Os responsórios são os cantos que respondem as leituras da Bíblia e dos padres durante o ofício da noite. É antes de tudo um canto de meditação, um comentário contemplativo do texto sagrado.</div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /><em><strong>Os hinos.</strong></em> As peças mais populares do oficio são sem dúvida, os hinos. Sua importância na liturgia ocidental foi introduzida pelo Concílio Vaticano II. O hino dá o tom e ajuda os fiéis a entrar no tempo litúrgico ou no mistério celebrado. Considerado como uma composição sensível e melodiosa." </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><em><strong>(Canto Gregoriano - São Gregório Magno - Século VI A. D.)</strong></em> </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10028">1.Gloria -IX </a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10027">2.Kyrie- IX</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10026">3.Ave Maria</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10029">4.Salve Sancuts Pares</a> </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10031">5.Virga Iesse</a></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10030">6.Benedicta</a></div>Conde Loppeux de la Villanuevahttp://www.blogger.com/profile/03123027651841021079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38583270.post-1169362804116092772007-01-20T22:19:00.000-08:002007-03-11T12:11:12.320-07:00As mulheres da Idade Média: elas cantam e os homens vão a guerra. . .<div align="justify"><a href="http://photos1.blogger.com/x/blogger/1018/4292/1600/731089/trovadoras.jpg"><img style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="http://photos1.blogger.com/x/blogger/1018/4292/320/473608/trovadoras.jpg" border="0" /></a><br />Nos séculos XII e XIII, a França produziu uma grande leva de cavaleiros cruzados, prontos a combater os islâmicos na Terra Santa e nos domínios árabes da Espanha. Com as hostilidades turcas contra cristãos na Terra Santa e o pedido de ajuda do imperador de Constantinopla, Alexius Comnenus, ao papa Urbano II, no Concílio de Clermont, em 1096, ele conclamou muitos cavaleiros para que formassem a cruzada contra os árabes. Já havia ocorrido alguma outra “cruzada” de camponeses fanáticos, que foram facilmente repelidos pelos guerreiros islâmicos. No entanto, a força militar dos cavaleiros estava pronta para atacar os muçulmanos, divididos e fragmentados em guerras entre várias de suas facções étnicas e religiosas. De fato, o Reino Latino de Jerusalém, ou <strong><em>“Outremer” (Ultramar),</em></strong> foi criado por um duque, Godofredo de Boullon, que no ano de 1098, tomou a cidade de Jerusalém dos islâmicos. Um banho de sangue se seguiu à tomada da cidade, e quase toda a população islâmica foi chacinada pelos cruzados. Até os judeus não foram poupados: desesperados, estes se esconderam na sinagoga e os cruzados tocaram fogo, queimando-os vivos. Os cronistas medievais afirmaram que a matança foi tão grande, que na Via Apia, a passagem onde Cristo passou seu suplicio até o Calvário, o sangue chegava até os tornozelos dos cruzados. A ironia da história é que os islâmicos mortos pela invasão cruzada nem eram mais os turcos hostis, e sim os fatímidas, que pouco ou nada tinham a ver com a rivalidade turca dos cristãos e que tinham tomado recentemente Jerusalém dos turcos.<br /><br />Anos depois do massacre, o Reino de Outremer começou a prosperar. Ele se expandiu e algumas outras cidades foram conquistadas. Foi daí que nasceram as grandes ordens militares medievais, os Templários e os Hospitalários, fundados para acompanhar os peregrinos, hospedá-los e protegê-los contra as investidas de bandidos e saqueadores, além dos inimigos islâmicos.<br /><br />O comércio também prosperou, e os descendentes dos primeiros conquistadores acabaram por assimilar muito dos costumes árabes. Inclusive, houve muitos casamentos mistos entre francos, gregos e mesmo árabes.<br /><br />As relações diplomáticas entre os cruzados e islâmicos variavam da guerra pura e simples, até a coexistência pacifica entre eles, embora precária. Isso chamava a atenção de vários nobres na França, que vítimas da fome, da miséria e belicosos ao extremo, queriam fazer fortunas em Outremer. Não isenta o fato de que muitos outros cavaleiros franceses foram para a Terra Santa em nome da fé, para defender a Cristandade dos islâmicos. Há casos e não são poucos, de homens que abandonaram suas terras e feudos, para lutar ao lado do Reino Latino de Jerusalém. O Reino de Jerusalém sentiu o primeiro golpe, quando a cidade de Jerusalém foi tomada por Saladino, em 1187. Em 1291, a cidade de Acre foi tomada e o Reino Latino de Jerusalém foi extinto.<br /><br />No imaginário europeu e árabe, a palavra <em><strong>“franco”</strong></em> se confundia com o cruzado. Os francos eram conhecidos como um dos povos mais leais à Igreja Romana. Tradicionalmente, eles se tornaram o braço armado da Igreja, na figura de Carlos Magno, quando foi coroado no Natal do ano 800 A.D., como imperador dos romanos, fundando o Sacro Império. E muitos reinos fora da França foram criados por famílias francas, cuja bravura no campo de batalha era largamente conhecida. Eram conhecidos pela coragem indômita e pela ferocidade nos combates. Foram eles, em 732, que esmagaram os mouros, na batalha de Poitiers, na liderança de Carlos Martel.<br /><br />Outro povo guerreiro da França foi o normando. Eram descendentes dos vikings, e vinham do norte da Europa, mais precisamente da Escandinávia e se situaram ao norte da França. Daí a palavra <strong><em>“normando”,</em></strong> o homem do norte. O primeiro registro dos vikings estabelecidos na França data de 911, quando um rei franco ofereceu um feudo, o ducado de Orleans, a um líder viking, Holf. Através de casamentos mistos com os francos, os normandos, os vikings, a partir do século XI, já haviam se convertido ao cristianismo e absorveram a língua franca. Eram também conhecidos pela bravura e pela brutalidade. Em 1066, Guilherme, Duque da Normandia, e chamado <em><strong>"o Conquistador"</strong></em>, invade a Inglaterra e conquista o país, derrotando o exército saxão de Haroldo I, na batalha de Hastings, instituindo a monarquia franco-normanda dos Plantagenet. Quase cem anos depois, o filho mais dileto dessa dinastia marcou história no mundo: <strong><em>Ricardo Coração de Leão.<br /></em></strong><br />O Rei Ricardo, apesar de inglês, era a personificação mais perfeita da bravura franca, da luta cruzada. Embora tenha sido rei da Inglaterra, mais se ausentou do que governou o país, ocupado com sangrentas batalhas nos feudos da França. Na verdade, Ricardo Coração de Leão se considerava mais francês do que inglês. A sua língua comum era o francês do sul da França e dizem que mal falava o dialeto que gerou o inglês. Nem mesmo a corte inglesa falava o inglês.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBCx4BbOjUXN1v2FDC7MOJaUXq7YDozpSk-4tWjnpVKUqdMsb0XWaU02uz3kS7p9CZEQrRbGRYP47TZhG7Xzn9PvwtlPw7khe33ULUqj5tWtTvGtzWlTEHf4JomJYU5QkDfAmr/s1600-h/templarios01.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5040744493551954898" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBCx4BbOjUXN1v2FDC7MOJaUXq7YDozpSk-4tWjnpVKUqdMsb0XWaU02uz3kS7p9CZEQrRbGRYP47TZhG7Xzn9PvwtlPw7khe33ULUqj5tWtTvGtzWlTEHf4JomJYU5QkDfAmr/s320/templarios01.jpg" border="0" /></a></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">Em 1191, acatando aos pedidos de uma terceira cruzada, foi para a Terra Santa e conteve o avanço do grande sultão Saladino. Ricardo Coração de Leão era tão temido pelos árabes, que no imaginário muçulmano palestino, as pessoas da Palestina islâmica tremiam de pavor ao pensar no nome de <em><strong>“Melech Ric</strong></em>”<em><strong>, </strong></em>como ele era chamado em árabe. Dizem algumas crônicas, que até as mães árabes assombravam os meninos, com as histórias do rei vindo do norte. Em uma das batalhas mais espetaculares da Terceira Cruzada, Ricardo aportou numa galera em Jaffa, quase conquistada pelos árabes, e à frente de seu pequeno exército, num acesso de fúria, matou tanta gente, que os soldados de Saladino fugiram apavorados, incapazes de conter o cavaleiro. Saladino, homem de inclinações espirituais elevadas e o protótipo europeu do cavaleiro islâmico por excelência, ficou perplexo e admirado com as investidas do normando. Comenta-se que mandou presentes ao rei inglês, pelos atos de bravura.<br /><br />Todavia, havia um misto de admiração e desprezo pelos francos. Os habitantes do sul da Itália, da Grécia, os árabes e mesmo os francos da Palestina, adaptados à realidade do oriente, viam os a nova leva de cavaleiros francos com desconfiança e desdém. Os cavaleiros europeus eram desprezados como pessoas rudes, fora da civilidade. Embora fossem ferozes, guerreiros, eram estigmatizados como culturalmente inferiores. Dizem que Ricardo, quando estava entre a Itália e o Chipre, antes de sua chegada a Palestina, em resposta ao desdém dos gregos, mandou criar uma pequena Fortaleza chamada “<em><strong>Mategriffon”</strong></em>, ou seja, “<em><strong>matador de gregos”.