
Portugal do século XV, na política, foi uma das mais controversas. O Mestre de Avis preservou a monarquia, ao expulsar os partidários portugueses e castelhanos da rainha Leonor Teles, derrotando-os no campo de batalha. De fato, a derrota da nobreza feudal portuguesa e castelhana e a união da monarquia com os burgueses, plebeus e pequenos nobres nacionalistas de Lisboa, incrementaram o processo de centralização monárquica de Portugal. A estabilidade do reino português foi consagrada, na medida que uma boa parte do séqüito da nobreza era ligada na pessoa do rei. O Mestre de Avis, ao casar-se com Filipa de Lancaster, em 1387, incrementou uma aliança com a Inglaterra, tirando Portugal do isolamento político. No entanto, alguma ameaça pairava sobre o trono lusitano, quando o infante Dom Dinis, filho do rei Pedro e Inês de Castro, declara-se rei e, com o apoio de Castela invade Portugal, no ano de 1398. No entanto, em Beira, o Condestável Nuno Álvares derrota as tropas de Dom Dinis e a dinastia de Avis, mais uma vez, é salva. Em 1402, Portugal e Espanha assumem a trégua e os partidários portugueses de Castela são perdoados, e, no ano de 1411, assinam a paz, com a devolução dos bens confiscados dos portugueses recalcitrantes.

O Rei João I faleceu em 1433 e foi substituído pelo seu filho Dom Duarte. Dizem que o batismo de seu nome foi em homenagem a seu bisavô, o rei Eduardo III da Inglaterra, já que era filho da rainha inglesa Filipa de Lancaster, neta do rei inglês. Em seu curto reinado, os portugueses conseguiram ultrapassar o Cabo Bojador, abrindo espaço para o domínio da costa oeste da África. Um evento que manchou a reputação do infante Dom Henrique foi quando idealizou o ataque a Tanger, em 1437. No malogro da batalha, os portugueses tiveram muitas baixas e a cidade não foi tomada. Para piorar, o príncipe caçula Dom Fernando, irmão do rei e de Henrique, foi capturado pelos mouros. O rei do Marrocos exigiu a devolução de Ceuta, em troca do resgate do príncipe, mas o próprio Dom Fernando se recusou e morreu no cativeiro. Pela sua abnegação, foi então chamado de “infante santo”. Um ano depois, Dom Duarte morreu, vitimado pela peste.
A morte do rei causou uma situação delicada em Portugal. O príncipe herdeiro, Afonso, ainda não tinha idade para governar e Dom Duarte deixou em testamento, os poderes de regência à rainha, dona Leonor de Aragão. As cortes, receosas do governo de uma estrangeira e espanhola, e sempre temerosas da ameaça de Castela, recusam o testamento real, exilam a rainha para a Espanha e declaram o tio do monarca, Dom Pedro, Duque de Coimbra, como regente. O duque mede esforços para centralizar o poder na figura do rei e se depara com seu rival e meio-irmão, Dom Afonso, que disputa as atenções do Rei-menino. Na prática, o Duque de Bragança representava a reação feudal contra o centralismo monárquico encabeçado pelo Duque de Coimbra. Astuciosamente, aos poucos, os Braganças conquistam a apreciação do rei. A velha aristocracia portuguesa, ressentida com o fortalecimento da monarquia de Avis, e potencial aliada da monarquia castelhana, acabava por encontrar brechas para enfraquecê-la.
Em 1444, os portugueses iniciam um dos empreendimentos dos mais odiosos desde então: na cidade de Lagos, em Algarve, abrem o comércio de escravos negros na África. Em vistas a concorrer com o mercado árabe de escravos, em vigor ao norte da África desde o século VIII, compram escravos das tribos africanas e as revendem ao comércio europeu (particular, nas Ilhas de Açores e na Itália) e do Mediterrâneo. Posteriormente, com a descoberta e colonização da América, o mercado de escravos negros se expande para o Novo Mundo, tornando-se uma das atividades mais lucrativas da Idade Moderna. Por todo o litoral africano, são construídas feitorias portuguesas alinhadas com os reinos negros do Congo, Guiné, Moçambique e outras nações européias, como Inglaterra e Holanda, entram na disputa da mão de obra negra.
