Saturday, January 13, 2007

Hildegard Von bingen: a mística alemã e a música dos céus!


Estamos na Idade Média, mais precisamente no século XII. A Europa está em guerra contra os mouros. O Reino de Jerusalém, conquistado com muito sangue pelos francos, e os cristãos da Península Ibérica resistem a combates intensos contra os infiéis islâmicos. A França exporta cruzados para todas as partes do mundo, na luta pela defesa da Cristandade, e reis, duques e condes se armam para defender os reinos cristãos de “Outremer”. E a cultura européia, depois de épocas difíceis de guerras e atribulações, floresce nas abadias e nas cidades, em um novo renascimento intelectual e comercial.
Nada mais errado do que afirmar que a Idade Média é a "Idade das Trevas". Vários "renascimentos" são observados em toda sua trajetória. A primeira delas poderia ser chamada o "Renascimento Carolíngio", quando Carlos Magno criou mosteiros e investiu nas letras, artes e na educação formal, com o desenvolvimento das "Artes Liberais", Trivium e Quadrivium ( a música era uma delas). Sabe-se que as artes liberais intencionavam condensar todo o conhecimento antigo dentro dos moldes do ensino cristão e foi desenvolvido, em parte, pelo bispo Isidoro de Sevilla, no século VIII D.C. Se analisarmos pelo ângulo dos desenvolvimentos notáveis do mundo medieval, a Idade Média é o mundo dos renascimentos!
A segunda "renascença" medieval ocorre no século XII. Cidades renascem das cinzas, depois de séculos de decadência, rotas comerciais são descobertas com as cruzadas e novas técnicas agrícolas são desenvolvidas. Na abadia de São Vitor, Hugo, grande teólogo, destaca-se no ensino de seus alunos e de sua filosofia de educação, a Didascálicon. Na verdade, a obra do Didascálicon é inspirada nas Sete Artes Liberais e desenvolve com maestria, um verdadeiro tratado de educação medieval. São Bernard de Clarvaux é um misto de teólogo e de pregador cruzado. E na abadia de Rupertsberg, na Renânia, uma excêntrica monja alemã nutria a fama pelas extraordinárias capacidades de intelecto. Era uma bela mulher de origem nobre e profunda força mística, além de ser incrivelmente intelectualizada e escritora de livros de medicina e teologia. Ademais, comenta-se que essa mulher escreveu os primeiros livros de medicina e de botânica do mundo europeu medieval. Se no mundo medieval era raro alguém ser alfabetizado, que dirá então das mulheres? Todavia, a história da mulher era envolvida em mistério: ela tinha visões divinas, que a inspiravam a escrever seus livros de filosofia. E tendo um completo domínio de ervas, medicina e mesmo filosofia, a monja ainda dominava uma outra arte, incomum no mundo feminino medieval: a música!

Hildegard von Bingen, nascida no ano de 1098 (o mesmo ano da tomada de Jerusalém pelos francos), e falecida no ano de 1179, era uma mulher fora de seu tempo. Tal fama impressionou o grande Bernard de Clarvaux, que trocava correspondências com ela. Audaciosa, a própria abadessa pregava os valores cristãos ao povo das ruas, desafiando, assim, os votos de clausura. O papa, que leu suas obras, ficou impressionado com os dons místicos e a poderosa inteligência da abadessa, abrindo uma comissão para investigar a sanidade e as visões místicas da monja. Depois de várias entrevistas, a comissão considerou a monja sã e tempos depois de sua morte, ela foi beatificada.
Quem em sã consciência ouvir as belíssimas músicas de monja alemã, voltará perfeitamente aos tempos dos cruzados e das grandes catedrais góticas, um retrato perfeito do auge do misticismo medieval. Ela escreveu cerca de quase cem peças musicais em toda sua vida para uso de convento, além de um oratório chamado Ordo Virtutem, que fala de um dialogo das freiras com Deus. A primeira canção aqui em link se chama “O Jerusalém”, que se inicia nas seguintes palavras: O Jerusalém, Áurea Civitas, Ornata Regis Púrpura!(Ó Jerusalém, Cidade de Ouro, Ornada Rainha Púrpura) e é um clamor de devoção à Terra Santa. A segunda peça, a titulo de demonstração, se chama “O Felix Apparicio” (Ó Feliz aparição), canto místico, que fala da aparição de Deus aos devotos. Há a peça "O Beatissime Rupert", que implica referências à cidade da autora. E a outra peças são instrumentais, no uso de rabecas medievais.
Hildegard Von Bingen (1098 - + 1179)

3 comments:

Anonymous said...

pow muito bom o seu trabalho parabens

Anonymous said...

Excelente os trabalhos de Hildegarda de Bingen. Parabéns pela iniciativa de divulgar a boa música.

Júlio Cardoso said...

Cavaleiro Conde a serviço da cultura erudita. Muito bom.

Parabéns pela idéia