</strong></em> Se os gregos e italianos afirmavam que os ingleses e francos eram povos loiros com cabelo de manteiga rançosa, <strong><em>(e burros),</em></strong> os francos, e em particular, os ingleses normandos, chamavam os gregos de <strong><em>“pessoas extraídas de merda árabe”.<br /></em></strong><br />E onde ficam as mulheres da França? Com a ausência de tantos homens na França, ficou às mulheres, a responsabilidade de administrar os feudos. A mulher politicamente mais importante do século XII foi Eleanor de Aquitânia: <em><strong>esposa de dois reis, Luis VII, da França e, posteriormente, Henrique II, da Inglaterra, e rainha de dois reinos, Inglaterra e França.</strong></em> Ela era mãe do Ricardo Coração de Leão e com a herança da Aquitânia, tornou-se uma das mulheres mais poderosas da França. Eleanor foi grande patrocinadora das artes e da música, e sua filha, Marie de Champagne, foi difusora do movimento trovadoresco na França. Branca de Castela, bisneta de Eleanor e mãe de São Luis IX da França, era grande musicista e compositora. Outra mulher famosa por suas trovas é a Condessa Beatriz de Dia, que viveu no século XIII. São as <strong><em>“trobairitz”,</em></strong> as mulheres trovadoras.<br /><br />Os dialetos comuns na França medieval eram dois: o <em><strong>"langue d’oil",</strong></em> que era o chamado o francês arcaico e que deu origem ao francês moderno, comum ao norte da França; e no sul da França, o <strong><em>“langue d’oc”.</em></strong> Langue d´oc, que por sua vez, quer dizer, o francês da Occitânia, ou Aquitânia. Alguns dizem que o provençal está próximo do francês langue d´oc. O mesmo provençal que influenciou as cantigas de amor portuguesas e espanholas. Grande parte das peças femininas fala das tramas do cotidiano das nobres; <strong><em>angústias amorosas do amado ausente, seja na Palestina, seja em outros campos de batalha, mostras de devoção religiosa marianista, ou mesmo o pano de fundo para a trama: a donzela à janela, costurando, lendo um livro.<br /></em></strong><br />As mulheres medievais francesas da nobreza não possuíam educação formal, mas tinham elevada cultura. Em parte, essa autonomia se deveu às heranças de suas linhagens e à ausência dos homens, reais proprietários dessas terras, que estavam nos campos de batalha, e deixaram seus bens a suas esposas. E por outro lado, as regras de etiqueta exigidas pelo status nobre, davam um suporte intelectual às damas. Elas tinham domínio de boas maneiras, música, falcoaria, equitação, xadrez, canto, dança e habilidades para ler e escrever. Em suma, incorporavam o papel restrito aos homens, exercendo altas habilidades culturais. E uma delas, era a música.<br /><br />No entanto, a partir do século XIV, a autonomia das mulheres nobres começa a definhar. As cruzadas se transformaram num engodo militar, que nenhum rei ou cavaleiro se atreveria a carregar. Preferiam ficar em casa. Os nobres franceses reivindicam a lei sálica, para excluir as mulheres dos direitos de administração de feudos e reinos. Cabe lembrar que a lei sálica, excluindo as mulheres, excluía dinastias importantes ao reino da França e isso acabou causando também guerras. E a partir da Renascença, a mulher perde sua proeminência política, restrita, mais uma vez, aos homens.<br /><br /><br /><br />As canções que são publicadas aqui fazem parte do repertório das mulheres trovadoras da França. A primeira música, <em><strong>“A chantar”,</strong></em> de Beatriz de Dia, tem um componente erótico, que é a exaltação dos prazeres do amor carnal. <em><strong>“Amous”,</strong></em> de Branca de Castela, é uma canção de devoção à Virgem Maria. Maroie de Dregnau de Lille é uma trovadora de origem desconhecida e provavelmente viveu no século XII. Sua canção é uma trova de amor. As duas peças “<strong><em>Estampies”</em></strong>, pertencem ao repertório de dança: <em><strong>estampie é um estilo de dança medieval muito comum na França, e encontrado em outras regiões da Europa. </strong></em>Seu tipo é, provavelmente, uma dança de sapateado. A sua originalidade consiste em ser um tipo de música instrumental da Idade Média, já que a maioria das peças medievais eram cantadas.<br /><br />Muitas das obras aqui foram encontradas no Manuscrit Du Roy, no século XIII. A única que não se inclui na época é a Estampie do século XIV, que é uma música a parte.<br /><br /><em><strong>(Trovadoras da França – Século XII – XIII)</strong></em><br /><br /><br /><br />1<a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10001">. A chantar m´er de so q´ieu no volria.(Beatriz de Dia)<br /></a><br />2<a href="http://download-v5.streamload.com/qOmE-cZe~j-1g~oWNV~xMl0~LGC3Tq41asd_/cavoliveira/FileManager/Amours,%20u%20trop%20Tart%20me%20suis.mp3?action=save">. Amous, u trop tart me sui pris.(Branca de Castela)</a><br /><br />3<a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10002">. Mout m´abelist quant je voi revenir.(Maroie de Lille) </a><br /><br />4<a href="http://download-v5.streamload.com/r79yjnj8~KLdf~E7P5~06nb~DbnshBAs5-1y/cavoliveira/FileManager/La%20quinte%20Estampie%20Royal.mp3?action=save">. La Quinte Estampie Royal.(Anônimo).<br /></a><br />5<a href="http://download-v5.streamload.com/6AZOu5YL~d6dA~GTew~l0xQ~YrBWmkdWRQpO/cavoliveira/FileManager/Estampie.mp3?action=save">. Estampie. (século XIV). </a></div>Conde Loppeux de la Villanuevahttp://www.blogger.com/profile/03123027651841021079noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-38583270.post-1169233277611864602007-01-19T10:36:00.000-08:002007-03-11T12:16:24.229-07:00VOX IBÉRICA IV: Sefarad e a música da nova diáspora!<div align="justify"><a href="http://photos1.blogger.com/x/blogger/1018/4292/1600/477804/hagada.jpg"><img style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="http://photos1.blogger.com/x/blogger/1018/4292/320/407922/hagada.jpg" border="0" /></a><br /><em><strong>“E ordenamos previamente neste édito que todos os judeus e judias de qualquer idade que residem em nossos domínios e territórios, que saiam com os seus filhos e filhas, seus servos e parentes, grandes ou pequenos, de qualquer idade, até o fim de julho deste ano, e que não ousem retornar a nossas terras, nem mesmo dar um passo nelas ou cruza-las de qualquer outra maneira. Qualquer judeu que não cumprir este édito e for achado em nosso reino ou domínios, ou que retornar ao reino de qualquer modo, será punido com a morte e com a confiscação de todos os seus pertences.<br />Ainda ordenamos previamente que nenhuma pessoa em nosso reino, de qualquer estado, ou nobreza, esconda ou mantenha ou defenda qualquer judeu ou judia, seja pública ou secretamente, do fim de julho em diante, em sua casa ou em qualquer lugar em nosso reino, sob pena de perda de seus pertences, vassalos, fortalezas e privilégios hereditários.”<br /></strong></em><br /><br />Este trecho foi extraído do édito de expulsão dos judeus da Espanha, assinado pelos reis Fernando V de Aragão e Isabel de Castela, selando definitivamente séculos de presença judaica na Espanha. A expulsão dos judeus em território espanhol foi uma das maiores tragédias da história daquele país. Milhares deles abandonaram suas casas, vilas e cidades, e o êxodo foi um espetáculo tão assustador, que até os cronistas cristãos ficam chocados com a atitude dos reis católicos. Dizem alguns números, que cerca de duzentos mil judeus, ou 5% da população espanhola partiram da Espanha. Cidades inteiras ficaram desertas e o reino espanhol se viu privado de uma das melhores intelectualidades do país. Se os judeus experimentaram várias diásporas em sua historia, a partida de <em><strong>“Sefarad” (o termo assim usado pelos judeus, ao se referir à Espanha) </strong></em>é mais uma coleção de um povo desterrado e errante. Uma parte foi embora para Portugal, e o resto, para o norte da África e para as terras do Império Turco.<br /><br />Os judeus eram um dos povos mais antigos da Península Ibérica. Habitantes são conhecidos desde o fim do Império Romano e com a invasão árabe na Espanha, em 711, muitos outros, vindos das terras do Norte da África, acompanharam os invasores, radicando-se na região. O crescimento das cidades cristãs e islâmicas prosperou junto com a história judaica no mundo árabe-hispânico. Na verdade, os judeus fizeram parte da Época de Ouro medieval espanhola. Encontram-se judeus nas cortes islâmicas dos Omíadas, tanto quanto na corte de sábios de Afonso X, El Sábio. Como engenhosos comerciantes e profissionais liberais, os judeus tinham invejável proeminência em assuntos de medicina, advocacia, filosofia, matemática, astronomia e literatura. São encontrados judeus nas administrações de reinos cristãos e islâmicos. São contabilistas, cobradores de impostos, juristas.