Inicialmente os portugueses capturavam escravos no litoral, através do puro despojo de guerra. Entretanto, viam que era mais lucrativo fazer alianças com as populações nativas, que já praticavam o escravismo com os árabes. Até então a moeda usada era o ouro da Guiné, com que os portugueses trocavam os cravos com os aliados africanos. Posteriormente, o tabaco também foi usado como moeda de troca até o século XIX.

Ao espalhar notícias falsas de uma suposta revolta contra o rei, este declarou o Duque de Coimbra um rebelde traidor. Pressionado pelas cortes, o rei obriga ao infante regente para que deponha às armas e suas tropas leais. O regente duque se recusa e o rei, furioso, manda a própria esposa falar com o pai, para que ele escolhesse sua pena de traição: a morte, a prisão perpétua ou o desterro. A rainha Isabel de Coimbra, aos prantos, aconselhara ao pai para que ele fosse exilado para a Inglaterra ou Hungria, onde tinha parentes e amigos. O Duque de Coimbra se recusara e armou suas tropas, marchando para Lisboa.



Há de se entender que o conceito de “nacionalidade” e de “Estado” ainda eram embrionários. A nobreza européia não nutria vínculos nacionais para com seus povos, mas tão somente vínculos familiares e dinásticos para com seus pares. Isso porque cada território de um senhor feudal possuía uma lei própria em que poderia reger sua cidade ou vila, e a relação de suserania e vassalagem, que consignava deveres mútuos entre a coroa e a aristocracia, implicava limitações ao poder do reino. A dúbia lealdade dos nobres portugueses com a Coroa tinha a ver com a idéia de que a influência castelhana enfraqueceria a monarquia portuguesa, e isso daria plenas forças para que a aristocracia controlasse o rei. Daí a entender que a “alta traição” da nobreza portuguesa não estava ligado a um conceito nacional e sim na quebra de lealdade na figura do rei. Se havia uma chamada “razão de Estado”, um termo impróprio na Idade Média, era na pessoa exclusiva do rei. Sabia-o bem Dom João II que não poderia confiar nos seus pares aristocráticos. E a tendência para enfraquecê-los, visava simplesmente limitar a ação política deles.
O rei, através de seus espiões, descobre uma correspondência secreta entre Dom Fernando, Duque de Bragança e os Reis Católicos Isabel e Fernando, visando conspirar contra seu reino. Nas cartas, o duque declarava-se hostil à política real e chamava-a de “tirana”, e suas opiniões, conhecidas pelos inimigos castelhanos, foram intoleráveis a Dom João II. Isso porque se falava de rumores de uma suposta invasão contra o reino de Portugal. Em 1483, Dom Fernando foi preso por traição, julgado e decapitado em praça pública na cidade de Évora. A família de Bragança foi banida de seus títulos, suas terras foram confiscadas e anexadas à propriedade da Coroa e o herdeiro do ducado, Dom Jaime, ainda criança, foi exilado pra Castela.
Porém, não foi a única conspiração. O homem mais poderoso de Portugal, depois do Duque de Bragança, era Dom Diogo, Duque de Viseu, primo e cunhado do rei, beneficiário do título ducal de Viseu, pelo infante Dom Henrique, seu tio. Desgostoso com a política real, o duque idealizou uma conspiração para assassinar Dom João. Numa audiência no palácio, o Dom Diogo é chamado à presença do monarca e quando aparece, é morto a punhaladas pelo próprio rei. Muitos outros conspiradores são impiedosamente executados, como o bispo de Évora, que é encontrado morto na prisão, envenenado.

