Tuesday, January 16, 2007

VOX IBERICA II: El Arte del Rey Afonso X, el Sabio.


O Rei Afonso X, el Sabio, de Castela, nascido em 1221 e falecido em 1284, encarnava a sabedoria da Península Ibérica no período medieval: o casamento feliz entre a cultura árabe, judaica e cristã. Afonso era um homem erudito: dominava o latim, o árabe, o castelhano e, provavelmente, o hebreu. Era cercado de poetas espanhóis e provençais, sábios judeus e árabes, e qualquer um que pudesse servir culturalmente à monarquia castelhana. Fundou a Universidade de Múrcia, que englobava as três religiões; o Studio Generale, criado em Sevilha, ensinava latim e árabe. E patrocinou historiadores da península, usando pela primeira vez, as fontes árabes, como objeto de estudo. Tal projeto fez nascer a “Crônica Geral da Espanha”, literatura escrita em vernáculo arcaico. Alimentou o desenvolvimento cientifico e a astrologia, com a tradução das “Tablas Toledadas”, escritas em 1080, por Azarquiel, astronômo árabe, e o “Almagesto” (no árabe, O Maior), de Cláudio Ptolomeu, que foram introduzidos aos conhecimentos universitários europeus e engendrou, futuramente, a tecnologia náutica portuguesa e espanhola do século XV. Foi pelo contato direto com as obras de Ptolomeu, que Copérnico começou a questionar a teoria geocêntrica, ou seja, a de que a Terra era o centro do universo e os europeus revolucionaram a física e a astronomia. Aliás, no reinado de Afonso, coletâneas de astronomia grega, muçulmana e judaica foram traduzidas para o castelhano e latim, além de conhecimentos de cartografia, aritmética, botânica, filosofia e teologia. A Espanha cristã tornou-se o portal do que havia de melhor da islâmica e judaica para o mundo europeu.

É de Dom Afonso X, a compilação de um dos mais completos tratados de direito medieval: Las Siete Partidas, um estupendo código jurídico, inspirado no direito canônico, no Corpus Júris Civilis e no direito comum costumeiro dos reinos espanhóis. A obra foi composta em 1256 e somente terminada em 1265 e foi trabalhada pelos mais eminentes juristas da Espanha, sobre a direção do próprio rei. “Las Siete Partidas” são um verdadeiro monumento jurídico e constitucional primitivo, em que se discute as prerrogativas dos poderes do reino, as suas estruturas políticas, as regras concernentes ao direito civil, penal, comercial, dentro outros. Sua influência na Espanha e em Portugal fora sentida por séculos, sendo uma obra-prima similar ao próprio Corpus Júris Civilis de Justiniano, imperador de Bizâncio. A intenção de Afonso X era unir os reinos cristãos espanhóis em torno de seu reinado, através de uma centralização política que acabasse com as divergências políticas internas dos nobres. Ele queria encarnar a figura do império romano, na tentativa de criar um sistema jurídico unificado.

Como político, Afonso teve um reino conturbado. Seu sucesso foi tomar Cadiz e Cartagena para o reino de Castela e conseguir impor o reconhecimento político das anexações pelos árabes. No entanto, o seu propósito de unificação política foi obstado pela resistência política dos nobres, que se rebelaram contra os propósitos do rei e causaram a fragmentação política do reino, somente pacificado a partir do século XV.

Entre tantas qualidades do rei castelhano, uma delas foi marcante e chegou até nós:era compositor e trovador. Afonso X foi responsável por uma das maiores obras-primas do medievalismo espanhol:As Cantigas de Santa Maria.A coletânea de peças compreende canções de vários trovadores, como a do próprio rei, em homenagem e culto a Virgem Maria. São peças cheias de lirismo e ironia, que relatam histórias do Evangelho e de milagres atribuídos à Virgem.

Muitas canções anônimas medievais faziam menções aos milagres da Virgem Maria, outro objeto de devoção do homem ibérico medieval. O culto marianista já era tradição em uma boa parte do cristianismo e se tornou mais forte, a partir do século XII, com as manifestações em louvor a Mãe de Deus, a Theotokós. Na Península Ibéria, o culto marianista ganhou expressões próprias, tornando-se um dos mais profundos símbolos de devoção religiosa do catolicismo medieval espanhol e português. Aliás, a figura da Virgem Maria acabou por se confundir com a idealização da dama palaciana, já que tal como a Virgem Santíssima, a mulher amada era inatingível, pertencente a outro mundo. De fato, este outro mundo era a busca do homem medieval, que se refletia em todos os meandros de sua vida pessoal e social. E a música era uma linguagem próxima de contato com Deus.


(Cantiga de Santa Maria - Afonso X, El Sábio, 1221 - + 1284)


1.Non sofre Santa Maria.

2.A madre de Deus

3.Ben Cam´aos

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