<br /><br />E são também literatos e filósofos. Samuel Ibn Nagrela, Salomão ibn Girol, Judá Halevi são poetas profanos. E a partir da Idade Média é que se conhecem os grandes tratados filosóficos do judaísmo: <em><strong>Maimônides, o grande pensador judeu, escreveu suas obras dentro do universo espanhol árabe.</strong></em> O <em><strong>“Guia dos Perplexos”</strong> </em>é uma obra que associa do pensamento aristotélico à religião judaica. Nahmanides foi um rabino polemista, famoso por viver às turras com os cristãos, em debates teológicos sobre a validade do cristianismo e do judaísmo. Como um crítico do cristianismo, não era muito bem visto pelos cristãos, apesar de respeitado. O Zohar, obra mística ligada à tradição cabalista, foi escrita no século XIII, na Espanha, e divulgada por várias comunidades judaicas do mundo.<br /><br />Os judeus estão intimamente ligados às navegações marítimas portuguesas e espanholas. Seus estudos sobre as estrelas e os astros são conhecidos desde o século XII. Técnicas de uso do astrolábio e de tecnologia náutica trazidas pelos árabes tiveram uma sólida ajuda dos judeus. Quando começaram a sentir as perseguições religiosas dos reinos espanhóis, muitos deles foram mostrar seus serviços ao reino português. O príncipe infante português Dom Henrique, o Navegador, criou a Escola de Sagres, com forte participação de matemáticos e astrônomos judeus. Abraham Zacuto escreveu uma obra chamada <em><strong>“Almanaque Perpétuo de todos os Movimentos Celestes”</strong></em>, cujas aplicações marítimas eram segredos do Estado português. Jehuda Crescas era cartógrafo da Escola de Sagres e Mestre João, astrônomo da viagem de Pedro Álvares Cabral, descobriu o Cruzeiro do Sul, em 1500. Afirma-se que o próprio Cristóvão Colombo fosse judeu, apesar de que essa tese nunca foi historicamente provada.<br /><br />Entre as religiões e culturas da Península Ibérica, os judeus estavam no fogo cruzado entre cristãos e islâmicos. Dentro das intrigas políticas, religiosas, guerreiras e palacianas dos grandes povos da Espanha, a comunidade judaica escolhia aquilo que melhor convinha à sua autonomia política e religiosa. Isso gerava desconfiança e ressentimento contra os judeus, vistos como um povo de caráter dúbio e não muito confiável. No entanto, os judeus estavam profundamente ligados aos cristãos pelo sangue. Um exemplo clássico disso é a profunda miscigenação entre os judeus e a nobreza cristã espanhola. No século XV, a nobreza espanhola era conhecida por seus casamentos mistos com judeus; e, no auge do radicalismo anti-semita do recém criado reino espanhol, a partir de 1492, a monarquia criou as chamadas <strong><em>“leyes de limpieza de sangre”. </em></strong>Tais leis visavam expurgar a mistura racial entre judeus e cristãos, ou mesmo condenar ao ostracismo qualquer família de linhagem nobre com sangue judeu.<br /><br />O estigma antijudaico que se criou na Espanha foi tão pesado, que a nobreza espanhola era vista com desconfiança. É conhecida algumas declarações de alguns bispos e nobres, sobre a exaltação do homem espanhol plebeu, <strong><em>“límpio de sangre”</em></strong>, sem mistura judaica, cristão velho, em contrapartida a muitas famílias nobres, <em><strong>“súcias”</strong></em> de sangue judaico.<br /><br />Foi a partir do século XV que nasce o termo <em><strong>“marrano”</strong></em>, ou seja, porco, como sinonímia de judeus no reino espanhol. A palavra <em><strong>“marrano”</strong></em> se tornou tão estigmatizadora, que ela mesmo, historicamente, se confundiu com o próprio significado de judeu. Nos escritos do século XVI, <em><strong>“marrano”</strong></em> se confundia tanto como <em><strong>“porco”</strong></em>, quanto judeu. E mesmo no século XVII, quando muitos judeus portugueses foram morar na Holanda, refugiados da inquisição portuguesa, a palavra <strong><em>“português”,</em></strong> fora dos domínios de Portugal, acabou por se confundir com o baixo status judaizante.<br /><br /><br />Aliás, havia uma crença disseminada na Espanha, de ligação do protestantismo com o judaísmo. Felipe II da Espanha e muitos inquisidores viam na declaração de Lutero, uma apostasia judaica, assim como muitos reformadores religiosos eram suspeitos, aos olhos dos espanhóis, de judaísmo no sangue. E quando o Reino Espanhol adotou sua vanguarda de campeã do catolicismo europeu e da Contra-Reforma, qualquer estrangeiro de idéias um pouco diferentes das do reino poderia ser visto com um <em><strong>“judaizante”. </strong></em>Os espanhóis conseguiam ser mais rigorosos do que os próprios italianos de Roma.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgyWaEkvINtDCHHQE4DjWkRBdPfJ2kUM6hkHBjkqW5wMlkZ6nXMG7WeWACp7QwQkHJtGkoMW4jrDu-OC9j0UsaF5SDSURkkApKrr7hje-DhugeLitTVpZ71Y41_wEXYVp_2WRa/s1600-h/inquisicion.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5040747199381351394" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgyWaEkvINtDCHHQE4DjWkRBdPfJ2kUM6hkHBjkqW5wMlkZ6nXMG7WeWACp7QwQkHJtGkoMW4jrDu-OC9j0UsaF5SDSURkkApKrr7hje-DhugeLitTVpZ71Y41_wEXYVp_2WRa/s320/inquisicion.jpg" border="0" /></a>A centralização monárquica e o radicalismo de unidade religiosa do reino acabaram por comprometer a autonomia religiosa e política dos judeus da Península. A idéia central do catolicismo espanhol era purificar a religião de elementos estranhos ao cristianismo, ou seja, as velhas práticas islâmicas e judaicas. Como a religião católica se atrelava intrinsecamente aos propósitos do reino, logo, a diversidade religiosa não seria tolerada. Os judeus eram vistos como corruptores da fé católica, que induziam os judeus conversos a voltarem à sua antiga religião. Inclusive, muitos padres e bispos eram suspeitos de tendência <em><strong>“judaizante”.</strong></em> A inquisição espanhola começa a atuar em 1481, com o famoso Tomás de Torquemada, crudelíssimo inquisidor geral, e ele mesmo, um descendente de judeus. Cerca de 13 mil conversos foram julgados pela inquisição espanhola, entre 1480 e 1492. Na verdade, os ressentimentos não visíveis entre as fés da Península acabaram por explodir num vendaval de intolerância do reino cristão contra a dissidência religiosa. As tendências mais radicais da religiosidade católica espanhola dominaram o cenário político. A ânsia de identidade acabou por se tornar uma ânsia de expurgo. E isto deu cabo à presença judaica na Espanha.<br /><br />A política espanhola contra os judeus foi sentida em Portugal. O rei Dom Manuel ansiava por se casar com a filha dos Reis Católicos Isabel e Fernando. Todavia, os reis espanhóis exigiam, dentro de suas cláusuras, a purificação do reino, ou seja, a expulsão dos judeus de Portugal. Porém, Dom Manuel havia dado asilo a muitos judeus espanhóis do edito de expulsão de 1492 e uma comunidade judaica prestava grandes serviços ao reino. Em 1497, Dom Manuel tomou uma medida drástica: <em><strong>converteu todos os judeus de Portugal à força e resolveu o problema diplomático. </strong></em>Na prática, contudo, ele tolerou o judaísmo secreto e deixou os judeus praticarem sua religião, contanto que a manifestação não fosse pública. Mas a tragédia se abateria sobre os judeus, no início do século XVI. Em 1506, um surto de peste e secas em Lisboa acaba por levar o povo a uma histeria coletiva contra eles; <em><strong>muitas vilas e “judiarias” são saqueadas e milhares de judeus são mortos. </strong></em>Dom Manuel simplesmente perdeu o controle da cidade e somente dias depois conseguiu mandar tropas para debelar a rebelião. Em 1507, o rei permite a saída dos judeus de Portugal. É conhecida, nesta época, a figura do cristão-novo, alguém de mistura judaica, ainda que muito distante, que pratica a religião católica, mas é sempre eterno suspeito de praticar o judaísmo secreto. Eles já existiam na Espanha e acabaram por se alastrar ao reino português. E o reino lusitano, adotando o método espanhol de centralização política e religiosa, instaura a inquisição, em 1536. Os judeus partem em uma nova diáspora, para a Holanda. Assim, Sefarad deixa de existir.<br /><br />A tradição judaica da diáspora ibérica consagrou belas canções, dentro de seu imaginário artístico e folclórico. Os judeus medievais, em geral, falavam o árabe na Península, embora também compartilhassem com um dialeto próximo do castelhano, chamado <em><strong>“ladino”.