No âmbito externo, os portugueses conseguem explorar toda a costa ocidental da África e constroem uma formidável fortaleza militar na Guiné, São Jorge de Mina, em 1482, garantindo as fontes primárias de ouro na região e drenando o comércio português. Comenta-se que para impressionar os nativos, o rei mandou uma pequena tropa de portugueses bem vestidos e armados até os dentes, reluzindo em armaduras, para impor temor e respeito a quem os visse. Na verdade, as minas africanas de ouro abasteceram a Europa de moedas de ouro, já que Portugal comprava roupas, cavalos, tecidos, latões e chumbo da Inglaterra, Irlanda, Flandes e Alemanha com moedas da Guiné. Os portugueses consumiam trigo do Marrocos e o reexportavam para toda o continente europeu, junto com especiarias, marfim, pimenta malagueta (vinda da África), metais preciosos e escravos. A afluência de ouro por intermédio de Portugal foi tão marcante, que séculos depois, alguns tipos de moedas que circulavam na Europa Setentrional eram chamados de “portugaleses”, em alusão às moedas vindas da Casa de Mina, centro comercial onde eram fiscalizadas as mercadorias vindas da África.
O rei, obcecado pelos mitos em torno do continente africano, em particular, da lenda de Preste João, monitorava de perto, as ações e atividades econômicas e militares de perto na África. Preste João era um mitológico príncipe cristão, que provavelmente vivia na Etiópia e era narrada sua existência por mercadores árabes, judeus e mesmo europeus. Uma lenda antiqüíssima, já que a história era ouvida na Europa, desde o século XII. A sua primeira menção foi em 1145, quando um bispo do Líbano relatava a descrição de um reino cristão para lá da "Pérsia e da Armênia", cujo governante era um rei-sacerdote, descendente dos reis magos. Ele se chamava "João, o presbítero", e na linguagem franca da época, foi batizado, "père", ou pai. Daí a corruptela portuguesa do nome "preste", que deu fama ao estranho monarca. A lenda contagiou o imaginário europeu, porque era relativamente comum, antes da expansão árabe, comunidades cristãs coptas isoladas ao norte da África. O reino da Abíssinia era cristão, e, embora sofresse as investidas dos islâmicos, a sua fé original foi preservada. Em 1490, Dom João II mandou enviar dois emissários, Pero de Covilhã e Afonso de Paiva, para descobrir o suposto reino. Os leais espiões do rei cavalgam por terras cristãs européias, até partirem ao norte da África. Passam por Alexandria, no Egito e, disfarçados de mouros, chegam ao Cairo. Encantados com a rico comércio da cidade islâmica, compram camelos, cruzam toda a Península Arábica e chegam até a Meca. Os dois cristãos romanos, numa cena cômica, fingem prestar reverência à cidade sagrada muçulmana, para preservar a farsa. Eles se separam, e Covilhã pega o primeiro navio para as Índias, enquanto Afonso de Paiva vai para Abissínia. Planejam o reencontro no Cairo, para depois voltar pra casa. Quando Covilhã, depois de ter viajado para as Indias, volta para o Egito, em busca do amigo, descobre, por intermédio de um judeu português, o rabino José de Lamego, que Afonso de Paiva estava morto, vítima de uma peste. Covilhã faz um relatório apurado sobre as Índias para o rei e o envia, por intermédio do judeu Lamego, que volta a Portugal. Anos depois, Vasco da Gama utilizaria as descrições de Covilhã para a procura de Preste João.




(Dom Manuel e o caminho das Índias - 1495 - 1498).
