Monday, January 15, 2007

VOX IBERICA I: A música de Santiago de Compostela.


Dizia uma antiga crença medieval que o apóstolo São Tiago foi sepultado em terras espanholas, na Galícia. Séculos depois, em 813, um eremita de nome Pelayo, encontrou uma tumba iluminada como uma estrela e aí teve uma visão, reconhecendo o túmulo do santo. Sobre a sua tumba foi construída a Catedral e a cidade, ambas batizadas de Santiago de Compostela. O termo “Compostela” é um vernáculo do latim e se refere à iluminação do túmulo, vista pelo eremita, que lembrava um campo estrelado, “Campus Stellae”. A cidade se tornou o centro de peregrinação de todo o mundo medieval, concorrendo em peso, com a Terra Santa de Jerusalém e a Cidade de Roma. Tamanha devoção causou esse apóstolo, que ele apareceu em sonhos ao Rei Ramiro de Aragão, afirmando que este ganharia a batalha sob sua proteção e que os islâmicos jamais conquistiram os reinos cristãos da Espanha. Na lendária batalha de Clavijo, em 834, relata-se a aparição do santo que, munido um cavalo e trajando uma armadura, descera dos céus e massacrou a mourama a fio de espada, salvando os cavaleiros cristãos do exército islâmico do emir Abdehan II. Daí a fama do apóstolo São Tiago, chamado “Santiago Mata-moros”, que entrou na consciência medieval como o baluarte da luta dos cristãos contra os mouros da Espanha, a "Reconquista" contra o Islão invasor. Santiago personificava a Espanha cristã, guerreira, devota e cavalheiresca do época medieval.

Santiago de Compostela não somente se tornou um centro de peregrinação, como um centro cultural. Foi a partir dessa cidadela que nasceu a língua portuguesa e espanhola modernas. E foi a partir dos hinos, canções e músicas lendárias dos peregrinos é que surgiu uma longa tradição musical a respeito dos milagres de Santiago Mata-moros. As músicas que serão apresentadas aqui retratam a riqueza musical dos peregrinos medievais que caminhavam estradas e mais estradas para a visitação do Santuário de Santiago. Cantavam os milagres do santo, as suas aparições e de sua história em Clavijo. Há várias origens quanto as músicas que são publicadas aqui: Castela, Leão, Navarra e Galícia, e embora seus lugares sejam conhecidos, os autores são anônimos. Reconhecemos nas peças, instrumentos medievais como saltérios, alaúdes, orgãos, flautas, tambores, rabecas e sinetes. Enfim, quando escutamos tais músicas, lembramos das longas trasladações das cidades medievais, os peregrinos de todas as classes sociais, plebeus, cavaleiros, escudeiros e até reis, que rendiam graças aos santos da Igreja e a Deus, nos lugares santos da Cristandade. E, em particular, São Tiago Maior.

Cantigas de Santiago de Compostela (Seculos XIII e XIV)

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