</strong></em> O termo <em><strong>“ladino”</strong></em> vem do verbo <em><strong>“enladinar”,</strong></em> ou seja, tornar <em><strong>“latino”</strong></em>, <em><strong>“traduzir para o latim”,</strong></em> já que os judeus, com a expansão cristã, aos poucos, começaram a adotar o castelhano como sua língua. O castelhano judeu é uma corruptela do castelhano original, já que há muitas expressões mescladas de arabismos de judaísmos notórios. No entanto, o ladino preserva as estruturas gramaticais do castelhano medieval.<br />Quando os judeus partiram da Espanha, preservaram o culto da língua ancestral ladina, seja nas suas músicas, seja nas suas comunidades. Era relativamente comum nas comunidades judaicas, descendentes dos judeus da Espanha, usarem o castelhano ladino como língua comum. Era também comum que os judeus da Turquia, da Grécia, do Marrocos, e mesmo nas comunidades da Europa do Leste, sendo de origem sefardita, ainda guardassem resquícios espanhóis de cultura. Daí essas canções terem sido guardadas e passadas por uma tradição oral, retratando o dia a dia das <em><strong>“juderías”,</strong></em> das <em><strong>“alfamas”</strong></em>, os bairros judaicos de uma realidade extinta.<br /><br />As canções judaicas falam de casamento, de fé e de amor. Há nas modinhas amorosas, um certo ar aristocrático, trovadoresco. De fato, o judaísmo espanhol era aristocrático, intelectualizado, elitista, com um leve toque árabe nas músicas e nas melodias. E o legado que deixaram na Espanha dá uma leve amostra da elevação cultural do povo judeu no mundo medieval. </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><em><strong>(Música judaica medieval - século XV)</strong></em></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">1<a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10011">.Avre tu puerta cerrada. </a></div><div align="justify"></div><div align="justify">2<a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10012">.Avrix mi galanica.</a> </div><div align="justify"></div><div align="justify">3<a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10013">.Durme mi alma Donzeya.</a></div><div align="justify"></div><div align="justify">4<a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10014">.Hine ma tov. </a></div><div align="justify"></div><div align="justify">5<a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10015">.La novia. </a></div><div align="justify"></div><div align="justify">6<a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10016">.No me puso. </a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://download-v5.streamload.com/9G0JiYbr~q4AS~g0z0~pe3f~ZGbWJtFBhaz6/conde_loppeux/FileManager/Paxaro%20d´hermosura.mp3?action=save"></a></div><div align="justify"></div><div align="justify">7<a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10017">.Scalerica de Oro.</a></div><div align="justify">8.<a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10018">Yo m´enamori d´un aire. </a></div><div align="justify">9.<a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10019">Páxaro d´hermosura. </a></div>Conde Loppeux de la Villanuevahttp://www.blogger.com/profile/03123027651841021079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38583270.post-1169105213604252362007-01-17T23:11:00.000-08:002007-03-11T21:01:11.258-07:00VOX IBERICA III: Al Andaluz e o mundo árabe entre duas Penínsulas.<div align="justify"><a href="http://photos1.blogger.com/x/blogger/1018/4292/1600/261792/reconquista.jpg"><img style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="http://photos1.blogger.com/x/blogger/1018/4292/320/276538/reconquista.jpg" border="0" /></a><br /><span style="font-family:georgia;">Na Península Arábica, um povo do deserto se unifica sob a égide de uma nova religião no século VII. Os árabes, sob a pregação de Mohamad <em><strong>(Maomé)</strong></em>, assimilam a religião islâmica. Com o lema <em><strong>“Alá é Deus e Maomé seu único profeta”</strong></em> e o livro sagrado Alcorão, os árabes constituíram toda sua vida política, social, econômica e religiosa no pensamento muçulmano. De fato, Islã, significa <em><strong>“submissão a Deus”.</strong></em> Enquanto preceito de conduta social, a sociedade árabe, antes dividida pelo politeísmo e pelas brigas entre clãs, agora, com o monoteísmo, poderia sonhar com um projeto imperial de expansão e de unidade política.<br /><br />A busca e ânsia de riquezas, a fé no proselitismo religioso e a conversão dos povos, o excedente populacional e a ambição de domínios territoriais fizeram o povo árabe se expandir mundo afora através da Jihad, guerra santa. Envolvendo bravura e intenso fanatismo religioso, os árabes dominaram o Império Persa e conquistaram todo o Oriente Médio. Expandiram-se pelo norte da África invadindo terras do império de Bizâncio, conquistando os seus domínios em todo o Mar Mediterrâneo e causando pânico à Europa, aterrorizada pelos saques e pirataria às suas cidades litorâneas. As cimitarras não descansaram e os árabes invadem o continente europeu, tomando quase toda a Península Ibérica e expulsando os visigodos ao norte da região. Os sarracenos só foram contidos por Carlos Martel <em><strong>(o Martelo),</strong></em> na batalha de Poitiers, em 732, já na França. Sobrou o norte cristão da <em><strong>“Hispania”,</strong></em> resquício dos reinos cristãos, como foco de resistência ao invasor islamita. De uma Península, a da Arábia, os islamicos chegaram a outra Península, a Ibérica. Em menos de dois séculos, os árabes conquistaram um império que ia dos confins da Espanha até o Vale do Rio Indo, na Índia.<br /><br />Uma característica que se consagrou na cultura islâmica medieval foi o cosmopolitismo, na absorção cultural de outros povos. A contribuição muçulmana está ligada a diversas áreas do conhecimento humano: <em><strong>alquimia, matemática, física, filosofia, literatura, arquitetura, medicina, astronomia e outras artes e ciências, além da música.</strong></em> Instrumentos náuticos largamente usados pelos europeus do século XVI, como o astrolábio, a balestrilha e a bússola, foram introduzidas pelos muçulmanos na Idade Média. A divulgação do zero, como da numeração indo-arábica <strong><em>(por serem originários da Índia),</em></strong> foram legados trazidos pelo Islão e que revolucionaram a matemática ocidental. O matemático e comerciante italiano Leonardo de Pisa, em seus contatos com os muçulmanos do Norte de África, no século XII, introduziu o sistema numérico indiano na Europa, substituindo a numeração romana. Este patrimônio cultural do império islâmico foi repassado aos povos dominados de Al Andaluz, denominação árabe da Península Ibérica. Na prática, uma boa parte do mundo europeu foi beneficiado pela cultura trazida dos árabes. Até o século XV, os legados culturais das ciências naturais, das artes e mesmo da filosofia <em><strong>(já que os árabes eram grandes conhecedores de textos gregos, junto com os bizantinos),</strong></em> foram absorvidos com sucesso pelos cristãos, influenciando profundamente a cultura européia.<br /><br />A palavra <em><strong>“Al Andaluz”</strong></em> apareceu pela primeira vez, em 716, quando os invasores islâmicos cunharam uma moeda bilíngüe, identificando, além dessa expressão, o antigo nome da região, Hispania. Há muitas controvérsias quanto a origem do termo <em><strong>“Al Andaluz”</strong></em>: </span><span style="font-family:georgia;"><em><strong>a mais próxima, diz respeito a “Jazirat-Al Andaluz”, ou a “ilha do Atlântico”, ou “Atlântida”, ou a lenda da Ilha perdida, herdada da mitologia grega.<br /></strong></em><br />Em 711, a Espanha é anexada ao Califado Omíada de Damasco, na Síria, e se torna parte do Império Islâmico. Em 756, uma guerra política interna na Síria, encabeçada pela família Abássida, massacra a família Omíada da Síria, e o príncipe sobrevivente dessa dinastia, Abd Ar-Rahman, foge para a Espanha e declara um Emirado independente, o de Córdoba. Séculos depois, os árabes, politicamente desorganizados, acabaram sofrendo a resistência dos reinos cristãos.<br /><br />Se por um lado, a história espanhola medieval é conturbada politicamente, em guerras e lutas dinásticas entre cristãos e islâmicos, foi nesta época que conhecemos a coexistência cultural, por vezes pacífica, entre cristãos, judeus e islâmicos. A cultura árabe foi tão influente na região da Espanha, que praticamente, salvo os reinos cristãos, a grande maioria da população da Península falava árabe. Se os reinos cristãos ainda preservavam os dialetos vernáculos do latim, uma boa parte de sua população não era refratária ao idioma árabe. Na verdade, o grosso do mundo árabe acabou por se miscigenar com os reinos cristãos. Várias famílias nobres cristãs tinham relações sanguíneas com muitas famílias árabes e muitas de suas brigas tinham caráter dinástico, embora a religião também os diferenciasse. Havia entre árabes e cristãos, relações de vassalagem e suserania, e era comum os reinos árabes se aliarem a reinos cristãos, lutando contra reinos cristãos, e vice-versa. A história de El Cid, grande cavaleiro espanhol do século XI, retrata a junção entre as culturas islâmica, cristã e judaica e suas relações políticas, a despeito das diferenças culturais. Quando Afonso VI, rei de Castela, retomou Toledo, ele se declarou <em><strong>“rei de duas religiões”.