Quando o navegador Cristóvão Colombo chegou às Américas, em 1492, este evento estarreceu os portugueses. Pela primeira vez, o reino de Portugal se viu ameaçado por uma potência intrusa em seus interesses marítimos. Se Castela era uma ameaça por terras, agora virou por mar. Os Reis Católicos espanhóis poderiam colocar tudo a perder quase um século de descobrimentos marítimos portugueses, já que eles competiam nas rotas para as Índias e, na prática, acabaram descobrindo um novo continente. Na verdade, os portugueses viram de perto a história, quando o próprio Colombo já havia se abrigado em Açores e acabou aportando seu navio em Lisboa, em 4 de março de 1493. Sua caravela “Niña” ameaçava afundar, avariada por uma tempestade violenta no oceano. Cristovão Colombo já era conhecido da Corte lusitana, quando ofereceu seus serviços ao rei Dom João II, propondo encontrar um caminho para as Índias, pelo lado do poente, a oeste do Atlântico. Colombo seguia o pensamento de um astrônomo italiano chamado Toscanelli, que em 1474, escreveu uma carta ao rei Dom João, afirmando que a rota das Índias poderia ser encontrada a oeste, diminuindo o decurso longo da costa africana. Porém, os judeus sábios da corte, tal como Abraham Zacuto, tinham rechaçado a idéia por soar quimérica e errada. Como o rei português não fez acordo com o navegador, ele acabou caindo nas graças da rainha espanhola Isabel a Católica, que financiou o projeto de conquistar a rota das Índias pelo oeste.
Na praia do Restelo, Colombo foi abordado por uma nau portuguesa, na pessoa do capitão Bartolomeu Dias, o mesmo que tinha chegado ao Cabo da Boa Esperança, e foi obrigado a descer de seu navio. Foi detido pelos portugueses e mandado direto ao rei. Colombo temeu por sua vida, pois sabia que o “Príncipe Perfeito” Dom João II não costumava ser piedoso com aqueles que divergiam de seus interesses. De fato, muitos cortesãos portugueses aconselharam o próprio rei para que o executasse sumariamente. No entanto, Colombo mostrou o seu salvo-conduto dos reis católicos, e, apresentado ao rei, disse que tinha descoberto o caminho das Índias para o poente. O rei e os cortesãos não acreditaram muito na história e creram que os espanhóis estavam quebrando o Tratado de Toledo, em que Espanha renunciara o direito sobre as terras descobertas pelos lusitanos na África Ocidental. Aliás, o rei disse a Colombo que os Açores eram portugueses e que qualquer investida de uma nau espanhola que passasse por aquela região, ameaçava a soberania do reino. Os portugueses se sentiram ultrajados, porque acreditavam que as terras descobertas por Colombo, poderiam ser de direito, posses do reino de Portugal. Dom João II mandou uma carta de protesto público contra as investidas dos Reis Católicos e os embaixadores dos dois países sentaram para negociar a divisão do mundo. Colombo foi liberado pelo rei e, aliviado, voltou para Sevilha, dando as boas novas aos reis da Espanha. Havia descoberto a América! Porém, Colombo acreditava ter chegado às Índias e deu essa notícia aos seus monarcas benfeitores. A Bula Inter Coetera não agradava aos portugueses, uma vez que dava como suspeita, as influências dos reis católicos sobre o papa espanhol Rodrigo Bórgia, ou Alexandre VI. De fato, a diplomacia portuguesa protestou contra a bula papal, ao afirmar a idéia de que os portugueses só herdariam águas na parte oeste. Muito se discute o grau de conhecimento dos portugueses sobre a existência da América. Alguns historiadores se convencem de que as exigências de Portugal contra a Espanha se deviam ao fato, bastante provável, de que os lusitanos sabiam da existência das terras a oeste do Atlântico, que pudessem ser exploradas em favor dos portugueses. Assinaram o Tratado de Tordesilhas e, no final, pacificaram as relações diplomáticas.