</strong></em> Mesmo no túmulo do Rei Fernando III, de Castela, conquistador de Córdoba, o epitáfio foi escrito em quatro línguas diferentes: <em><strong>árabe, hebreu, latim e castelhano.</strong></em> Na realidade, as divergências políticas e religiosas entre o mundo espanhol medieval tinham um caráter especial: </span><span style="font-family:georgia;"><em><strong>acabavam sendo briga de família. Judeus, católicos e islâmicos eram uma grande família dividida.</strong> </em>Apesar do intercâmbio cultural entre as religiões e povos da Península, as tensões políticas e religiosas eram visíves; e os ressentimentos, latentes, explodiam em guerras e violência. <em><br /></em><br />Ademais, era conhecido o relativo respeito, entre os principados árabes, com o costume das populações subjugadas. Em parte, esse caráter de tolerância era peculiar aos príncipes árabes da Espanha, homens de grande erudição cultural e pragmatismo político. Porém, tal sentido de tolerância não se restringiu a eles, existindo também entre principes cristãos espanhóis, que comungavam dessa política. No geral, os árabes eram conhecidos pela truculência e pela escravidão de populações inteiras. A fúria, por vezes, não poupava nem os judeus. E um histórico brutal de violência e opressão marcou trezentos anos de saques e pilhagens islâmicas nas cidades do Mediterrâneo europeu, até o ano de 1096, quando o Papa Urbano II, no Concílio de Clermont, conclamou a Primeira Cruzada. As cruzadas foram uma resposta brutal e violenta a esse tipo de atrocidades. . .</span></div><div align="justify"><span style="font-family:georgia;"><blockquote><span style="font-family:georgia;"></span></blockquote></div><blockquote></blockquote><blockquote></blockquote><blockquote></blockquote><blockquote></blockquote></span><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><span style="font-family:georgia;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:georgia;">A Península Ibérica se tornou um conjunto étnico de judeus, cristãos de diversas origens, bérberes, persas, sírios, bizantinos, negros africanos islamizados e toda sorte de povos, muitos com expressões culturais próprias e dialetos diferenciados. Os judeus, conhecidos por <strong><em>“sefaradins”,</em></strong> rezavam em hebreu e falavam o dialeto <em><strong>“ladino”</strong></em> entre eles, uma mistura de castelhano, com expressões árabes e judaicas mescladas. Uma boa parte dos cristãos sob o domínio islâmico, chamado <strong><em>“moçárabes”,</em></strong> poderiam perfeitamente ser católicos romanos, enquanto falavam abertamente o árabe nos cultos, relegando o latim em segundo plano. Tamanha praticidade levou à tradução de uma bíblia cristã em árabe. Isto porque eles poderiam falar castelhano, galego, aragonês e catalão <em><strong>(ou então algo aproximado disso, já que as línguas vernáculas do latim vulgar careciam de uma estrutura gramatical clara). </strong></em>E se estes cristãos fossem bizantinos, rezavam e falavam em grego. A língua árabe transformara-se numa espécie de idioma universal das etnias englobadas dentro do império. Em alguns principados islâmicos, a liberdade religiosa era tolerada, com a condição de se pagar impostos ao governo. Os judeus e os moçárabes poderiam ser julgados conforme suas próprias jurisdições, tinham relativa liberdade de ir e vir e poderiam ter suas próprias lideranças comunitárias. Havia médicos judeus, estudiosos bizantinos, comerciantes sírios e cristãos, além de outros profissionais de várias localidades do Islã, que enriqueciam e dinamizavam Al Andaluz. Granada, Córdoba e Toledo eram centros pomposos na paisagem hispânica, com sua arquitetura arabesca, com suas ruas opulentas e ricas. O palácio de Alhambra <em><strong>(no árabe, a Vermelha)</strong></em>, monumento assombroso de Granada, construído entre os séculos XIII e XIV, é um retrato perfeito da mais bela arquitetura árabe na Espanha. E a grandiosa mesquita de Córdoba, transformada em catedral pelos reis cristãos conquistadores, foi o resquício do antigo esplendor mourisco medieval. Córdoba, no século IX, chegou a ser a cidade mais povoada do mundo medieval.<br /><br />Os cristãos do norte não estavam totalmente rendidos ao jugo muçulmano. A partir do século IX, a Espanha foi catalisadora de vários cavaleiros de toda a Europa, ansiosos por aventuras e terras, e profundamente devotos pela causa da Cristandade. Estes se reuniam em expedições militares cruzadistas a serviço dos reinos cristãos, envolvendo-se em sangrentas pelejas contra os mouros. Sob a égide de alguns cavaleiros, surgiram grandes dinastias, e grandes reinos renasceram sobre suas famílias e legados. No século XI, o reino de Leão e Castela expande-se ao norte do Rio Douro, expulsando os mouros da região. Destacaram-se nesta luta, dois irmãos, cavaleiros do Ducado da Borgonha, de nome Henrique e Raimundo, que por serviços prestados, casaram-se com as filhas do Rei de Leão e Castela, Dom Afonso VI. De Raimundo e seus descendentes, fora herdado o Reino de Leão e Castela, e, futuramente, nasceu a Espanha moderna. E de Henrique, o Condado Portucalense, <em><strong>(denominação originária de uma antiga cidade romana, “Portu Cale”, “Porto do Cal”),</strong></em> com obrigações de prestar vassalagem ao reino castelhano-leonês. De Henrique e seu filho, Afonso Henriques, posteriormente, nasceu o Reino de Portugal.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirbpB21Q8QHhyphenhyphenevgodTrB54gdJSXolcatPh8Ht7ZViWfahDKaeRUtKt9bZRCWmMvOwDjjGy2g6PHJ2v5vJpLicGa8psstgNHoUFjoiDA7sL5rJKlt7abskQ-cZzbkGvpiNypIf/s1600-h/cavaleirocastillhano.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5040882705599540514" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirbpB21Q8QHhyphenhyphenevgodTrB54gdJSXolcatPh8Ht7ZViWfahDKaeRUtKt9bZRCWmMvOwDjjGy2g6PHJ2v5vJpLicGa8psstgNHoUFjoiDA7sL5rJKlt7abskQ-cZzbkGvpiNypIf/s400/cavaleirocastillhano.jpg" border="0" /></a>A partir de lutas seculares, os reinos cristãos se expandem e os principados árabes entram em decadência. Toledo, uma das mais importantes cidades islâmicas da Espanha, foi tomada por Afonso VI, de Castela, em 1085. Em Las Navas de Tolosa, em 1212, os árabes foram esmagados por uma coalização dos reis de Castela, Portugal, Navarra e Aragão. Em 1236, Dom Fernando III, o santo, Rei de Castela, conquistou Córdoba dos árabes, golpeando mais ainda o império islâmico, ao perder uma de suas mais preciosas cidades. No final do século XV, em 1491, os reis Isabel de Castela e Fernando de Aragão, cercaram o último principado islâmico da Espanha, Granada. O Rei de Granada, Abu Abd Allah, acabou por capitular, entregando a cidade para os cristãos, e em 1492, Granada foi anexada ao reino de Castela. Dizia uma lenda, que o sultão chorou quando entregou a cidade, enquanto sua mãe o repreendia, afirmando que ele chorava como uma mulher, ao invés de defender seu reino.<br /><br />A conquista de Granada selou o fim do domínio islâmico na Península. Selou também séculos de entendimento entre o mundo islâmico, cristão e judaico. Em 1492, no intento de unificar a religião do reino, os Reis de Castela decretaram, no palácio de Alhambra, o edito de expulsão dos judeus. E em 1502, os mouros foram obrigados à conversão ao cristianismo ou a expulsão. Mais de cem anos depois, em 1609, no reinado de Felipe III de Habsburgo, os mouros que ainda residiam na Espanha foram definitivamente expulsos.<br /><br />Uma questão a ser observada aqui, depois dessa breve esplanação histórica, é a música árabe na Península; <em><strong>uma boa parte dos instrumentos musicais europeus vem do mundo árabe.</strong></em> A guitarra espanhola é uma adaptação do alaúde, que por sua vez, vem do <em><strong>"ud"</strong></em> árabe. O violino e os demais instrumentos de arco, como as violas, as rabecas, provêm do <strong><em>rabab</em></strong>, tocado na Península e em muitas regiões do mundo islâmico. As castanholas, os saltérios, são instrumentos desenvolvidos e adaptados do oriente. Os cantos musicais dos trovadores e suas construções poéticas, algumas são adaptações poéticas da literatura islâmica. As influências são sentidas nos idiomas de Portugal e Espanha, cheia de palavras e expressões da língua árabe. E a música espanhola é praticamente toda inspirada no canto árabe. As músicas aqui expostas neste blog vão conferir a sonoridade da música trazida pelo islão, e sua ligação com a música ocidental. </span></div><div align="justify"><span style="font-family:georgia;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:georgia;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:georgia;"></span></div><div align="justify"><span style="font-family:georgia;"><em><strong>(Música árabe de Península Ibérica - Século XIII) </strong></em></span></div><p><span style="font-family:georgia;"><em><strong></strong></em></span></p><p><span style="font-family:georgia;"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10021">1. Ajedrez. </a></span></p><p><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10022">2.Las noches de encuentro.</a></p><p><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10023">3.Consoladme niñas al Alba.</a></p><p><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10025">4. Bashrafa samai sika</a></p><p><a href="http://download-v5.streamload.com/VUnKWBrC~jwmG~rTmv~7lfA~k43VrOsFb9R5/cavoliveira/FileManager/14%20Despideme.mp3?action=save">5.Despedime</a></p><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10024">6.Bashrafa samai asba' ayn</a></div>Conde Loppeux de la Villanuevahttp://www.blogger.com/profile/03123027651841021079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38583270.post-1168994701946834902007-01-16T16:06:00.000-08:002007-03-11T17:27:37.091-07:00VOX IBERICA II: El Arte del Rey Afonso X, el Sabio.<div align="justify"><a href="http://photos1.blogger.com/x/blogger/1018/4292/1600/531108/AfonsoXEls??bio.jpg"><img style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="http://photos1.blogger.com/x/blogger/1018/4292/320/592808/AfonsoXEls%3F%3Fbio.jpg" border="0" /></a><br />O Rei Afonso X, el Sabio, de Castela, nascido em 1221 e falecido em 1284, encarnava a sabedoria da Península Ibérica no período medieval: <em><strong>o casamento feliz entre a cultura árabe, judaica e cristã. </strong></em>Afonso era um homem erudito: <em><strong>dominava o latim, o árabe, o castelhano e, provavelmente, o hebreu. </strong></em>Era cercado de poetas espanhóis e provençais, sábios judeus e árabes, e qualquer um que pudesse servir culturalmente à monarquia castelhana. Fundou a Universidade de Múrcia, que englobava as três religiões; o Studio Generale, criado em Sevilha, ensinava latim e árabe. E patrocinou historiadores da península, usando pela primeira vez, as fontes árabes, como objeto de estudo. Tal projeto fez nascer a “<strong><em>Crônica Geral da Espanha”</em></strong>, literatura escrita em vernáculo arcaico. Alimentou o desenvolvimento cientifico e a astrologia, com a tradução das “<em><strong>Tablas Toledadas”,</strong></em> escritas em 1080, por Azarquiel, astronômo árabe, e o <strong><em>“Almagesto” (no árabe, O Maior),</em></strong> de Cláudio Ptolomeu, que foram introduzidos aos conhecimentos universitários europeus e engendrou, futuramente, a tecnologia náutica portuguesa e espanhola do século XV. Foi pelo contato direto com as obras de Ptolomeu, que Copérnico começou a questionar a teoria geocêntrica, ou seja, a de que a Terra era o centro do universo e os europeus revolucionaram a física e a astronomia. Aliás, no reinado de Afonso, coletâneas de astronomia grega, muçulmana e judaica foram traduzidas para o castelhano e latim, além de conhecimentos de cartografia, aritmética, botânica, filosofia e teologia. A Espanha cristã tornou-se o portal do que havia de melhor da islâmica e judaica para o mundo europeu.<br /><br />É de Dom Afonso X, a compilação de um dos mais completos tratados de direito medieval: Las <strong><em>Siete Partidas, um estupendo código jurídico, inspirado no direito canônico, no Corpus Júris Civilis e no direito comum costumeiro dos reinos espanhóis. </em></strong>A obra foi composta em 1256 e somente terminada em 1265 e foi trabalhada pelos mais eminentes juristas da Espanha, sobre a direção do próprio rei. “<em><strong>Las Siete Partidas”</strong></em> são um verdadeiro monumento jurídico e constitucional primitivo, em que se discute as prerrogativas dos poderes do reino, as suas estruturas políticas, as regras concernentes ao direito civil, penal, comercial, dentro outros. Sua influência na Espanha e em Portugal fora sentida por séculos, sendo uma obra-prima similar ao próprio Corpus Júris Civilis de Justiniano, imperador de Bizâncio. A intenção de Afonso X era unir os reinos cristãos espanhóis em torno de seu reinado, através de uma centralização política que acabasse com as divergências políticas internas dos nobres. Ele queria encarnar a figura do império romano, na tentativa de criar um sistema jurídico unificado.<br /><br />Como político, Afonso teve um reino conturbado. Seu sucesso foi tomar Cadiz e Cartagena para o reino de Castela e conseguir impor o reconhecimento político das anexações pelos árabes. No entanto, o seu propósito de unificação política foi obstado pela resistência política dos nobres, que se rebelaram contra os propósitos do rei e causaram a fragmentação política do reino, somente pacificado a partir do século XV.<br /><br />Entre tantas qualidades do rei castelhano, uma delas foi marcante e chegou até nós:era compositor e trovador. Afonso X foi responsável por uma das maiores obras-primas do medievalismo espanhol:<strong><em>As Cantigas de Santa Maria.</em></strong>A coletânea de peças compreende canções de vários trovadores, como a do próprio rei, em homenagem e culto a Virgem Maria. São peças cheias de lirismo e ironia, que relatam histórias do Evangelho e de milagres atribuídos à Virgem.<br /><br />Muitas canções anônimas medievais faziam menções aos milagres da Virgem Maria, outro objeto de devoção do homem ibérico medieval. O culto marianista já era tradição em uma boa parte do cristianismo e se tornou mais forte, a partir do século XII, com as manifestações em louvor a Mãe de Deus, a Theotokós. Na Península Ibéria, o culto marianista ganhou expressões próprias, tornando-se um dos mais profundos símbolos de devoção religiosa do catolicismo medieval espanhol e português. Aliás, a figura da Virgem Maria acabou por se confundir com a idealização da dama palaciana, já que tal como a Virgem Santíssima, a mulher amada era inatingível, pertencente a outro mundo. De fato, este outro mundo era a busca do homem medieval, que se refletia em todos os meandros de sua vida pessoal e social. E a música era uma linguagem próxima de contato com Deus.<br /><br /><br /><strong>(Cantiga de Santa Maria - Afonso X, El Sábio, 1221 - + 1284)<br /></strong><br /><br /><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10005">1.Non sofre Santa Maria.<br /></a><br /><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10003">2.A madre de Deus<br /></a><br /><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10004">3.Ben Cam´aos<br /></div></a><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10006">5.Des oge mais </a></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10007">6.Rosas das Rosas</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10008"></a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10008">7. Cantiga I (Instrumental)</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10009">8.Cantiga II (Instrumental)</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10010">9. Muito bom noss´amigo</a></div>Conde Loppeux de la Villanuevahttp://www.blogger.com/profile/03123027651841021079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38583270.post-1168933280997101162007-01-15T22:40:00.000-08:002007-02-04T01:17:33.810-08:00VOX IBERICA I: A música de Santiago de Compostela.<div align="justify"><a href="http://photos1.blogger.com/x/blogger/1018/4292/1600/547888/Santiago01.jpg"><img style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="http://photos1.blogger.com/x/blogger/1018/4292/320/605714/Santiago01.jpg" border="0" /></a><br />Dizia uma antiga crença medieval que o apóstolo São Tiago foi sepultado em terras espanholas, na Galícia. Séculos depois, em 813, um eremita de nome Pelayo, encontrou uma tumba iluminada como uma estrela e aí teve uma visão, reconhecendo o túmulo do santo. Sobre a sua tumba foi construída a Catedral e a cidade, ambas batizadas de Santiago de Compostela. O termo <em><strong>“Compostela” </strong></em>é um vernáculo do latim e se refere à iluminação do túmulo, vista pelo eremita, que lembrava um campo estrelado, <em><strong>“Campus Stellae”.