Todavia, Portugal estava numa situação embaraçosa. Precisava chegar o quanto antes às Índias, para resguardar o monopólio comercial sobre o oriente. A nação portuguesa já possuía tecnologia suficiente para criar uma nova rota comercial, já que tinha angariado influência geopolítica sobre toda costa da África Ocidental e chegara ao Cabo da Boa Esperança. Lisboa já era uma das cidades mais ricas da Europa e um dos maiores centros comerciais do mundo. Praticamente uma boa parte do capital europeu, vindo de Flandes, Inglaterra, França, Itália e mesmo Espanha, estava inserido na cidade portuguesa, financiando viagens à África e revendendo suas mercadorias para o resto do continente. Em particular, os banqueiros italianos de Florença, de Pisa e mesmo de Gênova, excluídos do mercado mediterrâneo, monopolizado por Veneza, viam no financiamento das rotas para as Índias, um grande negócio, capaz de derrotar suas rivais.
Porém, a coroa estava endividada e quando Dom Manuel declarou que reinvestiria no intento de buscar as rotas das Índias, irritou uma boa parte da nobreza portuguesa e das cortes, que não acreditavam no projeto. Todavia, Dom Manuel amenizou os ânimos dos nobres, ao escolher um fidalgo de alta linhagem para liderar a frota das Índias. Esse homem era Vasco da Gama.



Porém, a coroa estava endividada e quando Dom Manuel declarou que reinvestiria no intento de buscar as rotas das Índias, irritou uma boa parte da nobreza portuguesa e das cortes, que não acreditavam no projeto. Todavia, Dom Manuel amenizou os ânimos dos nobres, ao escolher um fidalgo de alta linhagem para liderar a frota das Índias. Esse homem era Vasco da Gama.
01.Vasco da Gama – Enfim, Portugal chega nas Índias. . .






Ofendido, o Samorim manda deter Vasco da Gama. O capitão, despitando a guarda indiana, orienta um marinheiro a avisar a seu irmão, que volte para Portugal e avise ao rei, da hostilidade do príncipe de Calicute. O marujo consegue fugir dos guardas e ir para a praia, até chegar a nau São Rafael. Paulo da Gama se recusar a ir e ameaça destruir Calicute pelos canhões e bombardas, se Vasco da Gama e sua tripulação não for solta. O Samorim, pressionado, acata a decisão do lusitano, enquanto a mourama, enfurecida, ameaça matar os portugueses na praia. Paulo da Gama chega com os comerciantes árabes e tenta negociar com eles, trocando tecidos e outras mercadorias por especiarias, acalmando os seus ânimos, por enquanto.
Em 24 de maio, o Samorim concede aos portugueses, o direito de vender suas mercadorias, enquanto são abertamente hostilizados pelos mouros e hindus da cidade. Os portugueses estão numa situação de vulnerabilidade. Quase três meses depois, em 19 de agosto de 1498, Vasco da Gama detém vários indivíduos ligados ao Samorim, como reféns, para negociar um acordo de comércio e a garantia da vida dos portugueses. O príncipe indiano se recusa a negociar e troca os lusitanos da terra, pelos reféns do navio de Vasco da Gama. Em 29 de agosto, a frota portuguesa abandona Calicute, sem cumprir o acordo de comércio entre as partes. Passam pela Ilha de Angediva, em Goa, e na data do dia 25 de setembro de 1498, um homem se apresenta, infiltrando-se na nau São Gabriel. Falando o dialeto de Veneza, dizia-se árabe, porém, cristão, e que servia um poderoso senhor com um grande exército, pronto a apoiar os portugueses. À primeira vista, Vasco acreditou na história, contudo, desconfiado, pediu para averiguar a informação e descobriu que era uma armadilha. Capturaram o pobre sujeito e o torturaram, com açoites e pingos de óleo fervente, para revelar a trama. Descobriu-se que ele era judeu convertido ao islamismo, e ele acabou negando qualquer trama contra os portugueses. Pelo contrário, declarava estar feliz em ver aqueles “francos”, ou melhor, aqueles europeus (os francos se confundiam no imaginário oriental com os cruzados) por aquelas plagas. Os portugueses não creram na história e o homem foi levado na viagem, para Portugal.
Como ele era um visivelmente inteligente e culto, acabou por conquistar as simpatias do capitão da frota, o próprio Vasco da Gama. Esse homem, quando chegou a Portugal, foi batizado no catolicismo, com o sobrenome de seu protetor, e virou cristão-novo, abandonando formalmente o judaísmo e o islamismo. Em homenagem aos reis magos, foi chamado Gaspar da Gama. Não se sabe ao certo onde ele nasceu. Supõe-se apenas que era eslavo, provavelmente nascido na Polônia ou na Bósnia, no ano de 1440, e era um arquétipo do verdadeiro judeu errante, praticante de suas tradições religiosas, e comerciante nato. Quando era ainda menino, foi viver em Alexandria, no Egito e conheceu vários lugares da Europa e da Ásia, em particular quase todos os entrepostos comerciais do mundo. Por volta de 1470, viajou pela Península Arábica e chegou à Índia, onde se converteu ao islamismo. Ao chegar a Portugal, virou presença marcante na corte portuguesa, quando detalhou ao rei Dom Manuel, o funcionamento e as rotas dos entrepostos comerciais árabes na Índia. Outra qualidade havia em Gaspar da Gama: a sólida cultura lingüística, causada por anos de viagem e conhecimentos dos mais variados povos. Ele dominava o árabe e o hindu e provavelmente sabia falar várias línguas africanas e européias. Poucos anos depois, ele se tornaria o “língua”, ou melhor, o tradutor da esquadra de Pedro Álvares Cabral.
Na mesma ilha de Angediva, os portugueses sentem dificuldades de zarpar, por causa da calmaria dos ventos, que não impulsionavam as velas das naves. Finalmente, no dia 5 de outubro, conseguem partir de volta para suas casas. Chegam de novo a Melinde, e a nave São Rafael, demasiado avariada, é abandonada e queimada, para que os árabes não tenham acesso às tecnologias arquitetônicas dos navios portugueses. Conseguem dobrar o Cabo da Boa Esperança e chegam na Guiné. Paulo da Gama, irmão do capitão, está muito doente, e, enquanto a caravela Bérrio, comandada por Nicolau Coelho, volta pra Lisboa, a nau São Gabriel ruma para Cabo Verde. Vasco da Gama entrega o comando da nave a João Dias, enquanto leva o irmão enfermo para o Açores, onde Paulo acaba por falecer. Volta enlutado, para Lisboa, em agosto de 1499 e foi recebido com grandes honras pelo rei. Se antes era um marginal da nobreza de sua família, Vasco acabou sendo elevado como “dom”, além de ganhar o título da fidalguia de conde de Vidigueira e Almirante do Mar das Índias. Mais de dois terços da tripulação da Vasco da Gama morreu na viagem e só 55 pessoas voltaram para Portugal. Se a viagem foi dispendiosa, cara e pouco compensatória, uma vez que os portugueses não conseguiram fincar feitorias comerciais nas Índias, contudo, Portugal conseguiu uma rota valiosa para o mar, a ponto de superar seus rivais europeus e árabes. As Índias, depois de quase um século de tentativas, estava ao alcance dos portugueses.
(Cancioneiro musical de Belém)

(Cancioneiro de Belém - Século XVI)
5 comments:
Gostaria de poder salvar essa músicas para mostrar aos meus alunos nas aulas de literatura portuguesa, principalmente nas aulas referentes ao trovadorismo. Há como fazer isso, por favor?
Caro Zuza, vc pode me passar o email que eu mando pra vc, os mp3 das músicas. Abraços cordiais!
Amigo Conde, meu e-mail é isaias.zuza@gmail.com. Esperarei o envio das músicas. Meus alunos vão gostar de aulas com músicas. Muito obrigado pela atenção.
por favor vc pode mandar o mp3 das musicas do cancioneiro de belem pra mim tb...
meu email:
jamesd.hunter@gmail.com
obrigado
Por favor,
xlynz@ymail.com
Estarei à espera. Obrigado.
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