</strong></em> A cidade se tornou o centro de peregrinação de todo o mundo medieval, concorrendo em peso, com a Terra Santa de Jerusalém e a Cidade de Roma. Tamanha devoção causou esse apóstolo, que ele apareceu em sonhos ao Rei Ramiro de Aragão, afirmando que este ganharia a batalha sob sua proteção e que os islâmicos jamais conquistiram os reinos cristãos da Espanha. Na lendária batalha de Clavijo, em 834, relata-se a aparição do santo que, munido um cavalo e trajando uma armadura, descera dos céus e massacrou a mourama a fio de espada, salvando os cavaleiros cristãos do exército islâmico do emir Abdehan II. Daí a fama do apóstolo São Tiago, chamado <strong><em>“Santiago Mata-moros”,</em></strong> que entrou na consciência medieval como o baluarte da luta dos cristãos contra os mouros da Espanha, a <em><strong>"Reconquista" </strong></em>contra o Islão invasor. Santiago personificava a Espanha cristã, guerreira, devota e cavalheiresca do época medieval.<br /><br />Santiago de Compostela não somente se tornou um centro de peregrinação, como um centro cultural. Foi a partir dessa cidadela que nasceu a língua portuguesa e espanhola modernas. E foi a partir dos hinos, canções e músicas lendárias dos peregrinos é que surgiu uma longa tradição musical a respeito dos milagres de Santiago Mata-moros. As músicas que serão apresentadas aqui retratam a riqueza musical dos peregrinos medievais que caminhavam estradas e mais estradas para a visitação do Santuário de Santiago. Cantavam os milagres do santo, as suas aparições e de sua história em Clavijo. Há várias origens quanto as músicas que são publicadas aqui: <strong><em>Castela, Leão, Navarra e Galícia,</em></strong> e embora seus lugares sejam conhecidos, os autores são anônimos. Reconhecemos nas peças, instrumentos medievais como saltérios, alaúdes, orgãos, flautas, tambores, rabecas e sinetes. Enfim, quando escutamos tais músicas, lembramos das longas trasladações das cidades medievais, os peregrinos de todas as classes sociais, plebeus, cavaleiros, escudeiros e até reis, que rendiam graças aos santos da Igreja e a Deus, nos lugares santos da Cristandade. E, em particular, São Tiago Maior.<br /><br /><strong><em>Cantigas de Santiago de Compostela (Seculos XIII e XIV)</em></strong></div><div align="justify"><br /><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10046">1.Non e Gran Causa</a><br /><br /><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10047">2.Surrexit de Tumulo<br /></a><br /><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10045">3.Dum Pater Familias (instrumental)</a><br /><br /><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10044">4.Ex Ilustri (canto a Santa Catarina)<br /></a><br /><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10043">5. Fa fa Mi ut re mi ut<br /></a><br /><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10040">6.Belial Vocatur</a> </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10039">7.Annua Gaudia</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10041">8.Dum Pater Familias. </a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10042">9.Verbum Bonu et suave</a></div>Conde Loppeux de la Villanuevahttp://www.blogger.com/profile/03123027651841021079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38583270.post-1168827987287558432007-01-14T18:11:00.000-08:002007-02-04T17:59:24.004-08:00Martin Codax, o segrel da Corte!<div align="justify"><a href="http://photos1.blogger.com/x/blogger/1018/4292/1600/922938/codax02.jpg"><img style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="http://photos1.blogger.com/x/blogger/1018/4292/320/286299/codax02.jpg" border="0" /></a><br />Pouco se sabe sobre a vida de Martin Codax. Ele viveu entre o século XIII e XIV na região de Galiza, na Espanha, e as únicas obras que sobreviveram foram as sete cantigas de amigo compostas em galego-português. Não se sabe ao certo se Codax era jogral, trovador, segrel ou menestrel, embora provavelmente fosse um segrel. Há de se fazer uma distinção terminológica entre jogral, segrel e menestrel para que o leitor entenda as relações estamentais do mundo medieval. O jogral era sempre gente do povo, que além de tocar músicas, fazia o papel de bufão da corte para o entretenimento dos nobres. Raramente os jograis compunham peças: antes, interpretavam e recitavam as poesias e peças alheias. Havia uma variação da palavra, o jogrel, uma espécie mais sofisticada de jogral, que acompanhava nobres e eclesiásticos. O segrel era um músico de inclinações eruditas, por vezes um ex-eclesiástico, que acompanhava um nobre ou uma corte, e compunha canções. Era quase sempre um homem de origem social média, <em><strong>(escudeiros ou plebeus distintos),</strong></em> com grandes qualidades intelectuais. O menestrel era um cantor errante, que chegava de cidade em cidade, vila em vila, corte em corte, fazendo apresentações em praças e cortes. O termo, posteriormente, se consagrou como musicista de capela, de catedral ou igreja. O trovador, ao contrário do jogral, do segrel e do menestrel, era um nobre de alta estatura social, que compunha peças para deleite próprio ou da nobreza. No entanto, com o tempo, essas distinções hierárquicas acabaram se mesclando, perdendo sua origem etmológica inicial.<br /><br /><br />As sete cantigas de amigo são as únicas trovas neste estilo que foram encontradas com partituras de música intactas. Porém, a pequena e valiosa obra reflete as tendências musicais da época: <em><strong>As contigas de amigo refletiam as tendências comuns da música islâmica e francesa, na idéia de dar voz à mulher aflita.</strong></em> Comenta-se que muitas cantigas de amigo são inspirados na poesia islâmica, conhecidas como muwassahas e zéjeles, que retratam o erotismo e a contemplação feminina, como protagonistas do canto. Aliás, quem escutar a sonoridade do canto musical das peças, perceberá uma leve influência árabe no uso da voz. Os instrumentos de corda que o digam, na figura da rabeca <em><strong>(em árabe, rabab)</strong></em> e no alaúde, <em><strong>(em árabe, ud), </strong></em>como companheiros dos trovadores e segréis da Corte. Cabe lembrar que muitas cantigas provençais de amor foram trazidas pelos cruzados do oriente, e adaptadas à realidade européia <em><strong>(embora os aspectos da cultura feudal e católica nas trovas provençais são particulares da sociedade européia medieval).</strong></em> De fato, muitas canções de amigo foram inspiradas nas cruzadas, já que os lamentos femininos são em nome do cavaleiros ausente, distante num campo de batalha no Oriente ou mesmo nas guerras da Reconquista Hispânica e Portuguesa. Tal estilo também é encontrado entre a corte francesa do século XII e XIII, e no mundo ibérico, a cultura provençal e islâmica acabam se entrelaçando numa identidade própria. </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">Não é mera coincidência que tal estilo de música se adaptou perfeitamente com a realidade das damas européias. O sujeito da canção não é o cavaleiro amoroso ou desdenhoso e sim a dama palaciana ou camponesa, que à espera do amado ausente, confessa suas agruras de amor a uma outra mulher, ou mesmo a um rio. Na verdade, tal situação reflete a condição das mulheres nos castelos e vilas, enclausuradas, que se confessam à pessoa mais próxima, ou seja, a mãe, a irmã ou mesmo uma outra amiga. Na canção de Martin Codax, a dama se dirige ao mar, à irmã, à Deus e à mãe, ao falar das dores da falta do amado. <em><strong>“Mia Hermana Fremosa, treides comigo”,</strong></em> confessa a dama para sua irmã. Em outra canção, a mesma donzela parece confessar ao amado: <em><strong>“Quantas sabedes amar amigo, trides comig´alo mar de Vigo: a banhar-nos-emos nas ondas”. </strong></em>Em suma, as cantigas de Martin Codax são uma das mais belas expressões musicais da Idade Média. </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><strong><em>Martin Codax (século XIII- XIV)</em></strong></div><div align="justify"><strong><em></em></strong></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10049">1.Mia hermana fremosa. </a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10048">2.Quantas sabedes amar</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10050">3.Mandad´ey comigo</a></div><p><strong><em></p><div align="justify"><br /></em></strong></div>Conde Loppeux de la Villanuevahttp://www.blogger.com/profile/03123027651841021079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38583270.post-1168755359479480852007-01-13T20:03:00.000-08:002007-02-04T17:59:23.969-08:00Hildegard Von bingen: a mística alemã e a música dos céus!<div align="justify"><a href="http://photos1.blogger.com/x/blogger/1018/4292/1600/53847/HildegardBingen.jpg"><img style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="http://photos1.blogger.com/x/blogger/1018/4292/320/321874/HildegardBingen.jpg" border="0" /></a><br />Estamos na Idade Média, mais precisamente no século XII. A Europa está em guerra contra os mouros. O Reino de Jerusalém, conquistado com muito sangue pelos francos, e os cristãos da Península Ibérica resistem a combates intensos contra os infiéis islâmicos. A França exporta cruzados para todas as partes do mundo, na luta pela defesa da Cristandade, e reis, duques e condes se armam para defender os reinos cristãos de “<em><strong>Outremer”.</strong></em> E a cultura européia, depois de épocas difíceis de guerras e atribulações, floresce nas abadias e nas cidades, em um novo renascimento intelectual e comercial. </div><div align="justify"></div><div align="justify">Nada mais errado do que afirmar que a Idade Média é a <em><strong>"Idade das Trevas".</strong></em> Vários <strong><em>"renascimentos"</em></strong> são observados em toda sua trajetória. A primeira delas poderia ser chamada o <em><strong>"Renascimento Carolíngio",</strong></em> quando Carlos Magno criou mosteiros e investiu nas letras, artes e na educação formal, com o desenvolvimento das <em><strong>"Artes Liberais",</strong></em> Trivium e Quadrivium <strong><em>( a música era uma delas).</em></strong> Sabe-se que as artes liberais intencionavam condensar todo o conhecimento antigo dentro dos moldes do ensino cristão e foi desenvolvido, em parte, pelo bispo Isidoro de Sevilla, no século VIII D.C. Se analisarmos pelo ângulo dos desenvolvimentos notáveis do mundo medieval, a Idade Média é o mundo dos renascimentos! <blockquote></blockquote></div><div align="justify"></div><div align="justify">A segunda <strong><em>"renascença"</em></strong> medieval ocorre no século XII. Cidades renascem das cinzas, depois de séculos de decadência, rotas comerciais são descobertas com as cruzadas e novas técnicas agrícolas são desenvolvidas. Na abadia de São Vitor, Hugo, grande teólogo, destaca-se no ensino de seus alunos e de sua filosofia de educação, a Didascálicon. Na verdade, a obra do Didascálicon é inspirada nas Sete Artes Liberais e desenvolve com maestria, um verdadeiro tratado de educação medieval. São Bernard de Clarvaux é um misto de teólogo e de pregador cruzado. E na abadia de Rupertsberg, na Renânia, uma excêntrica monja alemã nutria a fama pelas extraordinárias capacidades de intelecto. Era uma bela mulher de origem nobre e profunda força mística, além de ser incrivelmente intelectualizada e escritora de livros de medicina e teologia. Ademais, comenta-se que essa mulher escreveu os primeiros livros de medicina e de botânica do mundo europeu medieval. Se no mundo medieval era raro alguém ser alfabetizado, que dirá então das mulheres? Todavia, a história da mulher era envolvida em mistério: <em><strong>ela tinha visões divinas, que a inspiravam a escrever seus livros de filosofia. </strong></em>E tendo um completo domínio de ervas, medicina e mesmo filosofia, a monja ainda dominava uma outra arte, incomum no mundo feminino medieval: <em><strong>a música!<br /></strong></em><br />Hildegard von Bingen, nascida no ano de 1098<em> </em><strong><em>(o mesmo ano da tomada de Jerusalém pelos francos)</em>,</strong> e falecida no ano de 1179, era uma mulher fora de seu tempo. Tal fama impressionou o grande Bernard de Clarvaux, que trocava correspondências com ela. Audaciosa, a própria abadessa pregava os valores cristãos ao povo das ruas, desafiando, assim, os votos de clausura. O papa, que leu suas obras, ficou impressionado com os dons místicos e a poderosa inteligência da abadessa, abrindo uma comissão para investigar a sanidade e as visões místicas da monja. Depois de várias entrevistas, a comissão considerou a monja sã e tempos depois de sua morte, ela foi beatificada.<br />Quem em sã consciência ouvir as belíssimas músicas de monja alemã, voltará perfeitamente aos tempos dos cruzados e das grandes catedrais góticas, um retrato perfeito do auge do misticismo medieval. Ela escreveu cerca de quase cem peças musicais em toda sua vida para uso de convento, além de um oratório chamado Ordo Virtutem, que fala de um dialogo das freiras com Deus. A primeira canção aqui em link se chama <em><strong>“O Jerusalém”</strong></em>, que se inicia nas seguintes palavras: <em><strong>O Jerusalém, Áurea Civitas, Ornata Regis Púrpura!(Ó Jerusalém, Cidade de Ouro, Ornada Rainha Púrpura) </strong></em>e é um clamor de devoção à Terra Santa. A segunda peça, a titulo de demonstração, se chama <em><strong>“O Felix Apparicio” (Ó Feliz aparição)</strong></em>, canto místico, que fala da aparição de Deus aos devotos. Há a peça "O Beatissime Rupert", que implica referências à cidade da autora. E a outra peças são instrumentais, no uso de rabecas medievais. </div><div align="justify"></div><div align="justify"><blockquote></blockquote><strong>Hildegard Von Bingen (1098 - + 1179)</strong></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10051">1.O Jerusalem, Aurea Civitas, Ornata Regis Purpura!</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10053">2.O Felix Apparicio!</a></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10054">3.OBeatissime Rupert</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10055">4.Peça instrumental</a></div><div align="justify"><a href="http://www.twango.com/media/condeloppeux.public/condeloppeux.10052">5.Peça instrumental</a></div><div align="justify"></div><div align="justify"><a href="http://download-v5.streamload.com/J1oyCu-3~Umil~ndg5~UnUt~cJcJLiwMIkri/condeloppeux/FileManager/bingen04.mp3?action=save"></a></div>Conde Loppeux de la Villanuevahttp://www.blogger.com/profile/03123027651841021079noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-38583270.post-1168728232393198922007-01-13T14:36:00.000-08:002007-01-14T08:56:13.470-08:00O Oráculo Musical: o universo da música antiga!<div align="justify"><a href="http://photos1.blogger.com/x/blogger/1018/4292/1600/679490/musicaantiga.jpg"><img style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="http://photos1.blogger.com/x/blogger/1018/4292/320/773869/musicaantiga.jpg" border="0" /></a><br />Este blog foi criado para divulgar a música clássica, em particular, a música antiga. O termo <em><strong>"música antiga"</strong></em> é usado para denominar a tradição musical, que vai da Idade Média até o século XVIII. Muita injustiça se cometeu ao ignorar o brilhante repertório musical consagrado nessas épocas, já que a partir do romantismo, tal patrimônio foi esquecido, redescoberto muito tempo depois, em sua maioria, no século XX. Aliás, que dirá então de instrumentos de época, como viola da gamba, cravo, vihuela, violone, viola de braccio, cromorne, viola da roda, alaúde e muitos outros, ignorados pelo público? E os grandes mestres, como Machaut, Josquin de Près, Monteverdi, Corelli, Biber, Tomás de Victória, e mesmo os músicos anônimos, de partituras sem nome, que escreviam músicas para os entretenimentos da corte? Lembremos que Haendel e Bach, os mais famosos mestres do barroco alemão só foram desenterrados depois de algum tempo. Isso porque, muitas de suas obras, readaptadas ao piano e aos instrumentos modernos, ficavam descaracterizadas, sem aquela característica barroca típica que dava um caráter especial às suas obras. As partituras do mestre Bach estavam sendo usadas como papel de merenda de alunos de colégio, enquanto Haendel descansava em berço esplêndido, na Abadia de Westminter. </div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify">Muita gente ficou impressionada com o título deste site: o Oráculo! Tal nome dá uma idéia de paganismo, de cabala. Todavia, o termo combina perfeitamente com as razões deste blog, precisamente porque encara a música como uma abertura a outras dimensões. Os gregos concebiam o oráculo como um intermezzo entre os homens e os deuses. Lembremos que a música é a arte das musas, das deusas e das mulheres que inspiravam a poesia dos sons. Euterpe, deusa da música, Polínmia, deusa dos hinos, e Terpsicore, deusa de dança, estão em nossos corações, tal como Santa Cecília com sua harpa. Salomão dizia que <em><strong>"vinus et musica laentificant corde". (Vinho e música alegram o coração).</strong></em> </div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />Há um outro aspecto da música, que é desprezada pela maioria das pessoas que a ouvem: <em><strong>ela nos abre portas para outros mundos, outras realidades.</strong></em> Os medievais consideram a música como uma arte, dentro do Quadrivium, porque a música representava a harmonia e a contemplação através dos sons. Daí a magnitude dos corais, das vozes que se misturavam ao ambiente das catedrais, parecendo vir dos céus e dos anjos. Quem ouvir as peças que serão publicadas aqui, viajará pelas épocas através dos sons e conceberá que a música é um palco que reproduz o nosso passado. A temática deste site é misturar música, história e figuras, aproximando o navegante virtual para mares nunca dantes navegados, numa linguagem comum da música e da história. Enfim, este site vem fazer a diferença, mostrando um repertório desconhecido e valioso, a fim de divulgar a boa música. </div>Conde Loppeux de la Villanuevahttp://www.blogger.com/profile/03123027651841021079noreply@blogger.com2